Aceita-se $IDEAL: conheça a moeda social que circula ao lado do real no bairro Caiobá
Os créditos são trocados por garrafas PETs
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Os créditos são trocados por garrafas PETs
Há alguns meses a crise econômica que estampa os jornais e enche de lágrimas a classe média brasileira chegou à periferia. Por lá, onde o poder de compra é tão recente quanto o conceito de poupar, economizar é uma revolução que no bairro Portal Caiobá, região sudoeste de Campo Grande, atende pelo nome de “Ideal”, moeda social que circula ao lado do real.
Na prática, quem coletar garrafas PETs e latas de alumínio e levar o material à sede do Instituto de Desenvolvimento Evangélico (IDE) recebe créditos, o $ideal, que pode ser empregado no comércio do bairro para comprar legumes no sacolão do Nenê, pães no mercadinho da esquina ou roupas nos bazares solidários que a instituição realiza. Uma maneira de promover a consciência ambiental, estimular a economia local e educar financeiramente centenas de crianças.
“Poupar dinheiro na periferia é muito difícil e pelos relatos de pais que participam do projeto as crianças passaram a entender o valor das coisas e da economia”, explica o idealizador do “Pet-Mania”, o assistente social, Glauber Frederico de Miranda, 31 anos.
Quarenta garrafas ou latinhas equivalem a 2 $IDEAL, cerca de 80 centavos, no real. Do valor, 50% ficam para o comerciante e outros 50% são destinados à instituição. O projeto ainda engatinha, são apenas três pequenos comerciantes conveniados, mas já despertou o interesse de muitos outros empreendedores da região e parceiros para o desenvolvimento.
“No dia dos pais, várias crianças vieram no nosso bazar com a moeda social para comprar um presentinho. Isso me marcou muito, aliás, em pouco tempo já são vários casos marcantes”, diz Glauber.
A ideia que veio do lixo da Primavera Árabe
Em uma viagem ao Egito e ao Sudão em 2011, Glauber percebeu que precisava desenvolver projetos com o lixo. Ao ver nestes países, principalmente no Egito, uma quantidade enorme de resíduos pelas ruas ele teve a tal ideia que se tornaria o Pet-mania. “Chegou no Egito no meio da Primavera Árabe. Além do conflito, da tensão, o que me chamou a atenção foi o lixo nas ruas. Me impressionou muito aquilo”, disse. De volta ao Brasil, a ideia foi discutida com os parceiros do instituto e implantada com grandes expectativas.
Outra sementinha que tem sido plantada por lá, é a construção de instrumentos musicais com restos de madeiras e outros instrumentos. O carro chefe são os cajons, instrumento de percussão. “É uma aposta nossa para gerar renda e profissionalizar a comunidade. Ainda estamos começando, mas acreditamos muito no projeto”, explica.
Impacto Social
Apesar de pioneira em Campo Grande, a moeda social $IDEAL é só mais um exemplo dos inúmeros negócios sociais que se consolidam pelo Brasil desde o fim da década de 70. Para se configurar como tal, o empreendimento precisa causar um impacto social, ou seja, agregar impacto positivo ampliando as perspectivas de pessoas marginalizadas pela sociedade, aliada à possibilidade de gerar renda compartilhada e autonomia financeira para os indivíduos de classe baixa.
Lá no Caiobá, a moeda social é só um embrião do que deve ser um projeto ainda maior. De acordo com os diretores do Ide, o sonho é criar um banco solidário nos moldes do que foi feito em Fortaleza, no Ceará. Criado em 1998, em um bairro com 32 mil habitantes em Fortaleza, o Banco Palmas gerou enormes transformações no bairro, que já foi um dos mais carentes da cidade.
Ele atua como serviço financeiro solidário voltado para a geração de trabalho e renda com base na economia solidária. Com moeda forte e vários comércios conveniados, o Banco Palmas é referência mundial no assunto.
“Negócio social” como caminho para enfrentar a crise
Além de reduzir o poder de compra conquistado à duras penas pela tão falada “classe C”, limitar o número de viagens ao exterior das classes média e alta do país, a recessão econômica também tem afetado o terceiro setor. Para as ONGs não anda nada fácil captar recursos e muitos deles até foram cortados.
Para manter os projetos, uma boa saída é o investimento nos negócios sociais que a longo prazo podem garantir a autonomia e sustentabilidade dos projetos sociais. E é esta a ideia dos gestores lá do Ide. “Sempre conseguimos manter o projeto e fazer com que ele crescesse, mas seria muito bom que os convênios e editais fossem mais uma alternativa e não a única fonte de renda da instituição”, explica o idealizador da instituição Enéas de Andrade Barbosa, 44 anos.
Hoje, o Ide atende 1200 pessoas, destas, a maioria crianças e adolescentes, são recebidas no contra turno escolar com atividades recreativas, reforço escolar, informática e muitas outras atividades. O projeto social também atende mães e pais da comunidade com oficinas profissionalizantes.
O Instituto surgiu em 2000 através da iniciativa voluntária dos irmãos Manoel Antônio de Andrade Barbosa e Enéias de Andrade Barbosa. No Portal Caiobá, está fixado desde 2006 quando começou a atender 150 crianças com o apoio de uma organização Internacional. Em 2008 e 2009 o projeto foi contemplado pelo edital de projetos do Criança Esperança/UNESCO e pelo Instituto Energias do Brasil. Em 2010 a entidade recebeu recursos da Petrobrás/FIA, através do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Campo Grande.
“No terreno do lado nós montamos uma horta e começamos a desenvolver os projetos. Com o tempo veio o galpão onde hoje existe a estrutura do projeto. A gente morava aqui e realizava as atividades”, conta.
Na base da força de vontade, fé e muito sonho, em pouco tempo eles já erguiam a estrutura dos prédios que hoje se estendem em 11 polos. “Nós não temos formação nessa área de projetos, mas fomos agregando pessoas que possuem e isso permitiu que firmássemos muitos convênios importantes que fizeram o Ide crescer tanto”, diz orgulhoso.
A última aquisição do projeto foi um “puxadinho” daqueles, com direito a sala de informática com lousa digital e equipamento para aulas de robótica e muitas outras coisas. “Isso me veio em um sonho. Sabia que precisava fazer. O custo era de 400 mil. Fizemos uma campanha de apadrinhamento e só conseguimos R$ 6 mil. De última hora apareceu uma doação que salvou a ideia”, relata ao afirmar que se não fosse a fé e a certeza de que sua missão é construir tal projeto, muita coisa não teria sido feita.
Antes mesmo de iniciar o Ide, Enéas já havia criado outros três projetos sociais, mas os deixou em outras mãos para se dedicar à construção do instituto. “Quando chegamos aqui no Caiobá não havia nada. Era um bairro muito, muito pobre. Hoje, felizmente a situação melhorou muito por aqui”, disse ao explicar que a relação com o instituto é de puro amor, amor às pessoas que o fazem. “É muita dedicação.”
Conheça o Pet-mania:
*Todas as fotos são de Cleber Gellio
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