Sexagenário procura novo amor em MS com placa no pescoço e aceita até interesseiras
Antônio Poeta se orgulha de não saber, até o hoje, o que é Viagra. Pelo menos é isso o que ele diz, na maior segurança, “vendendo o próprio peixe”, é claro. “Mulher boa”, como se refere, mexe com esse idoso, sexagenário, que se diz romântico e “muito tarado”, no melhor sentido da palavra, se é […]
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Antônio Poeta se orgulha de não saber, até o hoje, o que é Viagra. Pelo menos é isso o que ele diz, na maior segurança, “vendendo o próprio peixe”, é claro. “Mulher boa”, como se refere, mexe com esse idoso, sexagenário, que se diz romântico e “muito tarado”, no melhor sentido da palavra, se é que isso é possível. O senhor de cabeça branca, com cara de “vovô bonzinho”, cuja “coragem” será retratada nesta página, parece personagem de uma comédia pastelão, daquelas bem exageradas, mas não é. Antônio existe. Mora em Campo Grande. E é poeta.
Aos 67 anos, com a experiência de dois relacionamentos marcantes – e traumáticos, diga-se de passagem –, ele está, de novo, à procura de um grande amor. Mas a companheira ou namorada, como ele quer, precisa ser solteira ou separada e ter de 25 a 50 anos. É interesseira? Sem problemas. “Dê uma ligada. Tenho a carteira recheada”, anuncia ele, com um megafone e uma placa pendurada no pescoço.
A ideia veio do fim de dois relacionamentos que lhe renderam, ou tomaram, alguns pares de anos; da solidão – que piorou com o casamento dos filhos, com quem morava – e das tentativas frustradas nos bailes da vida. Desde que se separou, há mais de uma década, o amor não lhe bateu mais à porta.
Revoltado, cansado de esperar, “ajudar todo mundo e só tomar no fundo”, como diz, Antônio, o poeta, resolveu procurar sozinho a nova amada. Fez isso, claro, da maneira menos convencional, sem um pingo de vergonha, nem medo de parecer ridículo e virar alvo de piadas.
Como é propagandista e vive no centro, “gritando” a plenos pulmões, anunciando promoções de lojas, o idoso também colocou no “roteiro” a “campanha da pretendente”, fora dos convencionais anúncios de jornais. A ação, julga, parece ser inédita por essas bandas.
“Não é brincadeira. Eu quero mesmo uma namorada ou companheira para dividir minha felicidade, os bons tempos e as boas horas. Não sinto prazer nem de viajar. Em todo o lugar que eu vou, a maioria das pessoas está acompanhada e me sinto mais só”, disse.
Retorno – Há 15 dias, desde que decidiu se autopromover assim, aos “berros”, com uma placa pendurada no pescoço, o poeta, figura conhecida nas manifestações populares de Campo Grande, por sempre andar com um magafone e uma vassoura “varrendo” a corrupção, já se sente melhor.
Recebeu, até agora, várias ligações, mas ainda não atingiu os 50 contatos que pretende para, então, começar a “triagem”. “Já recebi alguns telefonemas, mas eu não sei se entenderam a mensagem que eu quis passar. Não quer dizer que todas as candidatas sejam interesseiras, mas se for eu estou aceitando porque hoje em dia ninguém vai querer um idoso sem ter uma vantagem. A vantagem é que ela vai ter uma vida tranquila. Não vai se preocupar em trabalhar”, adiantou.
Requisitos – Apesar de ter “vaga” para qualquer interesseira assumida, no “processo seletivo” do idoso, que nega ser exigente, há algumas regras. Ele não quer ninguém acima do peso, por exemplo.
A explicação vem na sequência: “Pode parecer discriminação, mas aqui em Campo Grande muitas mulheres são obesas. Eu sou magrinho e não vou querer um ‘mulherão’ em casa porque vou me sentir mal”.
O limite aceitável, avisa, é até 70 quilos, dependendo da altura. Antônio também está evitando as mulheres que pintam o cabelo. “Quanto mais natural, melhor”, disse.
A outra exigência é tecnologia. O poeta procura alguém que tenha, pelo menos, uma noção básica de informática. Como tem mais de 5 mil poesias prontas e nenhuma intimidade com a “modernidade”, ele quer uma companheira que o ajude a catalogar e digitalizar todo o conteúdo de sua autoria. “Não seria uma empregada, mas a patroa que, futuramente, poderá ter uma secretária”, argumenta.
Mas tudo vai da conversa, da identificação, enfim, da afinidade. Para evitar qualquer indelicadeza, por telefone, nas ligações que recebeu até então, Antônio evitou perguntar a idade, mas quis saber se a candidata estava dentro do limite estabelecido, de 25 a 50 anos.
O idoso não quer uma velha, apesar das experiências anteriores. No primeiro casamento, a esposa tinha, na época, 18 e ele 34. No segundo, que ele classifica apenas como relacionamento, a companheira tinha 30 e ele 45 anos.
As duas paixões não foram para frente, disse, por “incompatibilidade de idade”. Mesmo assim, ele quer tentar outra vez, com uma mais nova. Acredita que agora está “vacinado” e experiente.
Revolta – Mas esse não é o motivo principal que fez Antônio buscar um “brotinho”. O poeta também quer dar o troco nas “papa-anjo” porque, quando procurou, percebeu que as mulheres, mesmo as idosas, não queriam nada com os velhos. “Senti isso”, relatou.
O próximo passo, depois de receber os currículos de 50 “gatinhas”, é marcar encontros com pelo menos 10 selecionadas. Depois, o poeta vai escolher as cinco classificadas e, por último, a vencedora.
A escolhida, mesmo que for uma interesseira, terá uma vida boa, garante, graças ao dinheiro da aposentadoria, do trabalho como propagandista e de algumas casas alugadas que mantém pela cidade.
Para esse romântico declarado, não há com o que se preocupar. À futura mulher, não vai faltar, segundo ele, segurança e muito carinho. “Gosto muito de agradar, de acariciar. Tenho 67 anos e não sei o que é usar Viagra”, afirmou, orgulhoso.
Quem vê de fora não acha que o poeta esteja com essa bola toda não. Acadêmico de letras, Alfrânio Pedroso achou o máximo. “O máximo de tudo: do desespero, da crença no amor, da confiança, da cara de pau, da autopromoção…”, disse.
Mas o rapaz, apesar de dizer que não faria a mesma coisa, apoia a campanha. Para dar uma força ao idoso, ele o fotografou, dentro de uma loja, no centro, e divulgou a imagem no Facebook. “Disse que o ajudaria a ser sucesso. Portanto, colaborem. Coisas que a gente vê por Campo Grande”, escreveu, na legenda.
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