Alternativa à seca, “água reciclada” sai seis vezes mais barata que água potável
A seca que afeta os reservatórios do Sistema Cantareira, em São Paulo, e o racionamento hídrico em grandes centros urbanos movimenta o mercado de água reaproveitável do País. As alternativas para driblar a falta d’água vão desde a ampliação dos reservatórios para armazenar água usada até a tentativa de utilizar as cisternas de captação de […]
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A seca que afeta os reservatórios do Sistema Cantareira, em São Paulo, e o racionamento hídrico em grandes centros urbanos movimenta o mercado de água reaproveitável do País. As alternativas para driblar a falta d’água vão desde a ampliação dos reservatórios para armazenar água usada até a tentativa de utilizar as cisternas de captação de chuva, utilizadas no sertão nordestino.
Um dos principais trunfos para tentar garantir o recurso na torneira o ano inteiro, a água de reuso pode sair mais de 600% mais barata que a tradicional água potável. Em tempos de escassez do recurso, a procura pela “água reciclada” já aumentou.
Os números provam que, em São Paulo, a população já percebeu que água é um recurso que precisa ser preservado. De acordo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), somente nos primeiros três meses deste ano, foram vendidos 435 milhões de litros de água de reuso — um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano passado.
A água de reuso é produzida a partir do tratamento de esgoto. Em vez de descartar a água, ela passa por processos adicionais de filtração na estação de tratamento, que refinam os procedimentos que eliminam bactérias e demais agentes contaminadores.
Esse tipo de água pode ser usada em atividades secundárias dos condomínios, como limpeza de lixeiras, de pátios, de calçadas, jardinagem e até a lavagem dos carros.
Como essa água precisa ser armazenada, cresceu também o consumo de reservatórios e cisternas. Um dos grandes fabricantes dessas caixas d’água registrou aumento de 56% nas vendas no primeiro trimestre de 2014 na comparação com 2013.
Custos
Em São Paulo, a água de reuso é fornecida apenas pela Sabesp e os clientes são exclusivamente empresas. De acordo com a companhia, cada mil litros dessa água é vendido por um preço médio de R$ 1,04 para empresas privadas. Para empresas públicas, o preço é ainda menor: R$ 0,62 por mil litros de água.
O preço pode variar de acordo a qualidade da água de reuso — dependendo do nível de filtração da água o recurso pode ficar mais caro. Um condomínio da Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo, fez um orçamento particular e conseguiu o preço de R$ 4,10 por mil litros de água de reuso.
Ainda assim, o valor é muito menor que o da água potável. A reportagem do R7 fez um orçamento em três empresas que oferecem caminhão-pipa para entregar água em São Paulo. A média é de R$ 30 por mil litros de água — 631% mais caro que a água de reuso.
Para encher um reservatório de 5.000 litros com água de reuso, por exemplo, o condomínio gastaria R$ 20,50. O mesmo reservatório com água potável sai por R$ 150.
O síndico-geral do condomínio da Brasilândia, Rodnei Favaretto, administra nove prédios com 468 famílias. São mais de 3.100 moradores que estão com medo de ficar sem água. Segundo ele, o condomínio decidiu se prevenir porque percebeu que bairros próximos já estavam sofrendo com a falta d’água.
Para economizar água potável e ainda assim manter as atividades de limpeza e jardinagem dos prédios, o síndico decidiu comprar três reservatórios para armazenar água de reuso. Ele diz que foi atraído pelo preço baixo, mas se decepcionou com a burocracia para comprar a água.
“O valor é bom, de fato não tem que questionar o valor. Mas devido a algumas burocracias, que poderiam ser evitadas, fica difícil comprar a água. Se fosse mais fácil, com certeza seria uma prática muito mais utilizada.”
Favaretto reclama que a Sabesp não entrega a água e é responsabilidade da empresa providenciar o transporte do recurso, o que dificulta a comercialização. Além disso, o síndico diz que, antes de liberar a compra, a companhia precisa enviar um técnico até o local onde a água será armazenada para verificar se as condições são adequadas.
Mas a professora de Biologia do UniCeub (Centro Universitário de Brasília) Andrea Libano explica que o procedimento é necessário porque a água de reuso não pode ser usada para consumo. Por isso, é preciso checar as condições de armazenamento dos recursos.
“O principal cuidado é ver o local de armazenamento para ter certeza de que a água de reuso não vai ser utilizada para abastecimento de água potável do condomínio. É um cuidado sanitário bastante importante, não é exagero.”
Solução sustentável
A especialista da faculdade de Brasília afirma que a utilização da água do esgoto tratada é uma tendência mundial. Segundo ela, em países da Europa, como a França, o sistema de tratamento da água é capaz de reaproveitar a água do esgoto inclusive para consumo.
Para a professora, o Brasil demorou a tomar medidas de aproveitamento da água porque sempre se contou com a abundância dos recursos hídricos do País. Mas, para ela, a situação mudou e o consumo de água de reuso, principalmente pelas indústrias, deve crescer cada vez mais.
“O problema da falta d’água está em âmbito mundial. A água de reuso é uma solução para o problema, existe viabilidade econômica e é sustentável. É uma forma de deixar de utilizar água de poço artesiano e, assim, sobra mais água nos mananciais para abastecimento da população.”
Um condomínio em Osasco, cidade da região metropolitana de São Paulo, comprou reservatórios de 5.000 litros, mas pretende abastecer as caixas com água potável. Isso porque os moradores dos 120 apartamentos já estão sentindo o desabastecimento.
O subsíndico do condomínio, Daniel Roberto Moura, conta que há mais de 20 dias as famílias precisam improvisar para lavar roupa e tomar banho. Quando tem água, a pressão não é suficiente para encher o reservatório do prédio.
“É pouca água, mesmo economizando não dá para todos os moradores. Então a gente vai dando um jeito, lavando roupa em casa de parente, um dia vai para casa de mãe, de pai. E assim a gente vai levando.”
Para diminuir os transtornos, os moradores abriram mão do projeto de equipar o salão de festas do prédio e decidiram usar a verba para comprar um reservatório e mantê-lo com água potável de caminhão-pipa.
Como eles precisam do recurso para atividades como cozinhar, tomar banho e lavar roupas, a água de reuso não pode ser utilizada.
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