Piloto da missão Apollo 15 fala do isolamento no espaço
Como é ser o homem mais isolado de todos os tempos? Al Worden, piloto do módulo de comando da missão Apollo 15, pode ser chamado de detentor desse título. Sete homens na história da Humanidade se destacam do resto de nós. Eles são os pilotos dos módulos de comando das missões Apollo, que passaram tempo […]
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Como é ser o homem mais isolado de todos os tempos? Al Worden, piloto do módulo de comando da missão Apollo 15, pode ser chamado de detentor desse título.
Sete homens na história da Humanidade se destacam do resto de nós. Eles são os pilotos dos módulos de comando das missões Apollo, que passaram tempo sozinhos, em órbita em torno da Lua, enquanto seus colegas caminhavam sobre a superfície lunar.
Quando esses astronautas sobrevoaram o lado oculto da Lua, ficaram completamente fora de contato e mais distantes da Terra do que qualquer pessoa jamais estivera antes. Ou esteve desde então.
Apenas cinco deles ainda estão vivos. E Al Worden, piloto do módulo de comando da missão Apolo 15, continua sendo a imagem perfeita de um veterano astronauta.
Worden voou para a Lua em julho de 1971, junto com o comandante Dave Scott e o piloto do módulo lunar, Jim Irwin.
Durante o período em que ficou sozinho no módulo de comando, estabeleceu o recorde de “ser humano mais isolado” de todos os tempos. Em determinados períodos, quando o módulo viajava pelo lado oculto da Lua, os seres humanos mais próximos do piloto – seus dois colegas astronautas – estavam a 3.600 km de distância, caminhando do outro lado.
Assim como outros pilotos do programa Apollo, Worden prefere falar das conquistas da missão do que de si mesmo. Dentre as missões do programa, a Apollo 15 é tida como a de maior rigor científico.
Mas não se trata apenas de fazer ciência. Em entrevista a Richard Hollingham, da BBC Future, Worden falou sobre o aspecto humano da experiência que viveu.
Você sente que os pilotos dos módulos de comando foram esquecidos pela história, que o trabalho que fizeram é tido como menos glamoroso?
É engraçado, os olhos do mundo estavam nos que desembarcaram na Lua, mas a função deles era pegar rochas para serem analisadas. Mas em matéria de ciência, você faz muito mais em órbita na Lua do que é capaz de fazer na superfície. Por exemplo, eu fotografei cerca de 25% da superfície lunar – foi a primeira vez que isso foi feito. Também mapeei mais ou menos a mesma porção. Isso é bastante informação para você trazer de volta, aliás, é tanto que acho que ainda está sendo estudada.
O que se passava na sua cabeça quando o módulo lunar se separou da nave de comando e você o viu ficar cada vez menor, enquanto descia na direção da Lua?
Primeiro, desejei boa sorte a eles. “Espero que vocês aterrissem sem problemas”. Segundo: “Oba, estou feliz por eles terem ido porque agora o espaço é todo meu”. Aí tive três dias maravilhosos na nave, completamente sozinho.
Mas não era solitário?
Estava sozinho mas não estava solitário. Minha formação é de piloto da força aérea e depois de piloto de testes, principalmente de aviões de guerra. Então estava bem acostumado a ficar sozinho e gostei muito. Não tinha de falar com Dave e Jim, exceto quando completava a volta (quando o módulo de comando, em órbita, passava acima do ponto onde o módulo lunar tinha aterrissado) e dizia “oi”. No lado de trás da Lua, não tinha nem que falar com Houston e essa era a melhor parte do voo.
Mas você estava a mais de 400 milhões de quilômetros de casa.
Sim, você está muito longe mas o que mais me impressionou quando estava na órbita lunar – particularmente quando estava sozinho – foi que todas as vezes que passei pelo lado de trás da lua, olhava pela janela e conseguia ver a Terra subindo. Era fenomenal. Além disso, fui capaz de olhar o universo lá fora de uma perspectiva muito diferente e de uma maneira muito diferente da que qualquer pessoa jamais vira antes.
O que descobri foi que o número de estrelas era tão imenso. Na verdade, não conseguia ver estrelas individualmente, era como um lençol de luz. Achei aquilo fascinante, porque mudou minhas ideias sobre como pensamos a respeito do Universo.
Existem bilhões de estrelas lá fora – a Via Láctea, a galáxia em que estamos, contém bilhões de estrelas, não apenas algumas. E existem bilhões de galáxias lá fora. Então, o que isso te diz a respeito do Universo? Que nós simplesmente não pensamos grande o suficiente. No meu entender, esse é o objetivo do programa espacial, entender tudo isso.
Isso não fez você se sentir ainda menor e ainda mais sozinho?
Ah sim, você quer se sentir insignificante? Fique atrás da Lua. Isso vai fazer você realmente sentir que você não é nada.
Por que você preferia ficar fora de contato com Houston?
Não precisava ter uma pessoa martelando no meu ouvido o tempo todo. Tinha muito trabalho a fazer. Digo isso de brincadeira, porque se acontecesse algo sério, eu certamente ia querer que eles entrassem em contato. Mas se tudo corria bem, eu não precisava falar com eles e podia me concentrar em fazer ciência.
Quão ocupado você ficava? Imagino que você acabou fazendo suas reflexões sobre a Terra e o Universo depois de retornar do espaço?
É uma coisa engraçada, quando você está lá observando tudo isso e fazendo todo o reconhecimento (à distância) e fotografando, você não tem muito tempo para pensar a respeito. Você guarda tudo num banco de memória e quando você volta, você pensa a respeito. Eu trabalhava 20 horas por dia e dormia três ou quatro horas por noite. Então você não pode se dar ao luxo de gastar tempo sentado, olhando pela janela e filosofando.
E música? Qual foi sua seleção para a Lua?
Tínhamos uns toca-fitas pequenos que podíamos usar durante o voo. Eu era, e ainda sou, um fã incondicional dos Beatles. Também levei Elton John, John Denver e a Valsa Danúbio Azul (da trilha do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço).
Você é uma das sete pessoas que ficaram isoladas em órbita em torno da Lua. Existe alguma lição que futuros astronautas deveriam aprender, quando – ou se – voltarem à Lua ou se forem a Marte?
Provavelmente sim, embora nós todos tenhamos tido experiências muito diferentes. A lição que eu aprendi é, não faça muita amizade com a tripulação. Por causa dos longos períodos de tempo que você passa com os outros dois, descobri que estava mais concentrado em fazer o trabalho que tinha de fazer do que em me relacionar com eles. Trabalhamos muito bem juntos, mas não éramos grandes amigos e acho que isso foi benéfico.
Mas como é que você faz isso?
Você precisa manter uma certa distância entre as pessoas. Se você chega a um ponto onde é hora de descansar, fazer nada por um tempo, precisa se sentir confortável para desfrutar de um pouco de solidão sem sentir que precisa conversar com todo mundo.
Nós todos temos essa expectativa de que vocês têm de ser amigos. Você está dizendo que não é bem assim?
(A equipe da) Apollo 12 estava sempre junta. Pete Conrad (astronauta, terceiro a pisar na Lua) tratava sua tripulação como se fossem irmãos. Onde estava um, estavam os três, porque estavam sempre juntos. Nós éramos o oposto disso. Acho que isso nos tornou mais efetivos como tripulação.
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