Para analista, protestos de sábado serão ‘termômetro’ de mobilização até Copa

Ativistas organizam, para este sábado, protestos contra a realização da Copa do Mundo, convocados pelas redes sociais em cidades como São Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Belo Horizonte e Goiânia. As confirmações de participantes ainda são pequenas – sobretudo se comparadas aos protestos de junho e julho de 2013 -, e não está claro se as […]

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Ativistas organizam, para este sábado, protestos contra a realização da Copa do Mundo, convocados pelas redes sociais em cidades como São Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Belo Horizonte e Goiânia.

As confirmações de participantes ainda são pequenas – sobretudo se comparadas aos protestos de junho e julho de 2013 -, e não está claro se as manifestações serão capazes de lotar as ruas. Mas servirão de “termômetro” para o alcance das mobilizações populares ao longo dos próximos meses, avalia Rafael Alcadipani, especialista em estudos organizacionais da FGV-SP.

Alcadipani participou, com outros acadêmicos, de pesquisas com policiais e manifestantes “black blocs” no ano passado, no auge dos confrontos nas ruas. Ele falou à reportagem por telefone:

Pergunta – Há no Facebook diversos protestos organizados para este sábado, mas há a mesma ebulição social que vimos em junho e julho passados?

Rafael Alcadipani – Não vejo o mesmo contexto, apesar de vivermos um momento de inflação (provocando descontentamento popular). Não há nada parecido ainda. Mas acho que vai ter um termômetro para que possamos ver o quanto isso vai crescer até a Copa do Mundo.

Além disso, é bom lembrar que em junho não havia nada no horizonte e, de repente, veio (a onda nacional de protestos).

E as questões conjunturais (que eclodiram na época) não foram resolvidas – como a violência policial, a qualidade dos serviços públicos, a reforma política que não aconteceu.

Os “rolezinhos” e as proibições que se seguiram podem dar novo impulso à mobilização?

Rafael Alcadipani – Acho que o caldo dos “rolezinhos” tem algo parecido a isso, mas o governo logo partiu para o diálogo, afirmando que (os encontros de jovens) não são caso de polícia. Acho que agiu bem, após ter entrado de forma violenta (em referência à reação inicial de confrontos em alguns shoppings paulistanos).

Podemos ter a mesma conjunção de fatores que levou aos protestos do ano passado?

Rafael Alcadipani – De fato. Nada que é estrutural foi mudado desde então. Mas é prematuro avaliar a disposição das pessoas. Os “rolezinhos” foram uma espécie de marola, não sabemos como virá a próxima onda.

Lembrando que, na Turquia e no Egito, manifestações populares voltaram (após alguns hiatos).

O senhor acompanhou policiais e “black blocs” no ano passado. A mobilização deles continua?

Rafael Alcadipani – Entrevistei mais os policiais, e minha colega Esther Solano (Unifesp), os “black blocs”. Acho que no momento eles não estão tão mobilizados quanto antes, muitos foram alvo de inquéritos policiais. Mas algumas pessoas na PM veem potencial explosivo, chance de que ocorra violência.

Acredito que teremos mais mobilização após o carnaval, mas poderemos medir a temperatura disso neste sábado. As manifestações são contra a realização da Copa, resta ver o quanto essa agenda vai chamar a atenção da população em geral.

No ano passado, quando a violência dos protestos chegou ao auge, o senhor opinou em artigos que faltava um diálogo construtivo para conter a espiral de confrontos. Esse diálogo aconteceu?

Rafael Alcadipani – Não, e um problema é que o país tem lidado com as questões sociais e com as mobilizações como caso de polícia. Esse diálogo ainda está por acontecer.

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