No bairro Iracy Coelho, uma residência se distingue das demais e causa burburinho entre vizinhos ou por quem quer que passe por lá. O motivo é a decoração: a cada foi pintada inteiramente com tema militar, a partir de um padrão da estampa camuflada – o que logo de cara indica qual é a paixão de seu morador.

Estamos falando de Jaime Lecina, morador da Rua José Ferreira da Cunha, que tem na atual decoração de sua residência a realização de um sonho – diferente da maioria dos garotos de 10 ou 11 anos, que almejam carros de luxo, o adolescente já idealizava morar em um local com as cores do Exército.

Foi na metade deste ano que as contas desafogaram e surgiu a chance de realizar o sonho. Entre dezenas de “nãos” recebidos dos pintores, que acharam o projeto uma loucura, Jaime contou com a ajuda da esposa, Cilene, e das filhas de 16 e 23 anos.

Engana-se quem pensa que a companheira torceu o nariz para nova decoração de casa. Sabendo da paixão de infância, sobrou à Cilene entrar na onda do marido e camuflar as paredes, áreas externas da casa e casinha do cachorro. Duas semanas após muita mistura de tintas, desenhos e suor, a família Lencina fala com orgulho do feito.

“Eu quis colocar na minha casa todo meu amor pelas forças armadas. Sou militar de sangue. Também é uma forma de homenagear a mim e aos demais militares de todo o país. Nenhum profissional quis pintar a casa porque acharam complicado fazer. Gastei R$ 2 mil somente com materiais, mas eu e minhas filhas tornamos esse sonho possível.”

De onde vem essa paixão?

São nas memórias mais remotas da infância que Jaime tenta buscar a reposta para tamanha paixão. A explicação vem desde quando ele ainda dava os primeiros passos: filho de militar, o garoto meio que já nasceu com o amor pelas forças armadas no sangue.

A vontade de seguir carreira militar parecia decolar quando, aos 18 anos, Jaime Lecina entrou no Exército Brasileiro em Ponta Porã, em 1.989. Aproximadamente 4 anos depois, durante uma instrução noturna no curso de formação de sargentos, o jovem encerrou a carreira devido ao rompimento dos tendões.

A partir daquele momento, Jaime foi transferido para a Reserva Militar, mudou para Campo Grande, ficou em tratamento ortopédico e precisou passar por 4 cirurgias. Além das cicatrizes externas, a frustração por não servir ao Exército Brasileiro continuava assombrando seus pensamentos.

Com diversos militares designados aos cargos do mais alto escalão brasileiro nas eleições de 2018, o militar reformado aproveitou o atual cenário político do Brasil e juntou o “útil ao agradável”, decidiu pintar todas as paredes externas e a área de lazer da casa com as cores do Exército Brasileiro. O sonho só foi possível com uma força-tarefa familiar que contou com a participação da esposa, duas filhas e até o cachorro Sansão.