Cidade mineira terá única réplica fora de Londres do teatro de Shakespeare

Em 2016, ano em que será lembrado o quarto centenário da morte de William Shakespeare, uma pequena cidade mineira, na região metropolitana de Belo Horizonte, vai inaugurar a única réplica, fora de Londres, do teatro onde nos séculos 16 e 17 eram feitas as primeiras encenações das hoje clássicas peças do dramaturgo inglês. Embora arquitetonicamente […]

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Em 2016, ano em que será lembrado o quarto centenário da morte de William Shakespeare, uma pequena cidade mineira, na região metropolitana de Belo Horizonte, vai inaugurar a única réplica, fora de Londres, do teatro onde nos séculos 16 e 17 eram feitas as primeiras encenações das hoje clássicas peças do dramaturgo inglês.

Embora arquitetonicamente fiel ao original e com chancela britânica, a construção do Shakespeare Globe Theatre na cidade de Rio Acima, no chamado Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, tem uma proposta cultural bem mais ampla do que a mera reprodução de um ícone do teatro mundial.

Responsável pela iniciativa, o Instituto Gandarela pretende fazer do Globe mineiro não apenas um grande teatro para a difusão, em variadas versões, da obra universal de Shakespeare, mas também um espaço para os autores brasileiros e, principalmente, um polo irradiador de cultura e educação pela arte para toda a região. Braço social da produtora cultural Arte Brasil, o Gandarela considera que a proposta de fomento e difusão cultural foi o que levou a Shakespeare Globe Trust, entidade mantenedora do teatro inglês, a dar seu aval ao projeto brasileiro.

“Se fosse para simplesmente fazer uma cópia do teatro londrino não teríamos essa chancela”, garante o idealizador do projeto, Mauro Maya. Diretor do Instituto Gandarela, Maya é ator e produtor cultural, com anos de atuação no Grupo Galpão, uma das mais importantes companhias teatrais brasileiras.

Com origem no teatro de rua, o Galpão teve desde 1992 como carro-chefe de seu repertório a encenação, transposta para a cultura popular brasileira, da mais conhecida peça de Shakespeare, Romeu e Julieta. Foram mais de 250 apresentações no Brasil e nove em 60 países estrangeiros, culminando com a consagração, no ano passado, no Shakespeare’s Globe da capital britânica.

“O nosso desafio é fazer com o que teatro elisabetano de 1599 se torne operante e viável na bucólica Rio Acima, cidade de apenas 10 mil habitantes. E a partir daí, promover uma transformação no arcabouço cultural de toda a região”, aposta Mauro Maya. Segundo ele, para se tornar autossustentável, o complexo cultural, com dois teatros – um com 1.500 e outro com 300 lugares – tem que envolver as 25 cidades do Quadrilátero Ferrífero, por coincidência, uma região que teve seu desenvolvimento econômico ligado aos ingleses, que ali eram donos de várias empresas de mineração. “Agora, a Inglaterra retorna, não pelo lado econômico, mas pelo cultural, mas que acaba revertendo para a economia”, prevê Maya.

Com um custo estimado em R$ 100 milhões, o complexo cultural já conta com o patrocínio da Petrobras. A estatal investe em um conjunto de atividades educativas e culturais com o objetivo de preparar a região para receber o Globe Theatre. De acordo com o diretor do Gandarela, essas ações estão voltadas não só para a formação de futuras plateias mas também para a capacitação de mão de obra para a chamada indústria criativa. “Nós podemos formar aqui novos figurinistas, novos cenógrafos, técnicos de iluminação, de áudio, e sobretudo atores engajados tanto na nossa cultura como na britânica”, diz Maya.

A ligação entre o local e o global atende a uma preocupação básica do The Shakespeare Globe Trust, que só apoia projetos que reconhecem a universalidade da obra do dramaturgo e que procuram mostrar como a linguagem do “bardo” é capaz de dialogar com pessoas de diferentes formações, culturas e regiões.

O acordo entre o Gandarela, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e a entidade britânica foi o ponto de partida para a materialização do projeto, mas a ideia surgiu antes no pensamento do produtor cultural. “Através do nosso projeto Cine Arte Sarau viajamos o Brasil inteiro entendendo a necessidade de ocupar espaços ociosos, em prol de transformá-los em locais de formação cultural. Saí em busca desse espaço na região entre Belo Horizonte e Ouro Preto e quis o destino que eu encontrasse esse área generosa, de 20 mil m²”, conta Maya.

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