Mais de 125 milhões de meninas e mulheres foram submetidas à mutilação genital e 30 milhões de outras garotas correm o risco de passar por esta situação na próxima década, anunciou o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) nesta segunda-feira.

Apesar de a prática da mutilação genital estar em queda, a prática continua quase universal em alguns países, informou o relatório da Unicef, que abrange 20 anos de informações de 29 países da África e do Oriente Médio.

A tradição envolve a remoção de parte ou de toda a genitália externa feminina. O procedimento pode incluir o corte do clitóris e, em alguns casos, a costura dos lábios vaginais.

As leis não são suficientes para acabar totalmente com a prática e mais pessoas precisam se manifestar para eliminar a tradição entre certos grupos étnicos e comunidades, dizem as pesquisas.

De acordo com a Unicef, a aceitação social é a razão mais citada para a continuação da prática, embora seja considerada uma violação aos direitos humanos.

“A multilação está se tornando menos comum em pouco mais da metade dos 29 países pesquisados. Porém, a tradição continua notavelmente persistente, apesar de quase um século de tentativas de eliminá-la”, informou o relatório.

“Trinta milhões de meninas correm o risco de serem mutiladas na próxima década, caso a tendência persista”.

O ritual é praticado por várias crenças, incluindo cristãos, muçulmanos e seguidores de religiões africanas tradicionais. Para alguns, o procedimento melhora as expectativas de casamento da jovem e torna o órgão sexual feminino mais agradável esteticamente.

O relatório descobriu as taxas mais altas de mutilação feminina na Somália, onde 98% das jovens e mulheres entre 15 e 49 anos foram mutiladas, seguida pela Guiné (96%), o Djibuti (93%) e o Egito (91%).

A prevalência da mutilação genital entre adolescentes caiu pela metade no Benim, na República Centro-Africana, Iraque, Libéria e Nigéria.

Em algumas partes de Gana, 60% das mulheres na faixa dos 40 anos sofreram a mutilação, contra 16% das adolescentes. Em Togo, por sua vez, 28% das mulheres mais velhas foram mutiladas, enquanto três por cento das garotas na faixa dos 15 aos 19 anos passaram pelo procedimento.

Porém, não houve uma queda em países como Chade, Gâmbia, Mali, Senegal, Sudão e Iêmen, segundo o relatório, que descobriu que, mesmo que a mutilação genital seja considerada comumente uma forma de controle patriarcal, há um nível similar de apoio de homens e mulheres para acabar com a prática.

“O apoio geral da prática está em queda”, disse o relatório.

“As normas e expectativas sociais dentro das comunidades de indivíduos que pensam da mesma maneira desempenham um papel importante na perpetuação da prática. O desafio agora é deixar garotas e mulheres, rapazes e homens falarem alto e claro, anunciando que querem o fim dessa prática nociva”, disse Rao Gupta, vice-diretor executive do Unicef.

No ano passado, a Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução para intensificar os esforços globais para eliminar a mutilação genital feminina.