Do Nova Lima, Higor faz comédia genial com rotinas de Campo Grande e MS: ‘impossível não rir’

Humor ainda não paga os boletos e campo-grandense já chegou a perder emprego por causa da comédia

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Com Velho Barreiro ou não
Com Velho Barreiro ou não

Para fazer as pessoas rirem sem forçar graça, é preciso muito talento. E isso ele tem de sobra, embora afirme o contrário. Higor Alexandre, de 28 anos, é humorista de Campo Grande e vem ganhando seu espaço na comédia local com sacadas regionais que fazem toda a diferença e representam a rotina sul-mato-grossense. 

Tererézeiro nato, ele faz da bebida uma das protagonistas de suas piadas, e, inclusive, já apareceu tomando tereré com a cachaça Velho Barreiro no lugar da água gelada. “Juntei duas paixões que o sul-mato-grossense raiz tem. Acredito que em algum lugar do Estado alguém já tentou combinar, eu só gravei, hehe. Cachaça real mesmo e não desperdicei depois. Quer uma prova? Tenta colocar água em uma garrafa de Velho Barreiro. Eu não consegui”, comenta o campo-grandense.

 
 
 
 
 
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Além do tereré, o polêmico pequi, capivaras, o trânsito, os bairros, e outros assuntos servem como base para apresentações ou vídeos engraçados na internet, mas ele não se apoia e nem se faz refém disso. Nascido e criado no Zé Pereira, Higor se mudou há 4 anos para o Nova Lima, onde fixou residência e construiu sua família: a esposa,Thaís, e o filho Jean Lucas, de 2 anos.

O humor, genial, ainda não supre todas as contas e o dinheiro que entra dos palcos é direcionado. “Eu vivo o humor, mas ele ainda não paga os boletos. Minha renda principal vem do trabalho pela CLT. Já perdi um emprego por conta da comédia, então eu tento separar ao máximo uma coisa da outra. Vídeos e materiais, faço na hora do almoço, depois que o guri [filho] dorme à noite, ou levantando mais cedo. O dinheiro que entra através dos palcos é apenas para cobrir os custos e não mexer no dinheiro do leite do guri”, conta Higor ao MidiaMAIS.

“Comecei em 2018, gravando uns vídeos no meu canal. Na época, eu tentava conciliar o cômico com minhas experiências profissionais, mas logo isso caiu por terra, pois aceitei que minha vontade era fazer as pessoas rirem independente do assunto”, explica o humorista, que apresentou um stand up pela primeira vez em 2019, um open mic (termo utilizado para comediantes iniciantes).

 
 
 
 
 
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Ele revela que sempre foi apaixonado por comédia, mas também travou batalhas pessoais para tomar decisões. “Sempre cedi às pressões da sociedade de que devemos terminar os estudos, fazer faculdade, casar etc… Quando eu entendi que eu tinha que fazer o que me deixa feliz e não o que a sociedade espera, eu já tinha terminado os estudos, feito três faculdades e casado”, comenta.

No sangue?

Crescer em uma família engraçada e absorver comportamentos podem ter despertado no comediante esse dom para o humor – que ele afirma não ter. Os pais contribuíram e o inspiraram, de alguma forma, a querer fazer isso na vida. 

“Não nasci com talento e nem acho que tenho. Um pouco de gatilhos eu aprendi dentro de casa. Meu pai tem um senso de humor impressionante, daquelas pessoas que riem de tudo, e minha mãe sabia disso. Ela sempre teve uma pré-disposição para comédia, absorvia os trejeitos de pessoas da família, então ela imitava pro meu pai, abusando do exagero e acting (estilo de comédia corporal), e eles riam por horas. Eu achava aquilo mágico e queria proporcionar isso para as pessoas. De resto, é puramente estudo e prática, e nem acho que na vida sou um cara engraçadão, mas faço por que me sinto bem”, acrescenta.

Além dos pais, Higor tem várias outras referências. “Não me prendo a algum estilo especifico, mas algumas são José Vasconcellos (não vi em vida e sim durante pesquisas), Jim Carrey, Igor Guimães, Cris Rock, Whidersson Nunes, Thiago Ventura, Rodrigo Marques, Marcus Cirillo etc”, diz.

 
 
 
 
 
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Apesar das inspirações, é a pegada regional que enriquece e destaca o trabalho do comediante, que aproveita muito os temas de Campo Grande e MS, em geral, para fazer piadas e sacadas que envolvem o cotidiano das pessoas. Higor acredita que isso gera identificação. “De certo modo, sim, nossa cultura é muito boa, rica e eu moro aqui. Peguei esse nicho por que quando eu consumia, sentia a necessidade de uma comédia nossa, sobre nós, para nós”, observa.

