Apoio a extrema-direita dobra na Suécia, ‘porto seguro’ de refugiados
A oito meses das eleições gerais na Suécia, pesquisas de opinião apontam para a consolidação da extrema-direita como a terceira maior força política do país, em meio ao aumento dos chamados “crimes de ódio” racial e a críticas contra falhas na política de integração de um contingente cada vez maior de imigrantes. Segundo os números […]
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A oito meses das eleições gerais na Suécia, pesquisas de opinião apontam para a consolidação da extrema-direita como a terceira maior força política do país, em meio ao aumento dos chamados “crimes de ódio” racial e a críticas contra falhas na política de integração de um contingente cada vez maior de imigrantes.
Segundo os números de uma pesquisa publicada no jornal Aftonbladet, o partido Democratas Suecos (Sverigedemokraterna) conta hoje com 10,8% do apoio popular, após a vitória histórica que os conduziu pela primeira vez ao Parlamento nas eleições de 2010, com 5,7% dos votos.
Considerado um exemplo de tolerância, o país, que mantém uma das mais generosas políticas de imigração do mundo, tem testemunhado atos de vandalismo e ataques racistas. E movimentos antirracismo buscam mobilizar a população contra a xenofobia no país.
“Com um partido fascista no Parlamento, as fronteiras foram alteradas”, disse ao jornal Svenska Dagbladet um manifestante antirracismo, Olle Eriksson. “Mas ao mesmo tempo, o fato é que a maioria dos suecos não quer essas forças extremistas. Nem nas nossas ruas, nem em nosso Parlamento”, diz ele.
Manifestações antirracismo
Em um dos primeiros ataques do ano, os portões da mesquita central de Estocolmo foram pichados este mês com uma série de suásticas. Dias depois, manifestantes antirracismo colocaram buquês de flores sob as suásticas negras, e uma mensagem de solidariedade foi deixada na porta da mesquita: “Para cada crime de ódio, existe uma flor. Um ataque contra vocês é um ataque contra a Suécia. Nós estamos juntos”, dizia a nota. Mensagens de solidariedade também foram enviadas à mesquita através das mídias sociais.
“Sabemos que a maioria das pessoas na Suécia é contra o racismo. Mas essa maioria também é muito silenciosa. O surpreendente, desta vez, foi ver que essa maioria agiu, com solidariedade, apoio e fraternidade”, disse o presidente da Associação Islâmica da Suécia, Omar Mustafa, em entrevista ao jornal Dagens Nyheter.
“Quando se recebe este tipo de apoio, com flores e mensagens de solidariedade, você percebe que não está sozinho. Cada vez mais pessoas estão levantando suas vozes contra o racismo”, acrescentou ele.
No fim de dezembro, milhares de pessoas saíram às ruas em passeatas antirracismo organizadas em diversas cidades suecas. As demonstrações, que na capital sueca reuniram cerca de 16 mil pessoas, foram realizadas em protesto contra uma ação de grupo de cerca de 30 neonazistas, que, no dia 15 de dezembro, atacaram com garrafas e artefatos pirotécnicos os participantes de uma manifestação contra a xenofobia.
Dois manifestantes foram esfaqueados e 26 neonazistas foram presos pela polícia durante o incidente, que ocorreu no subúrbio de Kärrtorp, no sul de Estocolmo.
Em novembro, uma manifestante foi detida pela polícia ao atirar uma torta na cara do líder dos Democratas Suecos, Jimmy Åkesson, durante um evento na capital sueca.
Grupos neonazistas
Em 2012, foram registrados 5.520 “crimes de ódio” racial. E segundo o Conselho Nacional Sueco para a Prevenção do Crime (Brottsförebyggande rådet), os atos contra imigrantes vêm aumentando, particularmente em relação aos muçulmanos: em 2013, foram denunciados cerca de 300 ataques contra imigrantes muçulmanos. Um dos casos de maior repercussão foi o espancamento de uma mulher muçulmana grávida no subúrbio de Farsta, em Estocolmo, aparentemente motivado pelo fato de que a vítima usava o hijab (véu muçulmano).
Um fator de crescente preocupação no país tem sido o crescimento das atividades dos grupos neonazistas locais. Segundo estudo divulgado em dezembro pelo instituto sueco Expo Foundation, os neonazistas realizaram 1,824 ações durante 2012, o que representou um aumento de 24% em relação a 2011. Entre as atividades listadas estão a prática de ataques contra imigrantes, assim como a organização de marchas e demonstrações, divulgação de propaganda racista e realização de seminários.
Um dos principais grupos neonazistas é o Partido dos Suecos (Svenskarnas Parti, SvP). Nas eleições gerais de 2010, ele se tornou o primeiro partido nacional-socialista a obter um assento em uma assembleia municipal desde o fim da Segunda Guerra, ao alcançar 2.8% dos votos no município de Grästorp (oeste da Suécia).
Manifestantes antirracismo alertam, no entanto, que o racismo no país não se limita apenas aos skinheads.
“Os racistas vestiram terno e deixaram o cabelo crescer”, disse Emelie Jacobsson, de 23 anos, ao jornal Dagens Nyheter.
“O racismo vem se tornando cada vez mais aceito, e é preciso lutar contra esta tendência”, acrescentou outra manifestante, Ina Björkstedt.
Abrigo de refugiados
Historicamente, a Suécia tem uma tradição de tolerância racial e generosidade em sua política de abrigo a imigrantes. O país recebeu milhares de refugiados do Chile nos anos 70, do Irã e do Iraque nos anos 80, da Somália e dos Bálcãs nos anos 90, e novamente do Iraque na década seguinte. Após a guerra do Iraque, só a pequena cidade de Södertälje (ao sul de Estocolmo), de 85 mil habitantes, recebeu mais refugiados iraquianos (até 2007 eram 5 mil) do que os Estados Unidos e Canadá juntos.
Até o momento, a ascensão da extrema-direita não reverteu esta política: estatísticas da Autoridade sueca de Imigração (Migrationsverket) divulgadas no início deste mês mostram que a Suécia emitiu um número recorde de 110 mil vistos de residência para imigrantes em 2012, uma alta de 19 por cento em relação a 2011.
Deste total, cerca de 5 mil vistos foram concedidos a refugiados da guerra na Síria. A Suécia foi o primeiro país europeu a anunciar a concessão de vistos de residência permanente para refugiados sírios, que ao chegar ao país têm autorização para trabalhar e recebem ainda benefícios como auxílio-moradia, saúde e educação gratuita para seus filhos.
Mas as críticas contra a política de integração dos imigrantes no país são contundentes. A maior parte dos imigrantes vive em bairros da periferia, onde o alto índice de desemprego – especialmente entre os jovens – gera insatisfação e alimenta incidentes como os protestos ocorridos em maio de 2013, quando a revolta causada pela morte de um imigrante baleado pela polícia levou a distúrbios em vários subúrbios nos arredores da capital sueca.
Para o presidente da Associação Islâmica da Suécia, Omar Mustafa, há o risco de que a intolerância racial no país possa se agravar – especialmente diante da proximidade das eleições gerais de setembro:
“Minha preocupação é de que os partidos racistas obtenham mais votos e se tornem mais influentes, como já ocorreu na Dinamarca e na Noruega. Mas tenho a esperança de que os recentes atos antirracismo incentivem cada vez mais suecos a reagir contra a xenofobia”.
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