Arte ajuda doentes e dependentes a exorcizarem dores e reconstruírem suas vidas
Pacientes costumam resistir de início, mas percebem como a arte pode ser uma catarse para as próprias angústias
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Pacientes costumam resistir de início, mas percebem como a arte pode ser uma catarse para as próprias angústias
Há pouco mais de um século, o psiquiatra Max Simon já analisava pinturas de pacientes e classificava-as de acordo com as patologias que eles apresentavam. Na mesma época, outros médicos europeus também se interessaram pelas expressões artísticas dos doentes.
Mas foi um importante estudo de Mohr, que comparava os trabalhos dos doentes mentais com os das pessoas saudáveis e dos grandes artistas, que se percebeu a manifestação de histórias de vida e de conflitos pessoais nestas criações.
Iniciado há mais de 100 anos, o estudo que deu origem a arteterapia segue se aprimorando, e ainda hoje dá sustentação para entender os conflitos internos de doentes mentais e também de adictos.
Terapeuta ocupacional, no Hospital Nosso Lar, Tânia Pinheiro, de 51 anos, diz que arte ajuda o paciente a expressar seus sentimentos mais íntimos e com isso, auxilia e muito nos tratamentos psiquiátricos ou de adicção. “Com a arte, o individuo expressa algo que nem ele sabia que existia. A arteterapia não tem a estética como essência, e sim como um auxílio no tratamento desejado”, diz.
Ela diz que os pacientes costumam resistir de início, e afirmam não saberem desenhar, nem pintar. Mas com o tempo, percebem como a arte pode ser uma catarse para as próprias angústias.
Este é o caso do paciente Gabriel*, que é funcionário público, e tem 40 anos. Adicto, ele teve vários problemas com a família, com o trabalho, e até com amigos antes de descobrir na arte a sua redenção. “Todo adicto tem um sentimento de que algo está faltando. Quando comecei a terapia achava que era inútil, porque eu não sabia pintar, não sabia desenhar nem uma casinha. Mas comecei a ver que as cores expressavam os meus sentimentos”, diz. “Comecei a evoluir emocionalmente. Quando eu entrava em crise, colocava no papel”, completa.
Segundo ele, o sentimento do faltar algo, que ele acabava buscando nas drogas, foi se esvaindo, e hoje supre suas dores e angústias com a pintura. “É incrível como a arte mudou minha vida e está mudando a de muitas pessoas que frequentam o ateliê. Eu estou limpo…E nos momentos de crise recorro a Deus e à arte. Sinto-me outra pessoa. Aprendi a desviar minhas tensões e a respeitar os espaços, a colocar tudo em cores”, diz.
Ele lembra ainda que antes de conhecer a arteterapia, tentou de várias formas se livrar das drogas. Mas, nada funcionava. “Tentei de todas as formas me livrar de algo que eu não queria para mim. Nunca pedi para ser adicto. Acho que passei por um processo de milagre. Cheguei a duvidar das minhas capacidades. Hoje sinto paz interior, o que é incrível”, diz, pontuando que seu sonho é ver o projeto em instituições públicas. “Gostaria que o poder público investisse em arteterapia. Conheço tantas pessoas que precisam deste trabalho”, diz.
Outro caso é de um paciente com esquizofrenia. Em tratamento há mais de 4 anos, o homem diz que desde que começou a desenhar entende melhor seus sentimentos e isso o ajuda a lidar com as pessoas.
Tânia conta, que no início, as pinturas deles eram sempre muito pesadas e com cores fortes, que mostravam seus dramas interiores. Mas aos poucos, a pintura o ajudou a lidar com esses sentimentos, e até as pinceladas mudaram. “Hoje a pintura dele é mais leve. Retrata como ele está. A evolução do tratamento”, afirma.
Ouvidores de Cores
O Ateliê Ouvidores de Cores funciona no Hospital Nosso Lar desde 2012. Antes, os tratamentos eram feitos nas dependências do hospital. Hoje, pacientes e ex-pacientes podem frequentar a terapia e gerar renda com a sua arte.
Os trabalhos desenvolvidos são vendidos, tanto no local, como em exposições feitas em parcerias com diversos órgãos e empresas. A renda vai 80% para o artista, ou familiar, e 20% para manter o projeto.
Mais informações liguem (67) 3316-3502 ou vá até o hospital, que fica na rua Dr. Bezerra de Menezes, 325.
* Gabriel: foi um nome escolhido pela reportagem para não identificar o paciente.
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