Empresas de maconha nos EUA ‘imploram’ a bancos que aceitem seu dinheiro

A empresa de Elliot Klug não está no ramo de segurança – mas bem que poderia estar. “Digamos que eu tenho alguns funcionários armados”, diz ele. O empresário é dono da Pink House, uma das lojas de maconha vendida legalmente no Estado americano do Colorado. Klug conta que não conseguiu achar um banco que aceite […]

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A empresa de Elliot Klug não está no ramo de segurança – mas bem que poderia estar.

“Digamos que eu tenho alguns funcionários armados”, diz ele.

O empresário é dono da Pink House, uma das lojas de maconha vendida legalmente no Estado americano do Colorado. Klug conta que não conseguiu achar um banco que aceite os milhares de dólares em espécie que a empresa recebe diariamente desde a legalização da maconha por motivos recreacionais no Estado, ocorrida em 1º de janeiro deste ano.

“Até mesmo carros blindados receberam a orientação de não trabalhar conosco”, diz Klug.

A maconha foi legalizada no Estado, mas as instituições bancárias são reguladas por leis federais que as proíbem de receber dinheiro relacionado ao cultivo e venda da droga – que, tecnicamente, ainda é considerada ilegal no âmbito nacional.

O governo de Barack Obama tentou convencer os bancos de que não pretende processá-los por fazer negócio com as empresas de maconha do Colorado, e divulgou novos procedimentos na semana passada. Ainda assim, os bancos não estão convencidos.

“Um ato do Congresso é a única forma de resolver esse problema”, diz o presidente da Associação de Banqueiros do Colorado, Don Childears, que continua recomendando que os bancos recusem dinheiro oriundo da venda de maconha, para se protegerem de possíveis acusações de lavagem de dinheiro.

Mas a indústria da maconha não para de crescer. A previsão é de que ela movimente cerca de US$ 10,2 bilhões até 2018, e a pergunta continua: o que fazer com esse dinheiro todo?

‘Não somos traficantes’

O uso recreacional da maconha passou a ser permitido no Colorado apenas desde o começo deste ano, mas a utilização medicinal já está vigor há dez anos.

A maioria das empresas estabelecidas no ramo medicinal consegue usar os bancos de forma legal. Uma delas, a Simply Pure, trabalha desde 2010 no ramo de alimentos com maconha – produzindo brownies, biscoitos, molhos e pasta de amendoim.

Em um ano de fundação, a empresa já fazia negócios com 400 lojas de venda de maconha. Mas tudo isso foi interrompido de forma súbita em 2012 quando o banco Wells Fargo suspendeu a conta corrente da Simply Pure.

“Eles disseram que estavam pondo fim a todas as relações com pessoas que tivessem alguma ligação com maconha. Mesmo tendo a certeza de quem éramos – de que não éramos traficantes nem integrantes de cartéis”, diz Wanda James, que é dona da empresa.

A Simply Pure acabou fechando cinco meses depois da decisão do banco.

Nos últimos dois anos, o governo Obama já emitiu quatro comunicados diferentes sobre a relação entre bancos e maconha. O problema é que o Executivo – que está sob controle do presidente – não é quem dita as regras do jogo neste caso. Isso cabe ao Legislativo.

Banqueiros temem não só a possibilidade de serem presos, como também multas e a suspensão de suas licenças.

Medicine Man Denver, que é um dos maiores fornecedores da região, conseguiu costurar um acordo com um banco local. Ainda assim, os termos não são os melhores, e o banco não fornece empréstimos.

A empresa pensa agora em como operar quase que exclusivamente com dinheiro em espécie.

“É muito duro, somos uma indústria legítima, estamos dentro do escopo da legislação do Colorado, mas ainda somos tratados como cidadãos de terceira classe em muitos níveis”, diz Sally Vander Veer, diretora da empresa.

O sentimento é o mesmo de Wanda James, que promete reabrir a Simply Pure no futuro.

“O Estado do Colorado recebeu mais de US$ 20 milhões em receitas, e eles podem receber o dinheiro e depositar no banco. Mas nós não podemos depositar o mesmo dinheiro no nosso banco”, diz ela.

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