Após 22 anos, ‘oitavão’ se reúne e comemora amizade e 70 anos de professora

Escola Maestro Heitor Villa Lobos, no bairro Parati, foi palco de boas histórias

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Escola Maestro Heitor Villa Lobos, no bairro Parati, foi palco de boas histórias

Os passinhos ao som de Macarena (Los Del Rio), dos  fenômenos teen como Backstreet Boys e Spice Girls ou das ‘lentas’, que serviam para tirar um possível ‘ficante’ para dançar, na voz de Laura Pausini, ainda estão presentes na memória daqueles que viveram intensamente na década de 1990. Nas regiões mais afastadas do centro de Campo Grande rolavam as ‘discotecas’, festas que reuniam geralmente a turma de escola para uma finalidade: dançar. Sem bebidas ou aperitivos, eram sempre realizadas na casa de um amigo ou no próprio colégio. A Maestro Heitor Villa Lobos, no bairro Parati,  serviu de palco para muitas delas.

Foi numa dessas, sob a versão de Estoy Enamorado  com  João Paulo e Daniel, que o jovem padeiro Gederson Carvalho de Melo, aos 17 anos, beijou a estudante Graziany Cristina Gomes Ferreira, de apenas 13 anos, pela primeira vez. “Ela passava todo dia em frente à padaria e eu ficava só olhando. Até que, no dia 8 de março de 1996, na festa da escola nos engraçamos e tudo começou. Foi tudo muito rápido”. E como foi. Depois de um ano nascia ali, além do ponto de partida da nossa história, um grande amor e fruto dessa união: a filha Gabriele. Géd e Grá, como eram conhecidos no ‘pedaço’, se casaram, tornaram empresários, tiveram mais um filho , Nathan, e pelas circunstâncias da vida se afastaram do grupo quando partiram para Aquidauana.

No entanto, amigo é amigo e…  quando se tem um, tem tudo. Na verdade não foi um, mas sim dois: Eduardo Uchoas e Wagner Oliveira. No ano passado, sem querer, os ex-colegas de sala encontraram outros amigos num baile à moda sertaneja. Entre um gole e outro começaram a relembrar os velhos tempos e, então, tiveram a ideia de juntar novamente o oitavão.  Para reforçar a equipe convidaram Gederson  e começaram uma incansável busca pelos remanescentes. A primeira medida foi ir até a escola e pedir a lista de chamadas da turma e posteriormente começaram a ‘caça’. “Fomos atrás de todos os relacionados. Pesquisamos por meio das redes sociais, buscas da internet e pelo famoso boca a boca. Chegamos a um total de 38 pessoas, dessas apenas cinco não conseguimos localizar. Ficamos até surpresos porque achamos quase todos”, relata Uchoas. 

 

Turma da oitava série na escola Maestro Heitor Villa Lobos

O que Eduardo não achava é que, de lá pa cá, se tornaria a pessoa que é hoje. O guri que queria ser agrônomo se tornou pai de dois filhos, um de 14 anos e outro de 10,  e agora, aos 36 anos, cursa Tecnologia em Sistemas para Internet no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul). Ele atribui sua trajetória às aulas do passado, na qual absorveu muitos de seus valores por meio do ensinamentos de seus professores. “Jamais imaginei que seria o que sou hoje porque quando eu era jovem não pensava o quanto aquela fase seria importante para meu futuro. Tínhamos ensinamentos fundamentais para a formação do nosso caráter como a valorização aos professores, o respeito aos mais velhos e às regras. Claro que fazíamos nossas artes (bagunça) como qualquer adolescente, mas tínhamos disciplina com os estudos. Para se ter uma ideia, em época de prova ficávamos semanas decorando tabuada, lendo livros e estudando forte para tirar a nota máxima. Agora parece que isso se perdeu”.   

Eduardo, Wagner e GedersonNem todos tinham a mesma dedicação dos chamados ‘CDFs’ e as ‘picuinhas’ eram inevitáveis. É o caso do hiperativo Marcos Escobar, 36. Suas travessuras, muitas vezes, lhe rendia desafetos. Coisa de guri, claro. Gederson é um deles que em certa ocasião se negou a participar de uma ‘pelada’ com o baderneiro. “Eu era muito arteiro e por isso acabava entrando em confusão. Assim que eu fui convidado para a festa pensei em procurar ele, afinal não sabia qual seria sua reação depois de tanto tempo”, diz Escobar. No entanto, o amigo não se lembrava do fato e o pedido de desculpas foi feito em frente à equipe do Jornal Midiamax. “Moramos no mesmo bairro a ‘vida toda’ e ficamos todo esse tempo sem se ver. É isso que essa nossa ação tem proporcionado, pois podemos sentar e conversar como ‘homens’ e ver que evoluímos ao saber pedir perdão e perdoar o outro pelos erros bobos do passado”, finaliza Carvalho.     

Turma na quarta série com a professora Antônia

O tesouro
Neste baú de conhecimentos, um dos maiores e mais valiosos ‘achados’ completa hoje  70 anos. Trata-se de uma das responsáveis por ensinar, literalmente, aos atuais veteranos o valor da história: a professora Antônia Gutierrez. “Ela lecionou para a gente desde a quarta até a oitava. Era uma ‘mãezona e também severa, pois nos ensinava e puxava ‘nossa orelha’ quando era preciso, brincava, mas nunca deixou der ser ‘a professora’ em sala de aula”, revela Uchoas.
De presente, no último sábado, 29, a turma se reuniu em uma chácara para comemorar o aniversário da educadora, aposentada há nove anos. Beberam, comeram, festejaram e reviveram os momentos que passaram juntos. Na ocasião, a lista de presença atualizada pelos organizadores veio à tona e em ordem alfabética foi feita a chamada. De A a Z, cada nome  revelava uma característica de seus queridos, seja uma traquinagem ou uma boa nota na prova. “Disse da mesma forma que eu fazia em sala. Eduardo você não é pipoca para pular tanto. Fulano não pendura na cortina, sicrano você está muito quieto. Ah foi muito bom reviver tudo aquilo”.

Professora Antônia Gutierrez E assim ela pode desfrutar das lembranças que preenchem, ainda hoje, cada linha escrita no livro de sua vida. Trajetória essa que serviu de incentivo e principalmente de exemplo aos seus aprendizes. Entre eles estão: farmacêuticos, enfermeiros, empresários, educadores como dois de seus três filhos, entre outros. “O maior presente é ver minhas ‘eternas’ crianças bem encaminhadas. Independente da profissão que escolheram o mais importante é que se tornaram pessoas de bem, de família. Eles são como se fossem um sobrinho ou filho, por isso tenho um carinho muito grande por eles”.    

Dessas sete décadas, metade foram dedicadas à educação, o que ela afirma ser, além de  um privilegio, uma missão. Abraçada às fotos antigas de seus ‘pupilos’, sem titubear Antônia deixa o conselho. “Ser professor é um sacerdócio. Só somos o que somos porque tivemos algum professor lá atrás. Quem não tem amor pela educação não deve dar aula. Essa doação cabe para todas as profissões, se quer ser um mecânico ou um médico, seja dedicado para ser o melhor, só assim você irá crescer”, pontua.  

Confira a entrevista com a professora:

 

 

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