Documentário de cineasta de MS conta a história de Delinha: a dama do rasqueado

Gravar um documentário que narre a vida de uma das maiores artistas que Mato Grosso do Sul já conheceu não é tarefa fácil. Ainda mais que a história de Delinha se funde com a própria história musical do Estado. A grande dama do rasqueado cantou amores, natureza, beleza e os costumes da terra pantaneira. Trazer […]

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Gravar um documentário que narre a vida de uma das maiores artistas que Mato Grosso do Sul já conheceu não é tarefa fácil. Ainda mais que a história de Delinha se funde com a própria história musical do Estado. A grande dama do rasqueado cantou amores, natureza, beleza e os costumes da terra pantaneira.

Trazer para o conhecimento dos fãs e também daqueles que só ouviram falar quem foi Delinha é o desafio que a cineasta Marinete Pinheiro, formada na Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) de Cuba, se propôs. Junto com Jerry Espindola, produtor do filme, eles já estão em gravação de “A Dama do Rasqueado”. “A ideia nasceu de uma necessidade. Queria fazer um documentário de uma mulher, e não poderia ser outra. Pensamos nela”, conta Pinheiro.

Marinete sabe a responsabilidade que assumiu, com a equipe, e já começou a juntar um pouco do que integrará o longa de 52 minutos, que está sendo produzido com recursos do FIC (Fundo de Incentivo à Cultura) – total de R$ 55 mil.

Em dezembro passado, ela aproveitou o circuito universitário da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e gravou em várias cidades com Delinha. Corumbá, Coxim, Ponta Porã e Maracaju foram algumas das cidades que receberam a grande dama e equipe do videodocumentário. “Gravamos com ela e aproveitamos para pegar alguns depoimentos”, conta Marinete, lembrando que são muitos os artistas que contam belas histórias com Delinha.

Rasqueado e Poesia

Um dos pontos fundamentais do filme, que será bem musical, revela, será explicar o que é esse tal rasqueado. O estilo mais arrastado, com forte influência do chamamé, consagrou Delinha. “É um gênero bem específico, tocado pelo Délio e pela Delinha”, lembra Pinheiro.

Fã da dupla, Marcelo Loureiro gravou depoimento e fala no documentário a diferença do que é o rasqueado.

As letras das músicas, consideradas verdadeiros poemas, por muitos, é outro assunto que rende conversa. Marinete conta que Paulo Simões é outro fã de Delinha e brinca não se perdoar por não ter sido ele o compositor de “Por onde andei”. “Ele diz no documentário que é a música mais linda de Mato Grosso do Sul, que é um verdadeiro blues, e até brinca que queria ele a ter composto”, conta.

Talento

Marinete conta no filme que a dupla foi a primeira de Mato Grosso do Sul a assinar contrato com uma gravadora. E a seleção não era fácil. “Antigamente as gravadoras tinham uma avaliação muito rigorosa do talento das pessoas. Hoje quem tem dinheiro paga uma gravadora e grava. Antes era preciso ser extraordinário”, diz.

E foi esse algo além que levou a dupla do interior para gravar em São Paulo. Apesar de o sucesso ter batido a porta e tudo parecer glamouroso, Delinha conta no documentário que tudo foi muito difícil, e eles acabaram voltando para Campo Grande.

O começo, o fim

Logo depois veio o fim da dupla, que ficou alguns anos separada e 20 anos sem gravar novo disco. Até que a pedido do público voltaram. “Todos queriam o casal de ‘onça’ juntos cantando”, relembra.

E quando Délio faleceu, ela passou a cantar com o filho João Paulo. Até hoje por onde passa, causa frisson. Como uma estrela que nunca se apaga, o jeito delicado aliado a uma alma guerreira, de mulher forte, encanta, revela Marinete, que também já se rendeu aos encantos de Delinha.

Por onde Andei – Délio e Delinha

Tive medo da madrugada

depois de uma noitada

Bebendo todas pra esquecer

Meus passos eram incertos

Tudo era deserto

Na Rua do Padecer

 

Padecer que não doía

E já era um novo dia

Ao meu lar então voltei

 

Minha casa, minha rua, meus amigos

Me olharam como inimigo

A perguntar por onde andei

 

No lugar das luzes multicores

Senti os perfumes das flores

Fiz de tudo e nada fiz

Entrei no cassino e joguei

Se ganhei ou perdi eu não sei

Esta noite eu estava feliz

 

Se violão, bebida e serenata

E um belo luar de prata

São companhias pra reprovar

 

Alguns beijos perdidos

Alguns abraços esquecidos

Que então venham me condenar

 

Padecer que não doía

E já era um novo dia

Ao meu lar então voltei

 

Minha casa, minha Rua, meus amigos

Me olharam como inimigos

A perguntar por onde andei

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