Em meio ao caos a pergunta que desponta: por que geramos tanto lixo?
A Capital produz diariamente cerca de 700 toneladas de resíduos sólidos
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A Capital produz diariamente cerca de 700 toneladas de resíduos sólidos
As sacolas plásticas revestem os cestos de lixo de quase todos os cômodos da casa. Em dias de coleta, é só retirar, amarrar e “por para fora”. Fim! O contato com o lixo que produzimos acaba aí. O desprezível, o inútil, já não fede e nem cheira.
Há nove dias esta história mudou e a população de Campo Grande se vê forçada a pensar e dar destino ao lixo que produz. É greve dos trabalhadores da Solurb, empresa responsável pelo serviço de coleta e é, também, oportunidade para refletir sobre o que descartamos e porquê descartamos.
O lixo diz muito sobre quem somos, é a lógica de exclusão que adotamos e o modelo de vida que seguimos. No lixo das classes mais altas, o volume chega a ser dez vezes maior do que o de classes mais baixas. Consumimos mais, descartamos mais e seguimos infelizes.
“Além de evidenciar o descaso do poder público e a falta de diálogo com os catadores. A situação em que a cidade se encontra, evidencia, também, o consumismo desenfreado da sociedade e falta de responsabilidade compartilhada”, explica Terezinha Martins, especialista em educação ambiental da ONG WWF-Brasil.
Campo Grande produz diariamente cerca de 700 toneladas de resíduos sólidos. Deste montante, 70% poderia ser reutilizado ou reciclado. Os dados são do Projeto Ecoplantar, que há 8 anos realiza trabalho de educação ambiental na cidade.Se multiplicarmos pelos dias em que o serviço está interrompido, chegamos 6.300 toneladas ou 630 caminhões (com capacidade de 10 toneladas) de lixo espalhados pelas ruas da Capital.
Na ausência de uma coleta seletiva, cerca de mil famílias se deslocam até a sede do projeto para descartar o material reciclável que produzem. De lá, o vidro, o papel, o plástico e tantos outros materiais são levado até a UTR (Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos) da Capital onde cerca de 100 trabalhadores realizam a separação em cooperativas.
Aliás, muito antes que a greve mantivesse toneladas e toneladas de resíduos pelas ruas de Campo Grande, a questão do lixo já fedia por aqui. O contrato de prestação de serviços firmado entre a Solurb e a Prefeitura é envolto por denúncias de irregularidades.
Agora, a empresa acusa o município de não ter pago três meses de serviço, cerca de R$ 23,7 milhões. A Prefeitura por sua vez, nega a informação e garante cinco parcelas, R$ 56 milhões, foram pagas neste ano e tem até 90 dias para executar o pagamento de cada mensalidade. Enquanto não há acordo entre as partes, o lixo segue nas ruas.
“É um episódio negativo, mas também uma oportunidade para repensar as responsabilidades e o modelo de consumos que temos”, diz Terezinha.
O sentimento é compartilhado por Marcos Kirst, gestor da Ecoplantar. Para ele, enquanto não houver transformação no modo de ensinar melhores práticas ambientais, não haverá mudança. “Existe um modelo de ensino de sustentabilidade que é ultrapassado. Não deu resultados e não dará”, diz. No momento, o que cabe ao lixo é repensar o seu tratamento, sua destinação e sua importância social.
Meu lixo, minha sombra
Diante da “crise do lixo” vivida pela Capital, há quem queime folhas, há quem jogue lixo na rua, quem chute sacos e há também quem tente colaborar. No Condomínio Conceição dos Bugres, na Vila Nasser, vivem 235 famílias.
Por lá, duas caçambas estão desafogando o espaço nas lixeiras. Segundo Gilmar José de Souza , presidente da comissão de moradores do prédio, o aluguel da caçamba não pesou muito no orçamento e foi a solução mais higiênica encontrada.
O mesmo não foi adotado por condomínios vizinhos e a bagunça nas lixeiras superlotadas pode ser vista de longe. “Na caçamba o lixo fica protegido de animais como cães e gatos e evita que o chorume seja derramado na calçada”, explicou.
Quem também está se virando como pode é Madalena Moisés. Além de reduzir a produção de lixo em sua casa, ela também tem criado alternativas para utilizar o lixo orgânico. “Dá para fazer adubo e muitas outras coisas que nem imaginamos”, explicou a professora.
Para Yasmin Galbiati, a saída é parecida. Filha de permacultora, conheceu bem cedo as possibilidades de se trabalhar com o ‘lixo’. Além de separar e reutilizar os materiais antes de considerá-los lixo, ela utiliza várias técnicas para estimular a decomposição de materiais orgânicos e as utiliza como adubo. “É uma mudança de vida mesmo. É outra forma de raciocínio e prioridades”, disse.
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