Famílias expulsas de prédio da Telerj vivem improvisadas em igreja no Rio
A uma semana do início da Copa do Mundo, cerca de 300 pessoas que em março deste ano haviam ocupado o terreno que ficou conhecido como Favela da Telerj, no Rio de Janeiro, ainda estão abrigadas de forma precária no ginásio de uma igreja a cerca de um quilômetro do Aeroporto Internacional Tom Jobim, por […]
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A uma semana do início da Copa do Mundo, cerca de 300 pessoas que em março deste ano haviam ocupado o terreno que ficou conhecido como Favela da Telerj, no Rio de Janeiro, ainda estão abrigadas de forma precária no ginásio de uma igreja a cerca de um quilômetro do Aeroporto Internacional Tom Jobim, por onde a maioria dos turistas que vem para o Mundial deve chegar à cidade.
Integrantes do grupo, que alegam terem sido vítimas do aumento do valor dos aluguéis na cidade no período de preparação para a Copa, participaram de um protesto que bloqueou o acesso ao aeroporto no dia em que a seleção brasileira se apresentou no Rio, na semana passada.
Eles são remanescentes das mais de 5 mil pessoas que invadiram, ainda em março, um prédio no bairro do Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, que pertence à antiga empresa de telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (Telerj).
O caso ganhou repercussão internacional semanas depois, no dia 11 de abril, quando cerca de 80 militares e 1.650 policiais removeram com truculência as famílias de dentro do local.
Muitos tiveram que sair sem documentos, houve feridos e as imagens dos confrontos rodaram o mundo.
Resistência
Em depoimento, Carlos Alessandro de Souza diz que vivia na comunidade Jacarezinho, e que teve que deixar a casa onde vivia com a mulher e os cinco filhos, porque a dona do imóvel decidiu alugar para outra pessoa a um preço mais elevado.
“Devido ao aumento de aluguel com as ocupações de UPP nas comunidades, eu não tive outra opção”.
O filho mais novo, Carlinhos, tinha apenas um mês quando a família ficou sabendo da ocupação da Telerj e decidiu juntar-se ao grupo.
“Fui para lá, assim como milhares de outras pessoas na mesma situação. Quando a gente tinha conseguido se instalar, com um gato para a energia elétrica, veio a polícia e nos tirou de lá com muita paulada. Meus companheiros fizeram uma rodinha em torno de mim para que eu saísse com o bebê no colo, embaixo de bombas de gás e spray de pimenta”, relembra.
Desde então muitos foram buscar abrigo em casas de parentes ou ficaram sem moradia, mas o grupo que está na igreja vem resistindo.
Eles já estiveram acampados diante da Prefeitura, e em frente à Catedral Metropolitana do Rio, de onde receberam a oferta da Arquidiocese do Rio de Janeiro para que fossem ao ginásio da paróquia na Ilha do Governador.
O grupo reivindica que o governo municipal providencie uma casa para cada família, mas a Prefeitura diz que a situação não é tão simples e que há outras famílias que já aguardam moradia.
Consultado pela reportagem, o governo municipal confirmou as declarações recentes do prefeito Eduardo Paes sobre a compra do prédio da antiga Telerj.
“A Prefeitura do Rio está adquirindo a área onde funcionava um almoxarifado da empresa Oi, no Engenho Novo, onde construirá o Bairro Carioca 2, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, em parceria com o Governo Federal, que terá 1.300 apartamentos”, disse a Secretaria Municipal de Habitação.
Tudo indica, no entanto, que os apartamentos devem ser destinados aos que já aguardam na fila do programa federal, e não aos desalojados que aguardam na igreja Nossa Senhora do Loreto.
Há uma fila de espera e sorteio para o programa federal Minha Casa Minha Vida, na qual os integrantes do grupo já teriam sido cadastrados. Além disso teriam sido ofertadas vagas em abrigos da Prefeitura, rejeitadas pelas famílias.
Segundo a Prefeitura, não há possibilidade de solução imediata.
Remoções e déficit habitacional
A situação com os ex-ocupantes do prédio da Telerj é símbolo do que, segundos os desalojados, tem sido o reflexo do Mundial para os mais pobres.
Eles argumentam que além de elevar os preços dos aluguéis devido à especulação imobiliária, os preparativos para a Copa retiraram milhares de suas casas, com as remoções e reassentamentos para obras relacionadas ao torneio – tanto negociadas quanto forçadas.
O grupo de 300 pessoas que vive atualmente na paróquia Nossa Senhora do Loreto, na Ilha do Governador, é apenas uma pequena amostra de um universo muito maior.
Consultada pela reportagem, a Prefeitura do Rio diz que entre janeiro de 2009 e 17 de maio de 2014, já houve o reassentamento de 21.259 famílias.
O número é interpretado de formas diferentes. Para a Secretaria Municipal de Habitação, 19.319 famílias tiveram que abandonar suas casas por viverem em situações classificadas como alto risco e apenas 1.940 famílias foram reassentadas em função de obras.
O governo municipal diz que desse total, 10.280 famílias (52%) receberam imóveis do programa federal Minha Casa, Minha Vida, 30% receberam indenização e 18% estão recebendo aluguel social – um auxílio no valor de R$ 400 ou R$ 500 que pode ser concedido por um período máximo de 12 meses.
Um estudo recente divulgado pela Fundação João Pinheiro revelou que o deficit habitacional cresceu 10% entre 2011 e 2012 nas nove metrópoles monitoradas pelo IBGE, perfazendo um total de 1,8 milhão de famílias sem residência adequada nessas regiões.
No Rio de Janeiro, o instituto calculou que em 2011 havia 299.649 famílias sem moradia adequada, e em 2012 havia 331.260, uma elevação de 10,5%.
De acordo com o Instituto Pereiro Passos, atualmente há um déficit de 148 mil casas na capital fluminense.< P>
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