‘Libertei meu pai’, disse filho de cineasta morto no Rio a vizinho
Daniel Coutinho, 41 anos, filho do cinesta Eduardo Coutinho, 81 anos, é considerado por um vizinho que não quis se identificar como uma pessoa “muito introvertida”. O rapaz tem esquizofrenia e está sob custódia, apontado como o principal suspeito da morte do pai, assassinado a facadas no domingo no Rio de Janeiro. “Ultimamente quase não […]
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Daniel Coutinho, 41 anos, filho do cinesta Eduardo Coutinho, 81 anos, é considerado por um vizinho que não quis se identificar como uma pessoa “muito introvertida”. O rapaz tem esquizofrenia e está sob custódia, apontado como o principal suspeito da morte do pai, assassinado a facadas no domingo no Rio de Janeiro. “Ultimamente quase não o via mais. Ele praticamente não saía de casa. Sempre foi uma pessoa muito quieta”, contou o morador do apartamento do 6º andar do edifício onde morava um dos principais documentaristas do Brasil. O vizinho também relatou que, após ter atacado os pais, Daniel bateu em sua porta e disse: “libertei meu pai. Tentei libertar minha mãe”.
Eduardo e a mulher, Maria das Dores de Oliveira Coutinho, 62 anos, eram tidos como um casal “generoso e tranquilo”. “Ele emprestava a garagem pra guardar o carro. O pessoal do prédio está chocado. Era um casal muito meigo”, disse o morador no velório do cineasta que ocorre desde as 11h desta segunda-feira no Cemitério São João Baptista, em Botafogo, no Rio de Janeiro.
Vera Lucia Maciel Savelle, 62 anos, que fez parte do documentário Edifício Master dirigido por Coutinho, considerou incríveis os três meses de convivência com o cineasta. “Vim prestar minha homenagem. Infelizmente vi isso somente nos jornais de hoje. É uma lamentável notícia, não podia deixar de vir aqui dar meu adeus.”
Moradora do prédio que deu nome ao documentário, Vera contou que foram meses de vida compartilhados com todos os moradores do Master. “Ficou uma amizade gostosa de alguém que sabia conversar com as pessoas e que soube extrair um pedaço de vida de cada um dos moradores”, elogiou, com um cartão postal em suas mãos com a imagem do prédio. “Foram meses de muita farra, alegria e de momentos que vou guardar para sempre na minha memória”, completou.
O ator Paulo Ascenção conhecia Coutinho há 20 anos e trabalhou com o cineasta em Edifício Master e O Astro. No velório, ele valorizou a competência e a generosidade do documentarista. “Ele tinha muito conhecimento do que fazia e sensibilidade de extrair tudo o que precisava do entrevistado. Generosidade por não ter receio de ensinar e não tinha problema em trocar figurinhas. Jamais esperaria isso. Foi uma pancada.”
Para Ascenção, Edifício Master pode ser considerado como o auge do trabalho dele. “Foram dias incríveis em que as pessoas não queriam sair de casa e tinha vergonha de aparecer na câmera, mas como a abordagem dele foi fantástica, ele conseguiu produzir esse belo trabalho”, completou.
“Era uma pessoa engraçada”
“Foi uma surpresa muito grande e ruim para todo mundo. Eu era a ligação dele com a família de São Paulo”, disse Heloísa de Oliveira Coutinho, 78 anos, irmã do cineasta, paulista e radicado no Rio de Janeiro. Ela disse que recebeu a notícia do sobrinho, Pedro Coutinho, por volta de 13h do último domingo e chegou ainda ontem ao Rio para o velório e enterro do irmão.
“A gente se falava pouco. Ele era uma pessoa muito discreta, não externava a sua vida pessoal”, afirmou ainda sobre o ataque de Daniel, seu outro sobrinho, ao irmão e cunhada. A Polícia Civil já confirmou que ele foi o ator do assassinato do pai e da tentativa de homicídio da mãe. Ele está sob custódia no hospital municipal Miguel Couto, na zona sul do Rio. Após os golpes com faca no casal, ele teria tentado se matar.
“A gente desaba com uma notícia dessas. Mas eu posso dizer que o meu irmão, apesar do conhecido mau humor, era uma pessoa engraçada, com umas tiradas incríveis, ótimo pai e com uma maneira inigualável de ser”, concluiu.
“Respeitado no mundo inteiro”
Para o cineasta Luiz Carlos Barreto, mais conhecido como Barretão, a morte de Coutinho é uma perda enorme para o cinema não só brasileiro, mas mundial. “Ele foi um documentarista respeitado no mundo inteiro. Ele modernizou a linguagem do documentário com uma linguagem dramatúrgica, com profundidade de análise, e não apenas com um registro. Em suma, ele abriu uma escola e levou as pessoas ao cinema para ver documentários, coisa que as pessoas não eram acostumadas a fazer”, considerou.
Barretão diz que via Coutinho “ocasionalmente, o que eu lamenta muito”, mas que virou amigo quando ele o ajudou a escrever o roteiro de Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1976, premiado filme nacional dirigido pelo filho, Bruno Barreto.
“Nessa época ele conviveu muito comigo, com a Lucy (Barreto, sua esposa) e com o Bruno (Barreto). Vivíamos na minha casa, em Botafogo, onde trabalhamos juntos. Era uma pessoa de um humor ótimo, apesar de ser conhecido por ser discreto e na dele. Ele não desperdiçava palavras e guardava, de fato, o talento dele para os filmes. Não era exibicionista”, afirmou ainda. “Nos encontramos pela última vez no Jardim Botânico, onde tomamos um café, há cerca de sete meses. Uma pena”.
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