Para maiores de 16 anos, exposição mostra intimidade feminina e propõe debate
Exposição vai até o dia 25 de março
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Exposição vai até o dia 25 de março
Dentro do Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande, a mostra “Maria Não é Mais Virgem” retrata, através da pintura, o universo íntimo feminino de forma bem delicada, embora bastante explícita. Com indicação etária para maiores de 16 anos, a exposição quebra tabu em relação ao corpo da mulher e propõe discussão sobre o papel da arte perante a sociedade.
“A arte tem esse papel de polemizar. É importante aproveitar este tipo de mostra para discutir, olhar, observar o momento da sociedade e refletir o motivo de existir este pudor e o também o motivo de as pessoas estarem tão revoltadas com a arte”, questiona a coordenadora do Centro Cultural, Luciana Creutzer.
Os quadros pintados por Lina da Anunciação trazem desenhos do corpo da mulher, principalmente de partes íntimas e órgãos sexuais sendo tocados. “A experiência sexual é, sem dúvida, um dos elementos que contribuem profundamente na identidade de uma pessoa, pois está integrada na trajetória emocional e, portanto, se funde à persona de cada um. No mundo contemporâneo, em constante renovação, a mulher ainda busca alcançar uma maior segurança em relação à sua própria identidade e sexualidade, com o intuito de aceitar e celebrar o seu corpo, apesar dos tabus ainda existentes”, diz a descrição da mostra.
Mas além do debate, a mostra “Maria Não é Mais Virgem” trouxe a lembrança da exposição Cadafalso, da artista plástica Alessandra Cunha, realizada no Marco (Museu de Arte Contemporânea), de julho a setembro de 2017, na qual deputados estaduais de Mato Grosso do Sul denunciaram as obras alegando apologia à pedofilia.
O caso no Marco ocorreu logo depois de a exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, realizada dentro de uma agência do banco Santander, em Porto Alegre, ter sido cancelada após uma onda de protestos nas redes sociais, alegando que as obras promoviam blasfêmia contra símbolos religiosos e também apologia à zoofilia e pedofilia.
Descaradamente, os parlamentares pegaram carona na polêmica e quiseram render o assunto em Campo Grande – faltando três dias para a exposição acabar e depois de dois meses que ela estava no museu.
“A situação do Marco foi um tiro no pé, porque abriu um espaço para a arte ser discutida. O assunto em pauta nos jornais intrigou as pessoas e as levou a procurar mais as exposições. A censura tenta limitar, mas vivemos na democracia”, pondera Luciana.
Alguns cuidados
Contudo, a experiência valeu como lição. A própria mostra Cadafalso também teve classificação etária, que no início era de 12 anos e após a polêmica passou a ser de 18 anos. Para a exposição “Maria Não é Mais Virgem”, a artista que assina as obras, Lina da Anunciação, tomou alguns cuidados básicos e foi atrás de informações para não deixar brechas.
“A polêmica da época foi bom porque nos fez estudar mais e tomar alguns cuidados. Não há uma regra específica para exposições de artes visuais, por isso ainda é um pouco complicado trabalhar classificação sem algo específico. Então, temos que nos adequar às regras implantadas em outras artes, por exemplo, para termos um respaldo e não deixarmos de produzir arte”, explica a coordenadora do Centro Cultural.
Além da atenção em relação à classificação indicativa, o espaço que recebe a mostra também foi planejado. “Preparamos um lugar ao fundo do Centro Cultural, isolado com tapumes e uma placa avisando sobre a classificação. São cuidados que tomamos para as pessoas não se sentirem ofendidas”, destaca Luciana.
“Arte – Substantivo feminino”
Junto à mostra “Maria Não é Mais Virgem”, o Centro Cultural José Octávio Guizzo também recebe a exposição “Arte – Substantivo Feminino”, da artista Priscila Pessoa. Embora esta não tenha classificação etária e esteja posicionada no primeiro salão do espaço cultural, a abertura permitiu apenas a presença de maiores de 18 anos.
Segundo a curadora da exposição, houve a apresentação de uma transsexual vestida com uma roupa de cirurgia, sentada em um banco e com um tablete no colo, no qual foi transmitida a realização de uma cirurgia de mudança de sexo.
”Restringimos a idade por conta do conteúdo que é visceral e por abordar o assunto sobre transsexuais. Uma criança, por exemplo, pode não ter entendimento, além de as imagens serem fortes. Mas a apresentação foi importante para jogar o diálogo sobre este assunto, a questão de gêneros”, explica Priscila.
Por fim, Priscila explica sobre a diferença entre classificação indicativa e censura. “Funciona igual programação em televisão, não proíbe, apenas alerta que o conteúdo é indicado a partir de tal idade. Quando é classificado para maiores de 18 anos, aí é uma autocensura que o espaço faz. Então o lugar tem que se responsabilizar para não deixar entrar. Indicação não precisa ter alguém vigiando”, pontua.
“Acho que as pessoas têm o direito de se manifestar. A gente vive em uma democracia, em um país livre. E a arte precisa estar dentro do museu. Queremos manter o foco na arte contemporânea e levantar essas questões”, enfatiza a coordenadora do Centro Cultural.
Serviço
As exposições no Centro Cultural José Octávio Guizzo vão até o dia 25 de março. As visitas podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 8h às 22h, aos sábado das 8h às 20h, e domingo das 14h às 19h. O Centro Cultural fica na rua 26 de Agosto, 453. Informações pelo telefone 3317-1795.
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