Vale a pena ser amante, como a Isis de ‘Império’? Veja análise e opine
Aceitar com passividade o papel de amante, como acontece com Maria Isis (Marina Ruy Barbosa), em “Império”, pode parecer fácil. No entanto, a antropóloga Mirian Goldenberg, autora dos livros “A Outra” e “Por que Homens e Mulheres traem?” (Bestbolso), afirma que uma situação como a dela é mais difícil do que aparenta. “Em geral, este […]
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Aceitar com passividade o papel de amante, como acontece com Maria Isis (Marina Ruy Barbosa), em “Império”, pode parecer fácil. No entanto, a antropóloga Mirian Goldenberg, autora dos livros “A Outra” e “Por que Homens e Mulheres traem?” (Bestbolso), afirma que uma situação como a dela é mais difícil do que aparenta. “Em geral, este tipo de relacionamento envolve muito sofrimento e dificuldade para lidar com o fato de não ser a única, a número um, a que completa o par sem necessidade de outras”, diz a especialista.
É mais comum encontrar mulheres nessa condição, por uma questão cultural. “Elas não são educadas para se dividir entre dois homens”, fala Mirian. Já eles, muitas vezes, foram criados para separar a mulher da casa e a da rua, aquela que cuida da família e a que oferece prazer.
O psiquiatra Luiz Cuschnir, coordenador do Gender Group® do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), comenta que a mulher tem uma vida emocional muito rica e, por conta disso, envolve-se mais facilmente, mesmo que a situação não seja a de sua preferência. “Elas também acreditam mais em promessas e creem que poderá haver mudança do status de amante, se for persistente”, explica.
Para a psicóloga Margareth dos Reis, doutora em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), assumir o papel de amante é sustentar um relacionamento cheio de limitações. “Não dá para ser completo. Inicialmente, no calor da paixão, pode ser suficiente. Mas, com o passar do tempo, a pessoa acaba se sacrificando, e isso tende a provocar um desequilíbrio emocional”, afirma.
“Essa história de que o cara vai largar a esposa não existe”, diz P.R.V., 38 anos, representante de vendas, que foi amante de um homem por três anos. Segundo ela, não vale a pena aceitar essa posição. “No fim, a gente descobre que tudo é uma grande enganação e não dá para levar a situação por muito tempo”, diz.
Já a esteticista M.L., 62 anos, conta que foi “a outra” por 18 anos. “Gostava dele e compreendia que ele não podia abandonar a família por causa dos filhos”, afirma. E ela diz que nunca exigiu isso dele, e que não se arrependeu em ter mantido o relacionamento por tanto tempo. “Foi um grande amor”.
Uma doce ilusão
De acordo com Mirian, por amor, dependência e medo da solidão, muitas mulheres preferem ser amantes a ficarem sozinhas. “Além disso, algumas afirmam que, neste tipo de relacionamento, não existe a rotina e as obrigações de um casamento, portanto, a relação é mais gostosa, divertida e cheia de tesão”, acrescenta.
Entretanto, Margareth acredita que isso pode ser uma ilusão e, em geral, a amante espera ser a escolhida. “Afirmar que este tipo de relacionamento é melhor porque foge da rotina é uma maneira de tentar se confortar. Em muitos casos, pode ser até um subterfúgio para suportar a situação”, explica.
É importante, entretanto, dizer que um relacionamento extraconjugal pode oferecer grandes momentos de amor e sexo. “O espaço para sentirem o amor de um pelo outro é grande, mas para viverem esse amor no dia a dia é restrito. E isso terá implicações importantes na construção de projetos de vida comuns e de experiências sociais e familiares”, afirma Cuschnir.
Para Margareth, ser amante é ter a certeza de que não terá companhia em datas importantes como festas e feriados. “A amante não tem a rotina, mas também não tem as coisas boas”, fala a especialista. Ela comenta que um relacionamento se constrói no dia a dia e se fortalece a partir do momento em que se aprende a lidar com os aspectos bons e ruins.
Os tipos de amantes
Em seu livro “A Outra”, Mirian classifica os três tipos de amante: a passageira, aquela que fica por pouco tempo na situação; a transitória, que está esperando ele se separar para se tornar a mulher oficial e a permanente, aquela que vive como amante por muitos anos, sem expectativa de que seja assumida.
“Um relacionamento pode abarcar completamente a vida que a pessoa leva. Por isso, começa como brincadeira, uma intenção de terminar quando quiser e, de repente, a pessoa está em um nível de envolvimento que não consegue se afastar, mesmo sabendo dos malefícios que causam”, explica Cuschnir. Segundo o psiquiatra, existe relacionamento que provoca verdadeiros “sequestros emocionais”, causando dependência e criando situações semelhantes a um cativeiro.
O corretor de imóveis D.B.B., 41 anos, diz que o lado negativo de uma relação extraconjugal é a mentira. “Não se tem amante sem mentir. A consciência pesa demais, a culpa machuca muito”, afirma. Durante seis anos, mesmo sendo casado, manteve uma amante, também casada. Eles acabaram se separando. “Ainda somos amigos, cúmplices e apaixonados um pelo outro, mas cada um na sua”, fala. O relacionamento não continuou porque, na época, foram descobertos e decidiram evitar possíveis brigas e mágoas.
Só vale a pena ser amante se houver maturidade e uma boa estruturação da vida. “Depender apenas dessa relação amorosa pode ser muito desgastante e afetar outras áreas da vida. Pode ter implicações profissionais e de outras relações como um todo e prejudicar a saúde de pessoas que não têm a estrutura psicológica adequada”, afirma o psiquiatra.
É preciso lembrar, também, que a monogamia não é uma obrigação, mas uma escolha. Talvez a saída mais simples seja viver um relacionamento em que não há a obrigação de exclusividade, para quem faz questão de viver experiências extraconjugais. Assim, ninguém precisa mentir nem se sentirá enganado.
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