‘Rolezinhos’ são realidade há anos em shoppings dos EUA

Um encontro de adolescentes, convocado pelas redes sociais, realizado dentro de um shopping center – e que acabou em confusão e confrontos com a polícia. A descrição, que poderia servir para um “rolezinho” em São Paulo, é na verdade de um “flash mob” ocorrido em 26 de dezembro no Brooklyn, em Nova York. Assim como […]

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Um encontro de adolescentes, convocado pelas redes sociais, realizado dentro de um shopping center – e que acabou em confusão e confrontos com a polícia.

A descrição, que poderia servir para um “rolezinho” em São Paulo, é na verdade de um “flash mob” ocorrido em 26 de dezembro no Brooklyn, em Nova York.

Assim como no Brasil, esses episódios têm despertado debates sobre o papel dos shopping centers, o direito de se reunir no local e as motivações desses jovens.

No Brooklyn, o Kings Plaza Shopping Center foi palco de um encontro de ao menos 300 jovens, convocados pelas redes sociais. Testemunhas disseram à imprensa local que eles gritavam, empurravam transeuntes e roubaram lojas. O shopping acabou fechando as portas por uma hora, informa o New York Post.

No dia seguinte, menores de idade não acompanhados de adultos foram barrados do local, despertando críticas dos que se sentiram tolhidos pela medida – e que queriam apenas fazer compras – e elogios dos que temiam novas cenas de confusão.

Dezenas de incidentes parecidos ocorreram em outras cidades americanas nos últimos anos. Em Chicago, em abril passado, centenas de jovens se juntaram no centro da cidade, convocados pelas redes sociais, e o episódio acabou em briga; a imprensa americana traz relatos parecidos de “flash mobs” realizados no mesmo mês no centro da Filadélfia e, em 2012, em uma loja do Walmart em Jacksonville, na Flórida.

Em 2011, também na Filadélfia, a prefeitura estabeleceu um toque de recolher para adolescentes, impedidos de ficar nas ruas após as 20h ou 22h (dependendo da idade dos jovens), na tentativa de evitar os encontros.

Não está claro se esses “flash mobs” em questão foram organizados com fins violentos, mas a maioria das reuniões – assim como no Brasil – ocorreu pacificamente.

‘Formas de se expressar’

Um episódio do tipo ocorrido em agosto de 2011 em Kansas City – e que resultou em três jovens feridos a tiros – levou um grupo de acadêmicos do Consórcio Educacional da cidade a pesquisar o fenômeno.

Após entrevistar 50 dos adolescentes que participaram do episódio, em 2012, uma das conclusões foi a de que os jovens “estão buscando formas de se expressar enquanto se conectam com outros (pela internet)” – e que qualquer ação oficial para lidar com o fenômeno deve levar isso em conta.

“Os jovens se envolveram em ‘flash mobs’ para se expressar, chamar atenção, serem vistos e lembrados e se expressarem”, diz a pesquisa.

Além disso, afirmam os pesquisadores, esses jovens estão “entediados” – e sua interação no mundo digital, onde os “flash mobs” são organizados, é uma importante forma de diminuir o tédio.

Por isso, toques de recolher como os implementados nos EUA terão pouca eficácia se não forem combinados “com atividades alternativas, acessíveis e divertidas” e incentivos a “flash mobs do bem”, sem atitudes violentas.

Ao mesmo tempo, muitos desses jovens também lidam com limitações econômicas, moram em bairros violentos ou negligenciados e se queixaram que só foram parar no noticiário quando ocuparam espaços centrais de Kansas City.

Questões sociais

O debate americano tem se estendido também para questões raciais e sociais.

O New York Times destacou que a maioria dos jovens que participaram de um “flash mob” na Filadélfia em 2010 eram negros, de bairros pobres, e agiram em bairros predominantemente brancos.

Em contrapartida, críticos dizem que a polícia alvejou sobretudo jovens negros quando agiu para conter distúrbios.

A ONG Public Citizens for Children and Youth, de apoio à juventude da Filadélfia, levantou na época a possibilidade de episódios do tipo serem uma consequência no corte de verbas a programas sociais que mantinham os jovens ocupados após as aulas.

“Precisamos de mais empregos para os jovens, mas programas pós-aulas, mais apoio dos pais”, disse a ONG ao New York Times.

Articulistas também debatem – assim como no Brasil – o papel dos shopping centers em subúrbios dos EUA, alegando que faltam espaços públicos comunitários, e citam a desilusão geral dos jovens com outros tipos de engajamento político ou social.

“É um grupo de jovens que sente raiva e impotência, e tenta obter um senso de poder”, disse à CNN o psicólogo Jeff Gardere.

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