Na cidade formada por gente de toda a parte, o título “terra de forasteiros” é orgulho
Os migrantes para cá vieram em busca principalmente de trabalho
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Os migrantes para cá vieram em busca principalmente de trabalho
Desde sempre Campo Grande é acusada de não ter a própria cultura. Que me desculpem os desavisados, mas está aí uma das maiores ignorâncias já cometidas contra a Capital de Mato Grosso do Sul. A verdade é que a cidade nasceu com vocação de atrair os sedentos por liberdade e melhores condições de vida. E, como não poderia deixar de ser, herdou um pouquinho dos costumes e paixões de cada um deles.
Constatar tal falácia é muito fácil, se dedicados alguns minutos a ouvir o que dizem os que por aqui se fixaram. Arábes, japoneses, paraguaios, bolivianos. Para todos eles, a qualidade de vida adquirida por aqui é tida como o grande atrativo.
De acordo com o escritor Hildebrando Campestrini, presidente do Instituto Histórico e Geografico de Mato Grosso do Sul, Campo Grande tem recebido oriundos de praticamente todas as partes do mundo, que trouxeram seus usos e costumes. Com o suceder das gerações, tais usos e costumes foram desaparecendo, assumindo elas a tradição do povo local.
“Com algumas exceções, as tradições de cada povo desapareceram do quotidiano, sendo hoje comemoradas em clubes e associações, como fazem os japoneses, os gaúchos em seus centros de tradições, os paraguaios nas sedes das colônias. O gaúcho não anda vestido a caráter no quotidiano, como o japonês não usa os pauzinhos na lanchonete. Há alguns casos em que certas práticas foram incorporadas ao quotidiano urbano, como o sobá da feira e a chipa; como a música paraguaia.”, explica.
Filha de Campo Grande, Dione Zurita Cruz, 52 anos, nos conta o que trouxe seus pais à cidade, em 1954. Vindos de Cochabamba, na Bolívia, os dois desembarcaram em Corumbá. Por lá, não se adaptaram ao clima. “Muito quente dizia minha mãe”. Ao chegaram em Campo Grande, a adptação foi instantânea. “Foi uma época em que muitos bolivianos vieram para cá em busca de emprego. Nos encontravamos aqui e virou uma grande colonia”, lembra.
Com o tempo, a cidade se tornou apenas uma rota de passagem para os vizinhos que seguiam para São Paulo, rumo à indústria textil paulista. “Como as coisas ficaram dificeis por lá, muitos deles têm voltado para Campo Grande. A Bolívia ainda é muito díficil”. Por aqui, esses migrantes têm se fixado em moradias humildes em regiões como a da Vila Popular.
Foi a procura de trabalho também, que a família de Acelino Sinjo Nakasato, 65 anos, veio parar em Campo Grande. Lá no Japão, as coisas não estavam indo muito bem e foi preciso cruzar os mares para encontrar oportunidades de crescimento. “Meu pai veio aos 16 anos. Deixou minha mãe lá com a promessa de que voltaria para buscá-la, e voltou. Pagou a passagem e ela veio para o Brasil com 13 anos. Aqui tiveram 9 filhos e construiram a vida sem nunca querer partir”, conta.
Por mais que a vida tenha entrado nos eixos rapidamente, nem tudo foi fácil. “Na escola era dificil para a gente. As outras colônias conseguem esconder de onde são, mas nós japoneses trazemos os traços no rosto. Era muita chacota na escola. O que restava era se destacar nas notas”, diz ao lembrar do então garoto Acelino.
Hoje pai de família e dono de grande experiência, Acelino tem em mente a importância dos percalços e dificuldades vividos por seus conterrâneos. “Se não fossem eles, nós não teriamos o espaço que temos hoje, nem o respeito que temos. Foi dificil, mas hoje nos dá orgulho a história de todos eles”.
Sonho pantaneiro
O Líbano é pequeno e oferece poucas oportunidades aos seus jovens. Por isso, assim que se tornam “mocinhos e mocinhas” passam a nutrir o sonho de vir para o Brasil. É isso que explica o libanes Eid Toufic Anbar, 71 anos. Aos dez ele deixou sua terra com destino a Campo Grande com sua família. Em terras pantaneiras trabalhou com quase todas as profissiões possíveis, consquistou a estabilidade financeira, constituiu familia e mais que tudo, se apaixonou pela cidade. Com carinho ele se lembra de um ditado que ouvia quando criança. “Vão meus filhos, além dos mares vocês encontrarão meu filho esperando por vocês de braços abertos”, disse ao nos explicar que a mãe em questão é Nossa Senhora do Líbano que tem uma imagem sua em uma praia de Beirute, assim como o Rio de Janeiro tem uma imagem do Cristo Redentor. “´É algo muito forte por lá esse sonho de vir para cá”.
Quando reunidos,além das preocupaçãoes habituais com a crise no oriente médio, os descentes de libaneses dançam, cantam e comem bastante. “É uma coisa que ultrapassa a colônia. Hoje são os brasileiros que mais procuram a nossa culinária” diz.
Para os vizinhos paraguaios a situação é parecida. A proximidade é tanta, que às vezes é até dificil lembrar que as duas nacionalidades não são uma só. Angely Ortiz, 24 anos, é filha de paraguaios. Nasceu e cresceu em Ponta Porã, mas há mais de 10 anos vive em Campo Grande.
“Para mim é tudo muito natural.Cresci em meio a paraguaios e brasileiros. Quando mudei para cá é que percebi que as pessoas estranhavam um pouco ou pareciam curiosas. Mas nada demais, com o tempo poucos distinguem as diferenças culturais entre brasileiros e paraguaios e tudo muito parecido”, explica.
Segundo Hildebrando, os migrantes para cá vieram em busca principalmente de trabalho (desde os japoneses, para trabalhar na implantação da Estada de Ferro). “Campo Grande sempre foi importante centro comercial, o que atraiu sírios, libaneses, turcos, armênios, italianos e espanhóis, entre tantos. Vinham para fazer fortuna. Já no início da segunda metade do século 20, chegaram os sulistas, voltados principalmente para a agricultura, que hoje é um dos esteios da economia estadual. Não se pode esquecer a migração interna, tanto de outros estados (os nordestinos são exemplo), como de cidades do interior. Por fim, não podemos olvidar que esses imigrantes sempre buscaram a tranquilidade, que Campo Grande ofereceu, não construindo qualquer tipo de preconceito”, explica o escritor.
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