‘Meu passeio é para levar minhas filhas ao médico’, diz mãe superespecial
Ela é enfermeira, atleta, levantadora de peso, dona da casa, cozinheira. Seu codinome: mãe, mas também é conhecida como Maria Aparecida de Souza, 45 anos, uma mãe superespecial. Ela tem três filhos: Luiz Fernando, Letícia, 21 anos, e Natália, 19 anos, sendo que as meninas são especiais, pois nasceram com microcefalia, que é quando o […]
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Ela é enfermeira, atleta, levantadora de peso, dona da casa, cozinheira. Seu codinome: mãe, mas também é conhecida como Maria Aparecida de Souza, 45 anos, uma mãe superespecial. Ela tem três filhos: Luiz Fernando, Letícia, 21 anos, e Natália, 19 anos, sendo que as meninas são especiais, pois nasceram com microcefalia, que é quando o tamanho da cabeça é menor do que o típico para a idade da criança.
Ser mãe era o sonho de Maria. Quando se casou, demorou cinco anos para que seu menino nascesse, “ser mãe, para mim, é maravilhoso, porque era meu sonho, quando engravidei do meu filho, foi um sonho para mim, aí depois que as duas nasceram minha vida mudou completamente…”, lembrou.
Com as lutas e dificuldades diárias, a base de dona Maria está na fé e no amor às filhas. “Amo as minhas filhas demais, são meus anjos, mas quando fiquei sabendo que a minha filha tinha uma deficiência me desesperei, porque eu não esperava, foi um choque”.
Ela passou da profissão de empregada doméstica para exercer integralmente a função de mãe; abdicou de sua vida para viver a vida das filhas, “é tudo difícil sobre saúde, para sair de casa também, a gente não passeia, eu fico mais em casa com elas, só vamos para médico mesmo, porque até hoje eu não tenho um carro, é caro para pagar toda vez que saímos”, disse a mãe.
Dificuldades
As jovens são como crianças e dependem da mãe para tudo, ela tem que dar banho e trocar as fraldas. “Ninguém tem a paciência que eu tenho com elas, nem meu marido. As vezes fico muito cansada, porque é muito corrido, precisava de alguém que me ajudasse”, confessou.
Maria reconhece que hoje está muito melhor do que antes, pois as dificuldades eram bem maiores. A família vive com cerca de R$2 mil, renda que é composta de um salário mínimo do benefício assistencial de Letícia, Loas (Lei Orgânica de Assistência Social), e do trabalho do pai delas, que é pedreiro.
Os gastos mensais são grandes com remédios, fraudas e transporte. A casa ainda não tem estrutura, não é adequada para elas, a mãe sonha em construir um banheiro adaptado, mas não tem condições financeiras.
“Já passei por situações que bateu um desanimo, deu vontade de parar com os tratamentos, mas a fé me levanta para continuar, porque tem hora que bate um desespero!”.
Letícia e Natália começaram a andar com dois anos e meio. Segundo a mãe, Letícia andou por milagre, pois a menina nasceu com luxação no quadril e o médico falava que ela não iria andar. E aprenderam a falar com quase sete anos.
“Agradeço a Deus, porque mesmo com a Letícia com problema na perna e não conseguindo andar no momento, e a Natália com problema de vista, não são casos tão graves”.
“Castigo”
Para a tristeza da mãe, a discriminação pelas filhas ocorreu até mesmo dentro da família, “a própria família falava que era castigo. Porque eu falo que é coisa de Deus, que eu fui presenteada por Deus, daí eles falam ‘ah, mas não é coisa de Deus, não, como Deus vai dar duas pessoas especiais para uma mãe só?’, mas eu não me sinto culpada de nada”, declarou.
Uma ocasião que muito entristeceu Maria, foi durante uma missa, em que sua filha Letícia gritava e uma mulher começou a falar para ela que Letícia deveria ir para o hospício, que ali não era lugar para ela.
Contudo, vendo a situação por outra perspectiva, a mãe disse que perdeu amigos, porém ganhou outros. “A minha vida mudou muito, porque fiz tanta amizade, tantos amigos através delas!”.
Muitas pessoas de bom coração também apareceram na vida da família, pois há oito meses Letícia fez uma cirurgia no joelho, que custava mais R$ 20 mil, e foi paga integralmente por terceiros. Eles também conseguiram a doação de uma cadeira de rodas e alguns remédios.
Sonhos & Alegrias
Maria sonha muito que suas filhas melhorem, “sonho bastante coisa…. Meu sonho mesmo é que Letícia voltasse a andar, que conseguisse uma clínica para fazer fisioterapia, pois ela precisa. E a Natália, resolver os problemas da visão. O que eu queria também era ter um carro, ia ajudar bastante, tanto para levar para o médico como para passear, porque ela precisa de transplante de córnea”.
Mesmo em meio às dificuldades, a mãe sorri com a presença das filhas, “a Natália gosta de fazer arte, um dia ela ficou pulando na cama até quebra-la [risos], já a Letícia é mais falante, gosta de conversar bastante. Esses dias elas viram um comercial na televisão que falava de amor e falaram, enquanto eu estava na cozinha, ‘mamãe nós te amamos’. E eu me alegro, sim! Porque meu marido é um pai maravilhoso e apesar de tudo nós somos felizes, elas me dão alegria. A maior dificuldade que eu passo mesmo é quando tem que sair e para ir ao médico”, diz sorrindo e chorando de emoção.
Ela também nunca pensou em desistir da vida, pois seu maior medo é “partir” antes das filhas. Mas uma coisa faz com que ela fique muito revoltada, “eu tenho as duas e cuido delas, só que daí quando liga o rádio escuto essas histórias de pessoas que matam as crianças, aquilo ali bate uma revolta tão grande!!!! Porque as crianças nascem normais, perfeitinhas e os pais ou padrasto mata”.
Dia das mães
Já quando toca no assunto “Dia das mães” a feição da nossa ‘mãe superespecial’ muda, a tristeza é evidente em seu semblante e as lágrimas rolam.
“É muito triste… (começa a chorar) eu tenho saudade da minha mãe que faleceu há cinco anos, também por causa das minhas filhas, porque eu queria muita coisa…”, neste momento as meninas começam a ficar preocupadas, falando para a mãe parar de chorar, a abraçam e beijam.
A mãe revela que muitas vezes chora escondida, para que as filhas não fiquem tristes ou preocupadas. “Foram tempo difíceis, hoje elas dão muito menos trabalho do que davam antes, os problemas que eu tenho hoje não são nada, comparados ao que já passei. Quando vejo as fotos, relembro de tudo que passei… dai me pergunto: Como passei por isso? Já se foram mais 20 anos…”, finaliza a mãe guerreira superespecial, Maria Aparecida de Souza, mãe de Luiz Fernando, Letícia e Natália.
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