Criação

Seu processo criativo é como o de qualquer outro humorista. “Trabalho muito com maturação, anoto tudo que sinto que possa virar premissa e deixo lá. Sobre os mais variados tipos de temas e, conforme vou tendo insights sobre determinado assunto, vou acumulando até chegar em um momento que penso ‘Ok, agora eu sento e escrevo’.”, destaca.

Em meio a isso, e com o feeling para as sacadas locais, ele garante que elas não são o “fim”. “Boa parte da minha vida morei no Zé Pereira, e há 4 anos moro no Nova Lima. São bairros popularmente conhecidos e cheios de estereótipos que eu vivo e presencio, então me inspiram sim, mas procuro não ficar usando como base única”, afirma.

 
 
 
 
 
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Ao Jornal Midiamax, Higor conta que, graças a Deus, recebe o apoio de todos da sua família, e agradece principalmente à esposa, que chama de “paixons”. “Ela tem um dos papéis mais fundamentais na minha vida, pois é ela que fica com nosso filho enquanto eu estou nos palcos em busca do meu sonho. Sou eternamente grato, pois não foi uma escolha que ela fez e não tem obrigação de criar filho sozinho, então devo muito a ela”, agradece.

“Meu sonho era poder pagar minhas contas e dar um bom futuro para meu filho com a comédia, mas eu tenho uma paz de espírito muito grande, que, independente da proporção, estou fazendo o que gosto. Se um dia Deus quiser que eu fale para mais gente, será do mesmo jeito: comediante sul-mato-grossensse, com tereré no palco, levando a nossa cultura Brasil afora. Mas, por enquanto, estou bem feliz fazendo duas ou três pessoas esquecerem ‘tudo’ os B.O’s da vida delas, mesmo que por um curto espaço de tempo”, reflete.

Projeto

Atualmente, Higor toca o “Quase Happy Hour”, projeto que leva o stand up comedy para os bares de Campo Grande. As apresentações estão fixas no Vera’s bar, junto com dois excelentes comediantes aqui do Estado Junior Manica (@ojuniormanica) e o Wagner Jean (Corumbá da blink) (@corumbadapopular). 

“Tive essa ideia pois não existia um comedy na cidade, então procurei adquirir toda estrutura mínima para uma apresentação de stando up, desde um palco com caixote de feira à iluminação. Assim, podemos fazer stand up na garagem de casa, se quisermos. Meu foco sempre foi o palco, o stand up. Os vídeos do Instagram são uma tentativa de levar público aos bares para assistirem presencialmente e aumentar os números de seguidores nas redes, já que, hoje em dia, infelizmente, nosso trabalho é julgado por lá. Tem pouco seguidores? É ruim!”, lamenta ele.

 
 
 
 
 
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“Pra mim, não manjo dos vídeos, não levo jeito para ‘digital influencer’. Fico sem graça de falar para um celular, não acho que meu dia seja tão ‘da hora’, para fazer story para 700 seguidores no Instagram, nem ficar postando comida ou pôr do sol. Campo-grandense vê por do sol foda ao vivo, não preciso tirar foto pra eles”, dispara.

“Não gosto de postar vídeos de stand up para preservar o material, para quando a galera ir ver ao vivo ter uma experiencia diferente. Os vídeos, se eu acho ruim, é só não postar, deleta. O palco é outro rolê, o retorno é imediato. Foi ruim? Errou? Dá os pulos, não tem o flash do M.I.B que faz a galera esquecer e tu contar a piada de novo”, compara.

 
 
 
 
 
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Quanto ao público de Campo Grande, Higor considera “a galera bem seletiva”. “Pra te ‘comprar’, de imediato, você já tem que ter uma certa relevância. Tanto que artistas nacionais vêm pra cá e acertam o nome do Estado, a galera vai à loucura, sendo que é só obrigação deles. Já nós, meros comediantes regionais, têm que tirar leite de pedra. Pra galera rir, a piada realmente tem que ser boa”, finaliza.

Higor fará a abertura do show do humorista Marcus Cirillo, no dia 10 de dezembro em Campo Grande, justamente por seu estilo de comédia. O Instagram do humorista campo-grandense é @ohigoralexandre. Por lá, ele faz sucesso com suas sacadas geniais, e o público comenta interagindo: “impossível não rir”. 

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