#CGRG115: Muitos não sabem, mas há um córrego ‘escondido’ bem no centro da Capital

CGR

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

CGR

A população mais jovem de Campo Grande não deve imaginar que debaixo da Rua Maracaju, correm águas de um córrego que há pouco mais de 40 anos, causou inundações históricas. Alguns comerciantes do trecho da Rua Maracaju entre a Avenida Calógeras e a Rua 14 de Julho sabem apenas que antes um canal existia ali e os comentários são de que ele sempre deixava tudo alagado depois que enchia.

Dados históricos guardados no Arca (Arquivo Histórico de Campo Grande) revelam todo o estrago que o córrego fazia. Um texto do engenheiro agrônomo Felipe Augusto Dias lembra que as inundações ocorreram por causa da urbanização incorreta do vale do córrego. Uma das nascentes do Maracaju ficava na rua com o mesmo nome, entre as ruas 13 de Junho, Antônio Maria Coelho e Doutor Arthur Jorge, onde hoje está localizado um hipermercado.

O engenheiro ainda lembra que a Maracaju pode ter sido a primeira via de Campo Grande com canal de córrego cimentado. Neste resgate histórico do canal, vale lembrar que a Morena nasceu e se desenvolveu em cima de inúmeros córregos, sendo os mais conhecidos Prosa e Segredo.

No início da década de 50, o então prefeito de Campo Grande Wilson Fadul não sabia mais o que fazer com problemas causados pelas inundações do córrego. Em depoimento registrado no livro de Maura Simões Corrêa Neder Buainaim ‘Campo Grande: Memória em palavras: a cidade na visão de seus prefeitos’, o ex-chefe do Executivo municipal disse que “Não havia entidade capaz de estudar e fazer projetos para resolver o problema”.

Wilson Barbosa Martins, que também administrou Campo Grande entre a década de 50 e início dos anos 60 relembrou ainda na obra de Maura Simões que um vereador adversário andou de bote pelo córrego. “Pegou uma banheira de alumínio, um remo e andou remando ali por cima do alagado”. Mas em 1970, com a canalização do córrego as enchentes tiveram fim e a Rua Maracaju com a Avenida Calógeras nunca mais ficaram alagadas.

Hoje as águas do memorável córrego podem ser vistas desaguando no Córrego Segredo, na Avenida Presidente Ernesto Geisel, onde a Rua Maracaju tem fim.

Minha vida na Rua Maracaju

Fumiyaki Noda, de 67 anos, dono de uma eletrônica da Rua Maracaju lembra-se muito bem do Córrego Maracaju e dos alagamentos. Desde quando começou a trabalhar em estabelecimentos localizados na via, isto em meados de 1968, Noda, chegou a ver televisões boiando nas águas do córrego.

“Trabalhava no número 28, onde tinha uma oficina de televisões. Às vezes dormia no trabalho e uma vez acordei com um barulho e eram televisões boiando nas águas. Tinha chovido e o córrego encheu e inundou tudo”, relembra.

Noda hoje é um dos mais antigos comerciantes da Maracaju perto da  Avenida Calógeras, e conta como era o cenário da rua naquela época. “Antes de abrirem a rua até a Avenida Ernesto Geisel tinha um casarão da Noroeste do Brasil, ali a água ficava parada e alagava tudo. A via era mão dupla e tinha uma passarela para as pessoas irem para o outro lado da rua”, disse. Hoje o casarão não existe mais e o lugar ganhou um pequeno pontilhão com trilhos desativados.

Campo Grande comemora neste mês 115 anos e as mudanças pelas quais passou são inúmeras. A aposentada Celina Monteiro Tolentino, 77, mora há 55 anos na mesma casa localizada na Rua Maracaju, entre a Rua Marechal Rondon e Antônio Maria Coelho. Foi neste endereço que ela criou os três filhos e lembra que o Córrego Maracaju corria no quintal de sua residência.

“O alagamento acontecia mais para baixo, aqui na frente de casa nós sentávamos e batíamos papo com os vizinhos. Hoje muitos deles se mudaram ou já morreram, a rua ganhou inúmeros comércios e tudo ficou diferente”, relembra.

#CGR115: Aniversário de Campo Grande

Em comemoração do aniversário dos 115 anos de Campo Grande, o jornal Midiamax realizou uma série de reportagens sobre as grandes mudanças urbanas que transformaram a cidade.

Conteúdos relacionados