Jogadores demitidos enxergam Botafogo precário e detonam presidente

Doze dias depois da demissão, os quatro jogadores que foram mandados embora pelo presidente Maurício Assumpção ainda não têm uma explicação para o que aconteceu no Botafogo, mas fizeram questão de revelar detalhes dos bastidores alvinegros. Emerson Sheik, Bolívar, Edílson e Julio Cesar se reuniram em um restaurante na Barra da Tijuca, Zona Oeste do […]

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Doze dias depois da demissão, os quatro jogadores que foram mandados embora pelo presidente Maurício Assumpção ainda não têm uma explicação para o que aconteceu no Botafogo, mas fizeram questão de revelar detalhes dos bastidores alvinegros.

Emerson Sheik, Bolívar, Edílson e Julio Cesar se reuniram em um restaurante na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, e demonstraram a insatisfação com o que aconteceu no dia 3 de outubro. “Vim de um lugar que não faltava remédio, que a diretoria se fazia presente e ninguém me pedia dinheiro para a gasolina”, destacou Emerson Sheik.

Dos quatro demitidos, somente o zagueiro Bolívar acertou a rescisão nesta quarta-feira. Edílson e Julio Cesar disseram que os representantes estão cuidando da negociação. Já o atacante Sheik, preferiu a ironia. “Estou na praia”, brincou o jogador, que sempre foi pago (integralmente) pelo Corinthians.

Veja as principais declarações dos jogadores:

Departamento médico

“Mancini sabe muito bem, como os outros treinadores com quem trabalhei, que nunca fiz corpo mole, sempre me entreguei nos treinos e jogos. Até por isso, no jogo com o Ceará, acabei me machucando. Acho falta de caráter me acusar desta forma. Todos os médicos me deram para voltar dia 15, contra o Santos. Tentei viajar contra o Inter, mas não consegui. Comprava o tratamento do meu próprio bolso. Depois de ter comprado os remédios, o Gottardo veio me dar uma dura que não era para eu ter comprado do meu bolso. O Botafogo, pela história que tem, não pode ter pessoas que permitam que um atleta tenha que comprar. Isso é o fim do mundo”, conta Edílson sobre dificuldades que enfrentou durante sua recuperação.

“Um clube da Série A, profissional, vai contratar jogador de futebol, que entra e joga. Agora, se quer contratar quem não pode falar que vá contratar um pastor evangélico ou a minha irmã. Fui contratado pelo Botafogo e não sai da folha salarial do Corinthians. Vim contratado para ajudar o Botafogo. Pela ausência do presidente, ele não deve ter esta informação, joguei seis partidas com o meu tendão de Aquiles doendo absurdamente. Isso aconteceu porque o Botafogo não tem um campo de treino decente. Odeio perder e se tem uma coisa que magoou profundamente é lembrar que chegava em casa arrasado, me cobrando muito porque queria ajudar mais, e quando aconteceu isso pensei: ´Este cara só pode estar de sacanagem´. Vim de um lugar que não faltava remédio, que a diretoria se fazia presente e ninguém me pedia dinheiro para a gasolina. Não tenho nada para falar da comissão técnica. Mancini é um cara extraordinário e que foi colocado por Deus no caminho do Botafogo. O presidente tem todo direito de contratar e mandar embora quem ele quiser. Após a demissão, ele passa a ter uma responsabilidade sobre o pagamento de cada um de nós. O que vai acontecer daqui pra frente, ele tem que responder”, relata Emerson Sheik.

A demissão

“Viemos aqui para dar o nosso depoimento, esclarecer tudo aquilo que não teve uma explicação. Até hoje queremos saber o porquê os quatro estão fora do Botafogo”, conta Bolívar.

“Quando a gente é contratado por um clube isso não acontece por email. O presidente tinha que ser homem e dizer o motivo, Telefonema ou email não é respeito. Ele tinha que assumir o que fez. Em hora nenhuma, ele falou com a gente”, diz Júlio César sobre a forma como foi demitido.

