Com remédios para emagrecer liberados, médicos e farmacêuticos temem abusos e vício em MS

Após a derrubada da resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que proibia o uso de alguns remédios para emagrecer, especialistas em Campo Grande alertam que o uso indiscriminado pode causar dependência equiparada à da cocaína. Além disso, o abuso desses medicamentos já é problema grave em MS com a facilidade de comprar sem […]

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Após a derrubada da resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que proibia o uso de alguns remédios para emagrecer, especialistas em Campo Grande alertam que o uso indiscriminado pode causar dependência equiparada à da cocaína. Além disso, o abuso desses medicamentos já é problema grave em MS com a facilidade de comprar sem receita médica no Paraguai.

O psiquiatra Nelson Neves de Farias informa que já atendeu um paciente que estava visivelmente viciado na substância anfepramona. “Ele estava nervoso, ansioso, agitado, desesperado e queria que eu receitasse essa substância. Disse para ele que não trabalho com esse remédio”, relata.

Neves ressalta que, entre as substâncias que foram liberadas, a mais ‘leve’ é a sibutramina, também indicada para o tratamento contra a depressão, cujo efeito colateral é a perda de apetite. Este composto, de acordo com ele, não causa dependência. “O femproporex e a anfepramona são perigosíssimos. Causam uma dependência igual às drogas pesadas como a cocaína”, adverte.

Assim como Neves, o médico endocrinologista Emanuel Pereira informa que, embora tenham efeitos colaterais perigosos, é favorável à liberação. “Acho que nunca deveria ter sido proibido. Os médicos têm autonomia para receitar remédios aos pacientes. O que eu acho é que deveria ser melhor controlado, e não proibido”.

Pereira frisa que a proximidade com o Paraguai não vai mudar muita coisa. “Isso já é antigo e cabe às autoridades de segurança. Já o controle interno, feito nas farmácias, é muito bom. Eu que sou médico não consigo comprar um remédio de outra especialidade sem receita”, destaca.

Por sua vez, o presidente do CRF-MS (Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul), Ronaldo Abrão, enxerga com cautela essa liberação. Segundo ele, esses remédios realizam um falso emagrecimento que dura pouco tempo.

“O efeito é temporário. A coisa mais indicada é readaptação alimentar e a prática de exercícios físicos. Só em alguns casos esses medicamentos podem ser usados em conjunto, porém, muitos médicos têm receitado essas substâncias indiscriminadamente”, acentua.

O CRF-MS lembra que os medicamentos para emagrecer estão entre os mais vendidos no Estado. Além disso, Abrão reforça que a fiscalização dentro do Mato Grosso do Sul é eficaz, contudo, também atribui à fiscalização nas fronteiras uma das causas do uso descontrolado.

Derrubada da resolução da Anvisa

Na última terça-feira (2), o Senado Federal derrubou, por meio de um Decreto Legislativo, a resolução da Ansiva que proibia o uso das seguintes substâncias no Brasil: anfepramona, femproporex, mazindol e sibutramina. Com isso, os médicos poderão receitar tais medicamentos para seus pacientes.

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