Para criar os filhos e manter a casa, ela caminha o dia inteiro há 30 anos

Ela vive em Miranda e trabalha em Campo Grande 

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Ela vive em Miranda e trabalha em Campo Grande 

A saga começa logo cedo. Ainda de madrugada, Feliciana Lemes, 60 anos, deixa a aldeia de Cachoerinha, em Miranda, e segue para Campo Grande. Depois de 200 quilômetros percorridos, é hora de iniciar os trabalhos. Pelos próximos sete dias ela pouco descansará. Com um palmito enorme e pesado na cabeça, cerca de 5 quilos, e outro mais leve debaixo de um dos braços, ela inicia sua caminhada pelas ruas da cidade. São cerca de 12 horas diárias de muitos passos sob sol escaldante. 

Essa ‘lida’ se repete a cada três meses, tempo necessário para liquidar o dinheiro que junta durante a semana em Campo Grande. O sonho é conseguir R$ 100 diários e ao fim da estadia: R$ 700. “Com esse dinheiro passo os próximos três meses”, conta dona Feliciana, forçada por mim a parar o trabalho por alguns minutinhos.

Durante esta pequena pausa, ela explica o motivo de tanto esforço. “Eu nunca deixei a aldeia. Prefiro vir aqui e trabalhar muito para juntar um pouquinho de dinheiro do que me mudar de vez, sabe? É lá que está a minha vida”, sorri, mesmo cansada. Com a renda conquistada com a venda dos produtos ela sustentou os filhos, hoje criados e casadas, como ressalta.

“A vida era boa antes, mas fiquei viúva e é por isso que estou nesta luta toda”, diz sorrindo agradecida pelos minutos de atenção. “Nem sempre as pessoas me recebem. As vezes as ‘donas’ estão ocupadas, mas não pode ter vergonha”, diz como quem repete uma ideia para torná-la uma certeza para si.

Para criar os filhos e manter a casa, ela caminha o dia inteiro há 30 anosEntre uma explicação e outra, percebo sua inquietação alternando o peso entre as duas pernas. “Mas e o cansaço? Como a senhora faz?”, pergunto. “Não tem cansaço não, são mais de 30 anos fazendo isso. A gente acostuma, né?”

Por volta das 11 horas a encontramos na Rua Joaquim Murtinho. Ela havia saído do Mercadão às 8 horas e percorrido pelo menos cinco bairros diferentes. “Passo e ofereço o quiabo e o palmito. Não dá muita coisa, não, mas no fim a gente consegue”.

Cada um dos palmitos custa cerca de R$ 30 e o pacotinho com quiabo é R$ 5. Antes que fique tarde e o papo se estenda demais, dona Feliciana me lembra que é preciso seguir. Afinal, há muita coisa para vender e sua casa, seu descanso, está a mais de 200 quilômetros de distância. De passinho em passinho, ela some das nossas vistas.  

Para criar os filhos e manter a casa, ela caminha o dia inteiro há 30 anos

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