Tortura e morte de doméstica de 10 anos por patrões choca Paquistão

O caso de uma menina de 10 anos de idade que trabalhava como cozinheira para uma família de classe média e foi espancada pelos patrões até morrer chocou a população do Paquistão na semana passada. Grupos de direitos humanos dizem que mais de 12 milhões de crianças são obrigadas a ganhar o sustento nas ruas […]

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O caso de uma menina de 10 anos de idade que trabalhava como cozinheira para uma família de classe média e foi espancada pelos patrões até morrer chocou a população do Paquistão na semana passada. Grupos de direitos humanos dizem que mais de 12 milhões de crianças são obrigadas a ganhar o sustento nas ruas ou em casas de famílias no país.

As atenções no Paquistão se voltaram neste mês para o pequeno vilarejo de Moza Jundraakha, que significa “o lugar onde a vida é protegida”. Mas ao contrário do que o nome sugere, o vilarejo foi palco de um crime bárbaro. A menina Iram Ramzan foi trabalhar como cozinheira para uma família de classe média com o objetivo de ganhar dinheiro para que sua própria família tivesse o que comer. Seu salário era de US$ 23 (R$ 55) por mês.

As duas irmãs de Iram também trabalham como auxiliares domésticas para outras duas famílias. Sua mãe, Zubaida Bibi, perdeu a mão em um acidente em uma fábrica e colocou suas três jovens filhas para trabalhar. Ela imaginou que as meninas estariam mais seguras trabalhando como domésticas em casas do que nas ruas. Mas ela estava enganada. “Talvez nós devêssemos ter colocado elas para mendigar por sobras”, diz Bibi. “Como eu poderia saber que estava mandando minha família para esses agressores?”.

Após as agressões, a menina foi levada a um hospital, mas morreu logo ao chegar. Havia sinais de tortura no seu corpo e marcas de cordas nos seus punhos e pés. Ela foi levada ao local pelos próprios empregadores, a família Mahmood. A polícia imediatamente prendeu os Mahmood.

Chá com biscoitos

Iram Ramzan havia sido espancada com uma barra de ferro, que foi posteriormente encontrada na residência de seus patrões. Nasira Mahmood confessou ter batido diversas vezes na menina enquanto seu filho de 16 anos assistia.

Na cadeia, Mahmood relatou à polícia o crime enquanto tomava chá com biscoitos. Ela fala quase que de forma casual sobre os motivos da surra, dizendo que a morte foi um acidente e que ninguém esperava que a menina morresse. “Em três ocasiões ela roubou meu dinheiro. Eu fiquei irada, foi só isso”, conta Nasira. “Ela disse que estava ficando com sono, então eu a amarrei e a deixei lá, enquanto fui preparar a janta”.

Os investigadores disseram que Iram morreu lentamente. Naisa admitiu ter torturado a jovem assim que foi interrogada.

Na mesma semana, outra doméstica de 15 anos de idade, conhecida como Azra, foi encontrada enforcada na casa dos patrões em Lahore. Ela teria sido vítima de abusos sexuais antes de morrer.

Organizações de diretos humanos dizem que as leis trabalhistas do Paquistão ignoram o abuso de crianças em um país em que quase metade da população tem até 18 anos de idade. A Sociedade de Proteção aos Direitos das Crianças (Sparc) disse ter recebido 20 denúncias de casos como os de Iram e Azra. Estes foram apenas os episódios em que crianças morreram. Há muitos casos de abusos e agressões que nem sequer são registrados.

“A ONU enviou uma recomendação ao governo paquistanês para adotar uma política de proteção infantil”, disse a representante da Sparc, Sajjad Cheema. “Nós precisamos saber se vamos deixar as crianças trabalharem nestas condições e morrer ou se vamos protegê-las, e como faremos isso”.

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