Com doença rara, Marta escrevia cartas, se apaixonou e se curou

Diante de um diagnóstico tão difícil, o irmão sugeriu que ela começasse a se corresponder por cartas.

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Diante de um diagnóstico tão difícil, o irmão sugeriu que ela começasse a se corresponder por cartas.

Com uma hérnia de disco rara, que a impedia de falar, de escovar os dentes, e realizar tarefas simples do cotidiano, Marta Rodrigues, de 48 anos, se via desenganada pelos médicos. Eles já não acreditavam na cura da doença. “Os médicos diziam que eu não iria conseguir me curar, e que se ficasse bem, ficaria para sempre em uma cadeira de rodas”, diz.

Diante de um diagnóstico tão difícil, e sofrendo, o irmão, Samuel Rodrigues, que estava muito preocupado com Marta, sugeriu que ela começasse a se corresponder por cartas com pessoas do país inteiro. Já que não podia sair, escrever seria uma distração.

Como ela lia muito uma publicação da época, que se chamava Carinho, e que tinha uma seção com endereços para os leitores trocarem cartas, começou a se corresponder com várias pessoas. Foram muitos os amigos de correspondência até conhecer o marido João Aparecido Valério, de 49 anos, que morava em Campo Grande. “Correspondi-me com várias pessoas. Mulheres, homens… O Valério foi com quem mais identifiquei. Na época ela estava sofrendo muito porque havia perdido a irmã para um câncer, e como eu estava doente a gente se identificou. Ele me apoiava e eu o apoiava”, diz.

Por dois anos, eles se corresponderam e trocaram juras de amor. As cartas que tinham 6, 8, 10 páginas eram esperadas com ansiedade e quando chegavam a São Sebastião do Caí – cidade gaúcha a 1.375 quilômetros de Campo Grande – Marta não conseguia fazer mais nada. “Minha mãe até brincava que quando chegavam as cartas eu iria me trancar no quarto e ficar lá”, se recorda.

Foram milhares de cartas trocadas até eles se conhecerem. Mas antes de um conhecer o outro pessoalmente, o irmão que tanto incentivou Marta veio ver quem era o futuro cunhado primeiro. “Meu irmão ganhou uma viagem para o pantanal e passou por aqui. Ficou hospedado no Hotel Indaiá. Ai ele falou com o João que foi até ele conhecê-lo”, se recorda.

A impressão do irmão foi das melhores, e ao chegar ao Rio Grande do Sul consentiu o namoro. Era a benção que ela precisava para decidir vir conhecer Valério. “Na época eu tinha um dinheiro, ai peguei o ônibus e vim. A viagem foi longa, mas muito bonita. Atravessei balsa, foram quase duas horas. Vi comitiva boiadeira na estrada. Muito diferente”, se recorda.

Ao chegar aqui, João Aparecido esperava na rodoviária. Apesar do atraso da viagem ele não arredou o pé até a chegada da amada. “Achei lindo que ele ficou o tempo todo me aguardando. Mas o que mais me chamou a atenção foi a educação dele. O carinho com a mãe”, diz.

E depois dessa viagem as palavras e juras de amor se fortaleceram e agora era a vez de João conhecer a família da amada. Meses depois ele foi ao Rio Grande do Sul e Marta, em contagem regressiva aguardava ver o amado novamente. “Meu amor eu também quero que julho chegue logo, eu mal posso esperar o momento de te ver chegando e te beijar com todo o amor. Mas sabe meu amor eu estou contando assim: fevereiro, março, abril, maio e junho (sic) Julho eu não conto porque você estará comigo”, afirma na carta.

E depois de ambos conhecerem a família um do outro, as cartas eram de planejamento de uma vida em comum. Em uma das cartas de 1990, primeiro ano em que se correspondiam, Valério já guardava dinheiro para o casamento e para a compra de um terreno. “Sabe meu amor, eu também estou fazendo uma poupança para quando estiver perto da gente se casar não ter muitos gastos. Sabe eu estou quase comprando um terreno, perto daqui onde nós moramos”, dizia a correspondência.

E depois já com casa para morar eles decidiram se casar. E no dia 6 de abril de 1991, Marta e João juraram amor eterno diante de Deus na Capela de São Sebastião do Caí. Do relacionamento eles tiveram 4 filhos, 2 faleceram e hoje vivem juntos com Bruno Aparecido, de 17 anos e Caroline Yasmin, de 15 anos.

Ahh… A doença de Marta foi curada. As sessões de tratamento que eram diárias, se tornaram semanais, quinzenais, mensais, até não existirem. Nem médicos, nem Marta sabe dizer o que aconteceu. Mas ela acredita que o amor a curou.

Coincidência

Logo depois que Marta e João se casaram foram morar no bairro Ouro Verde, na saída para Sidrolândia. Um dia descobriram que o carteiro que entregava as cartas de Marta a João era vizinho deles. “Um dia a gente descobriu que era vizinho. Ao o João contou que a Marta era a moça que ele se correspondia”, diz Valdenir Alcântara Alves, de 50 anos, que por 2 anos foi o ‘cupido’ do casal.

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