Detentas encontram no artesanato o resgate da autoestima e fonte de renda
Com a carteira do artesão, as internas poderão expor seus trabalhos em feiras de todo o país
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Com a carteira do artesão, as internas poderão expor seus trabalhos em feiras de todo o país
Em 2006 Sandra de Aquino, 33 anos, deu entrada no sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul. Tráfico de drogas foi o motivo e dois anos e quatro meses de reclusão a pena cumprida. Pouco mais de um ano depois, em 2010, ainda tomada pela paixão “cega” que nutria pelo parceiro e incentivador no crime, ela, como muitas outras mulheres, voltou à venda de drogas e mais uma vez foi parar atrás das grades. Dessa vez seriam cinco anos e nove meses longe dos quatro filhos.
Hoje, a dois meses da liberdade de reconstruir sua vida, Sandra nos conta, com os olhos cheios de lágrimas, que suportou os anos de prisão graças a um amigo fiel que conquistou entre os muros da penitenciária: o crochê.
“Eu não copio dos lugares, algumas pessoas pegam modelos de revistas. Eu crio tudo”, conta orgulhosa sobre o talento que descobriu dentro do Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande. Com a venda das peças que cria, Sandra ajuda os filhos deixados aos cuidados de sua mãe na “rua”, como dizem por aqui.
Quando sair, além da certeza de que aproveitará cada instante de sua liberdade, Sandra está certa de que não lhe faltará um trabalho, um “ganha-pão”. “Eu fiz sete cursos aqui. Tenho sete diplomas. Em um lugar onde não existe esperança de nada eu e outras meninas conseguimos a nossa esperança. Posso ser cabeleireira, manicure, costureira e até maquiadora, mas o crochê é o que eu mais gosto”, diz.
Assim como Sandra, Andréia Marieti, 34 anos, e outras 18 internas do presídio descobriram nos pontos do crochê uma terapia e uma fonte de renda. Nesta segunda-feira (29), elas têm um motivo a mais para comemorar: conquistaram a carteira de artesã.
Com o documento, elas poderão expor seus produtos em feiras e exposições no Brasil e no mundo. “É muito legal isso para nós. A gente não vê a hora passar é uma terapia e uma alegria para nós aqui dentro”, conta Andréia enquanto outra interna, do outro lado da sala, grita. “Nós gostamos muito de trabalhar, ao contrário do que as pessoas preconceituosas dizem, nós somos trabalhadoras e vamos aproveitar essa oportunidade.”
Ainda aos preconceituosos, Andréia segue dizendo: “esse trabalho nos dá confiança. Nos faz ver que ainda é tempo de recuperar tudo que foi perdido.” As peças produzidas pelas internas são vendidas pelos seus familiares fora da penitenciária.
As que não têm visitas, cerca de 70% delas – segundo as próprias meninas – contam com a ajuda da família das colegas de cela. “Viramos amigas, é uma família aqui dentro. E aí eles trazem o material para a gente e até levam para vender lá fora. É com esse dinheiro que compramos as coisas básicas, tipo sabonete e pasta de dente”, conta uma delas que preferiu não se identificar.
Antes que a entrevista se resumisse às meninas e às suas produções, fui alertada: “queremos homenagear a nossa professora. Fala com ela, é muito importante para nós”, gritaram de todos os lados.
Pois bem, atendendo aos apelos das internas ouvimos a instrutora de artesanato Arlete Ferreira, 53 anos. Há 10 anos ela trabalha ensinado as pessoas a arte do artesanato, mas esta foi a primeira vez que desenvolveu as atividades em um presídio e para ela a maior lição foi o despertar de um novo olhar. “Sempre ouvi coisas terríveis sobre presídios. Eu só tenho agradecimentos a fazer. Foi a turma mais aplicada que eu tive na vida. São pessoas maravilhosas, dedicadas e trabalhadoras. Fico muito feliz em poder contribuir de alguma maneira com a nova vida que elas terão”, explicou. A oficina é promovida em parceria com a Fundação Social do Trabalho de Campo Grande.
Rejane Benetti Gomes é servidora da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e esteve no presídio para realizar o credenciamento das internas para o recebimento do cartão do artesão. “A preocupação da Fundação é contribuir para que elas saiam daqui com um ofício uma formação. Além da inclusão social, nossa preocupação é com a geração de renda também”, afirma.
De acordo com a diretora da presídio Mari Jane Boleti Carrilho, a preocupação da instituição é sempre com o dever da ressocialização. “Elas estão aqui para serem ressocializadas. Todas essas nossas tentativas de criar cursos e incentivá-las é no sentido de amenizar o ócio delas. É um resgate da cidadania, da dignidade. São pessoas que estão procurando o seu melhor para lidar com toda discriminação que sofrem”, explica a diretora.
Além do curso de crochê, as 391 internas participam de várias oficinas e pelo menos 130 delas frequentam aulas para a conclusão do ensino médio. “É um presídio pequeno, mas o movimentamos”, diz.
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