4G durante a Copa é ‘jogada de marketing’, dizem especialistas

Alardeada pelos organizadores e as operadoras como o grande diferencial de telecomunicações da Copa do Mundo, a utilização do 4G, (quarta geração de tecnologia de acesso à internet móvel) durante o Mundial é muito mais uma jogada de marketing do que uma possibilidade real, dizem especialistas ouvidos pela reportagem. Embora seja de fato uma tecnologia […]

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Alardeada pelos organizadores e as operadoras como o grande diferencial de telecomunicações da Copa do Mundo, a utilização do 4G, (quarta geração de tecnologia de acesso à internet móvel) durante o Mundial é muito mais uma jogada de marketing do que uma possibilidade real, dizem especialistas ouvidos pela reportagem.

Embora seja de fato uma tecnologia moderna e rápida, que aumenta em mais de dez vezes a velocidade do acesso à internet em smartphones e tablets, o 4G ainda não é difundido no Brasil – estando disponível em apenas 105 municípios, cobrindo 37,2% da população, contra 3.598 cidades atendidas pelo 3G, o que equivale a 90,8% dos brasileiros.

Os dados são de fevereiro deste ano, da consultoria Teleco – compilados a partir dos informes regulares da Anatel.

Além disso, os aparelhos ainda são muito caros e poucos países utilizam a mesma frequência que o Brasil adota no momento, a de 2,5 GHz.

“Foi mais uma jogada de marketing mesmo, em que se quis apresentar o Brasil como um país moderno. Para as operadoras é um momento ímpar, ter os olhos do mundo todo voltados para cá, e dos brasileiros também, claro”, diz Eduardo Tude, engenheiro de telecomunicações e presidente da consultoria Teleco.

Quanto ao legado, ele diz que também é irreal achar que a Copa tinha o potencial para melhorar a tecnologia 4G, já que se trata de uma novidade mundial, e que já se consolidou, de fato, em apenas três países: Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.

“Na Europa a maioria dos países ainda está em fase de implantação semelhante à nossa. Ainda são poucos aparelhos habilitados e os telefones capazes de operar ainda são caros”, acrescenta.

João Moura, presidente da TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitiva), que reúne 50 empresas do setor, concorda.

“Não é exagero se falar em jogada de marketing. Tem a ver sim. Mesmo nos países desenvolvidos ainda não é uma regra, e sim a exceção. Então realmente é uma boa oportunidade de marketing para a indústria como um todo. Um lançamento, um momento único para os fabricantes, as operadoras, os primeiros usuários, ou first adopters”, explica.

Ele diz que, de fato, se as redes 4G funcionarem perfeitamente, quem estiver com um celular habilitado a essa tecnologia deve se sentir como um passageiro de primeira classe.

“Pode-se dizer que nos estádios vai ser como uma primeira classe e a econômica. Quem estiver com um celular 4G terá conforto, rapidez, e quem estiver usando a rede 3G vai ficar num aperto, na classe econômica superlotada. Os dois devem chegar no mesmo destino? Sim, mas em situações muito diferentes”, diz.

Diferentes frequências

Quanto aos estrangeiros, é difícil dizer com certeza quem poderá ou não usar a rede 4G no Brasil, devido às diferenças de bandas (faixas de frequência usadas para transmitir o sinal).

Americanos e japoneses, por exemplo, certamente não conseguirão usar, e terão que valer-se da rede 3G. Já entre os europeus um mesmo país pode ter operadoras que usam a mesma frequência do Brasil e outras que utilizam bandas diferentes, segundo dados da 4G Americas, instituição que promove o uso da tecnologia no continente.

No Reino Unido, por exemplo, celulares da Vodafone podem operar em 2,6 GHz, semelhante à frequência do Brasil. Já O2, Orange e T-Mobile operam em frequências diferentes.

Na Espanha, a grande maioria dos donos de celulares 4G poderá utilizar o sistema no Brasil, mesmo caso dos holandeses e franceses. Já os alemães e italianos terão que consultar suas operadoras.

Bob Caloff, presidente do 4G Americas, disse à BBC Brasil que na América Latina o serviço ainda está em fase de implantação, e que de 213 milhões de conexões banda larga móveis, apenas 2 milhões já são 4G.

“O Brasil tem uma posição de liderança, e creio que a Copa do Mundo deu um empurrão comercial para que o país se mantenha nesta posição no que diz respeito à introdução do 4G”, diz.

Quanto à Copa passada, na África do Sul, Caloff acredita que o mundo deu um salto tecnológico no setor.

“Não tem comparação. Quatro anos atrás não se usava tanto a internet nos celulares. Hoje em dia todos dentro dos estádios terão um status update em alguma rede social, uma foto para compartilhar, um vídeo para enviar. É o mundo em que vivemos hoje em dia, não se pode voltar atrás”, afirma.

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