Na antiga rodoviária, o ‘barbeiro’ é uma mulher e o corte da moda sai por R$ 20

Suzy trabalha em salão que existe há 17 anos

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Suzy trabalha em salão que existe há 17 anos

Pauta boa é aquele que aparece bem na nossa cara e a gente quase não percebe. Como uma que apareceu no Centro Comercial Condomínio Terminal do Oeste – a antiga rodoviária – enquanto esperava o carro do jornal para voltar à redação. A poucos metros do repórter, o ‘tic tic’ das tesouras anunciava um salão de cabeleireiros. Mas, lá dentro quem trabalhava era Suzy Santana, 31 anos. Profissão: barbeira.

Baita surpresa. Num mercado mais que crescente, dominado sobremaneira por homens – encarregados por barbearias cada vez mais sofisticadas – ali estava Suzy, aparentemente muito segura e tranquila num dos locais mais abandonados da cidade, com dezenas de dependentes químicos nas imediações, oferecendo os cortes de cabelo da moda por apenas R$ 20. Isso mesmo, R$ 20 – a pauta e a oportunidade (de dar um trato na juba) bem diante de mim. Liguei para a redação e pedi para segurar o carro, pois tinha surgido matéria, não rolou, mas o veículo chegaria em uns 20 minutos. Era o tempo que eu tinha para fazer o corte.

Próximo passo foi sentar na cadeira de barbeiro. Um pouco de medo bateu, confesso, do barato sair caro. Na pior das hipóteses, só raspar tudo no zero, já fiz isso algumas vezes no verão. Aviso à barbeira que sou jornalista e que dependendo do resultado nossas conversas podem virar uma matéria. Ela sorriu e disse não ter problema, que cortava bem. Perguntou, segurando uma placa enorme, se algum dos cortes exibidos me interessava. Escolhi o primeiro.

Perguntei sobre como era isso de ser barbeira, de cortar cabelo e fazer a barba de homens. Os clientes confiavam? Como e quem era a clientela?

“Eu trabalhava numa autopeças e um amigo me disse para fazer o curso de cabeleireira. Eu fiz, mas acabei me interessando mais pela barbearia. Aprendi a cortar e a fazer barba”, disse Suzy, que atua no ponto da antiga rodoviária há cinco meses, num salão que existe há 17. “Aqui sempre teve público masculino. Como aqui tem muitos hotéis, as pessoas aparecem aqui, tem clientela. Faço uns 10 cortes por dia, pelo menos, vários desses são desse estilo retrô”, afirmou, enquanto passava a máquina para realizar o fade, aquele degradê típico dos cortes undercut que estão super na moda.

Na selfie, Suzy capricha no acabamento com uma tesoura especial (Foto - Guilherme Cavalcante/Midiamax)

 

“O curso ensina o básico, o restante a gente aprende também no Youtube, observando outros cortarem. Hoje em dia tem muita coisa”, conta a barbeira. “A gente quer dar uma incrementada aqui depois, deixar o ambiente mais masculino, até porque é muito difícil aparecer uma mulher para cortar aqui. Sempre é mais homem”, afirma Suzy.

Cara de cliente satisfeito (Foto - Guilherme Cavalcante/Midiamax)Confesso que me tranquilizei quando olhei para o espelho e vi o corte pegar jeito. “Também vamos oferecer uma cervejinha, vender, sabe? O homem, quando vem fazer barba e cortar o cabelo, ele também quer relaxar”.

Ao lado de Suzy, uma senhora observa a conversa. Ela se chama benedita, é cabeleireira há décadas e só na antiga rodoviária está há 17 anos. “Eu fui das que sobrou aqui”, comenta, enquanto um senhor de seus 60 anos pergunta “se tá cortando cabelo”. Benedita acomoda o senhor na cadeira e inicia um corte tradicional. “Mas ela também faz barbearia. Ela tem os clientes dela e eu tenho os meus”, explica Suzy. “Também fa progressiva e cristalização, porque alguns meninos têm cabelos ondulados ou cacheados e pedem química para poder fazer os penteados”, revela.

Percebi que o corte já estava sendo finalizado, quando Suzy pegou uma lâmina de barbear lacrada e ajustou na navalha para fazer o acabamento. Depois, talco para tirar resíduos de cabelo e o espelho. “Você gosta de usar gel?”, perguntou. Aceitei, e enquanto me olhava no espelho, Suzy moldava um penteado rockabilly. É isso: o corte estava incrivelmente bom. “Vai virar matéria sim, gostei demais”, falei, enquanto pagava os R$ 20 do serviço.

“Posso fazer uma foto de vocês duas?”, perguntei, já avistando o carro do jornal chegar. Timing perfeito, corte idem. Habemus matéria!

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