“Apunhalado é um bom termo, mas não pelo clube. Pelas pessoas. Fizemos uma campanha brilhante no ano passado e levamos o time à Libertadores. Neste ano, que começou com muita coisa errada, nunca ninguém deixou de treinar e se entregar. O mais importante é saber que demos o melhor pelo clube, honramos a camisa do Botafogo, pela história e jogadores brilhantes que lá passaram, mas a gente fica triste com o desrespeito. Ele podia ter chamado os quatro e conversado numa boa”, conta Bolívar

Ausência do presidente

“O presidente não fez parte do dia a dia do futebol profissional. Poucas vezes o vi por lá, não que fosse obrigação estar lá. Esta história de ser uma liderança negativa não existe e não sei de onde ele tirou isso. Pelo contrário, o treinador entregou o cargo ao saber do afastamento, assim como o grupo discordou. Sabemos que cada um tem a sua família, mas o futebol nem sempre permite você abraçar uma causa e estoura sempre no pequeno. Nada daquilo que o presidente falou foi verdade”, diz Emerson sobre as declarações dadas pelo presidente para justificar demissões. “Vai continuar papo de maluco pra ca…(sic). Ele falou que os atletas não se ausentaram, foram aos tratamentos, nem se atrasaram nos treinos. Não lembro dele como nada no futebol. Estávamos tentando sair da lama, do buraco, que ele mesmo colocou. Quatro caras empenhados e ele mandou embora. Pra nós, ele pode contratar e demitir. Os motivos? Ninguém sabe e não estou mais interessado em saber. O que quero é que ele assuma a responsabilidade e pague. Tem gente no clube que passa fome, que faz todas as refeições no clube porque não tem dinheiro para comer em casa. Tem gente que tem filho pequeno em casa e ao tem dinheiro para o leite. Tem gente que chega em casa e não tem dinheiro”.

“Tem jogador lá com sete meses atrasado e ele tem que acertar com tudo antes de mandar embora, não é passar para a próxima diretoria. Ele tem que ser homem de assumir isso tudo”, conta Júlio César.

“O Mancini é um excelente profissional e nós jogadores entrávamos em campo pelos torcedores, pela nossa família, pelo nosso nome e pela comissão técnica, que nunca nos abandonou. A decisão foi total do presidente. Talvez, ele entenda mais de futebol”, dispara Edílson.

Líderes e cobranças

“Nós quatro e mais alguns líderes do grupo sempre tivemos o pensamento de cobrança normal. Estávamos com 7 meses de salários de imagem e 3 de carteira em atraso e a cobrança era normal. Em momento algum, pensamos somente nos jogadores. Nos rachões, a gente arrecadava cesta básica para os funcionários. Até agora, não entendo os motivos e fico perguntando o que aconteceu. Brigamos por todos no clube e saímos. Ouvi dizer que fomos afastados por deficiência técnica, mas os quatro eram titulares e peças importantes. Minha mãe ligou buscando explicação e fica difícil ter o que dizer”, conta Emerson.

“Na verdade, não é cobrança. É um direito de receber os nossos salários. Sempre que fizemos estas reuniões e nunca eram com o presidente, tinha uma decisão com a comissão e jogadores para tomar uma decisão e levar para a direção. Emerson ajudou muitos ali dentro e aí você vê o caráter do ser humano. Ano passado, o Botafogo fez uma grande campanha e éramos apontados como líderes positivos. Achamos errado pela falta de respeito com os quatro aqui. No meio do ano, teve um comunicado. Depois, veio uma reunião dos jogadores para que eu permanecesse. Se eu fosse um líder negativo, os jogadores não teriam pedido para eu ficar. Como pode uma pessoa mudar e todo mundo conhece a minha história e eu me transformar em um líder negativo. Estava para fazer o centésimo jogo com a camisa do Botafogo, mas ele não me deixou. Joguei sete anos no Inter e fui capitão durante seis, ganhando tudo que podia ganhar, e você passar a ser um líder negativo. A liderança que eu exerço dentro do vestiário é ser um cara que ajuda companheiro fora de campo. O Dória, por exemplo, é um cara que me escutou muito e prova a pessoa que sou. Estou feliz por ter contribuído de forma positiva para ele estar jogando lá fora”, conta Bolívar sobre ser considerado uma liderança negativa dentro do clube pelo presidente.

Demissões

“Acabei de rescindir meu contrato hoje e não tenho mais nenhum vínculo com o Botafogo”, diz Edílson.

“Também acertei minha rescisão de vínculo trabalhista com o Botafogo e meu empresário está revendo algumas outras questões”, continua Júlio César.

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