Cadeirantes revelam o drama de enfrentar a vida na periferia de Campo Grande
A falta de pavimentação e os buracos que brotam a cada dia nas ruas da cidade, são problemas enfrentados por todos os campo-grandenses, mas para aqueles que têm dificuldade de locomoção, os desafios são maiores. Na periferia onde existe menos infraestrutura a superação é encarada em dose dupla. Marluce da Silva Caranaúba, de 45 anos, […]
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A falta de pavimentação e os buracos que brotam a cada dia nas ruas da cidade, são problemas enfrentados por todos os campo-grandenses, mas para aqueles que têm dificuldade de locomoção, os desafios são maiores. Na periferia onde existe menos infraestrutura a superação é encarada em dose dupla.
Marluce da Silva Caranaúba, de 45 anos, não nasceu deficiente, mas há oito anos, quando foi diagnosticada com lúpus, começou a sentir as dificuldades de quem não consegue se locomover. Morando há 16 anos em um apartamento, no Jardim Centenário, ela não fazia ideia das dificuldades que enfrentaria na região onde vive.
“Construí cada detalhe do meu apartamento, mas preciso me mudar. Meus problemas já começam nas escadas, não consigo mais subir e descer como antes, mas o pior não é isso, o problema maior são as ruas sem asfalto e os pontos de ônibus que não têm rampa”, afirmou.
O dia a dia de Marluce é complicado. Aposentada por causa da doença, ela gasta quase metade do benefício com um dos 15 medicamentos, que precisa tomar diariamente. O que sobra não é suficiente para sustentar a casa, onde mora com a mãe, Eurodites da Silva Carnaúba, de 69 anos e com a filha, de 8.
Para complementar a renda, ela conta com o apoio da mãe. Durante a madrugada, por volta das 2h30, enquanto a cidade dorme, as duas começam a preparar as chipas que são vendidas no Terminal Aero Rancho. Às 8 horas, quando volta para casa, ela enfrenta mais uma vez os problemas da falta de acessibilidade e como se não bastasse, se depara ainda com a pior das barreiras, o preconceito.
“Quando o motorista não para no ônibus, dizem que a culpa é minha. Sinto que existe um desprezo muito grande”, lamentou. O cadeirante Humberto Loveira, de 51 anos, há 10 depende de cadeiras de rodas para se locomover. Usuário do transporte coletivo, ele faz outra reclamação. Loveira afirma que os ônibus da linha 070, que permitem acesso ao CER (Centro Especializado em Reabilitação) da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) não são suficientes.
“São muitos os cadeirantes que utilizam essa mesma linha, então é difícil encontrar um ônibus que esteja com o espaço para deficiente disponível”, relatou. O diretor do Departamento Operacional da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Luiz Alencar, disse que Campo Grande conta com uma frota de 583 veículos para atender 280 mil passageiros em dias úteis.
Questionado sobre a previsão para novos carros, Alencar informou que no início do ano foram adquiridos 24 novos veículos que seriam entregues em agosto, no entanto, a fabricante Marcopolo não cumpriu o prazo e a entrega deve ocorrer na primeira quinzena de novembro. A assessoria de comunicação da Agetran garantiu que 93% dos ônibus que circulam na Capital, são adaptados para cadeirantes. Quanto à linha 070, são disponibilizados 23 veículos dentro das normas de acessibilidade.
Ruas inapropriadas – A falta de pavimentação relatada no início da reportagem, não é problema exclusivo do Jardim Centenário, onde mora Marluce. Em Campo Grande 90 bairros ainda não foram pavimentados. Segundo a secretária responsável pela Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação), Kátia Castilho, a Capital recebeu R$ 311 milhões, do governo federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento para Mobilidade Urbana (PAC-Mobilidade).
Conforme a secretária, o recurso será utilizado para asfaltar 60 bairros da Capital, 20 foram pavimentados neste ano e os outros 40 serão asfaltados entre 2015 e 2016. Kátia garantiu que todas as pavimentações devem atender às normas de acessibilidade.
“Colocamos esta questão como regra básica para as novas obras, seja de pavimentação, corredores ou asfaltos, mas tem muita coisa antiga na cidade e quanto a isso, não temos previsão, pois é tudo muito caro e dependemos do governo federal, no entanto, já estamos fazendo projetos para conseguir mais recursos. Também temos que lembrar que o governo cede de acordo com a receita”, ressaltou.
Maykon Douglas, de 19 anos, disse que o problema não termina nos bairros e destacou a inacessibilidade no centro de Campo Grande. “Eu não ando nas calçadas, prefiro a rua porque acaba sendo mais seguro. As calçadas nunca têm rampas regulares, sempre tem algum buraco para impedir a passagem”, observou.
De acordo com o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em Campo Grande existem 832.352 habitantes, entre eles, 25.982 têm alguma dificuldade de locomoção, o que representa 15,9% da população que diariamente sofre com a falta de estrutura e preconceito.
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