Morte de crianças por disparo acidental é subestimada nos EUA

A pistola calibre 45 que matou Lucas Heagren, 3, no feriado do Memorial Day [última segunda-feira de maio] do ano passado havia sido escondida embaixo do sofá pelo pai do menino. Mas Lucas a encontrou e disparou contra seu olho direito. “É horrível”, disse a mãe ao atendente do telefone de emergência. Poucos dias depois, […]

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A pistola calibre 45 que matou Lucas Heagren, 3, no feriado do Memorial Day [última segunda-feira de maio] do ano passado havia sido escondida embaixo do sofá pelo pai do menino.

Mas Lucas a encontrou e disparou contra seu olho direito. “É horrível”, disse a mãe ao atendente do telefone de emergência.

Poucos dias depois, Cassie Culpepper, 11, estava passeando na caçamba de uma picape na companhia do irmão, de 12 anos, e de outras duas crianças.

O irmão começou a brincar com a pistola que o pai lhe havia emprestado para assustar coiotes. Acreditando ter removido todas as balas, apontou a arma para a irmã e apertou o gatilho. A bala acertou Cassie na boca.

Crianças mortas a tiros por acidente –geralmente por outras crianças– são vítimas da facilidade de acesso a armas de fogo nos Estados Unidos. E há muito mais desses casos do que os números oficiais demonstram.

Uma pesquisa feita pelo “New York Times” constatou que disparos acidentais acontecem com frequência cerca de duas vezes maior do que as estatísticas indicam, devido à maneira pela qual essa ocorrência é registrada.

Ao optar entre cinco escolhas para “forma da morte” -homicídio, morte acidental, suicídio, morte natural ou causa indeterminada-, a maioria das autoridades simplesmente define qualquer morte causada por arma de fogo como homicídio.

Os casos de Lucas e Cassie não foram reportados como acidentes. E o mesmo se aplica a mais de metade das 259 mortes de crianças com menos de 15 anos por disparo acidental que o “New York Times” identificou em oito Estados americanos nos quais esses registros são acessíveis.

A NRA (Associação Nacional do Rifle), organização que defende o direito ao porte de armas, citou os números oficiais mais baixos este ano em um documento no qual se opunha às leis de “armazenagem segura”.

A entidade afirmou que a probabilidade de crianças morrerem como resultado de quedas, envenenamento ou fatores ambientais era mais alta do que a de morte por disparos acidentais -um argumento improcedente, dado que o número real de mortes por essa causa é substancialmente mais alto.

No total, menos de 20 dos 50 Estados americanos adotaram leis responsabilizando criminalmente os adultos que não armazenem suas armas em local seguro.

Mesmo com estatísticas corretas, as mortes intencionais de crianças a tiros excedem em muito o número de vítimas a esmo.

Mas os acidentes, ao contrário das demais mortes causadas por armas de fogo, causam incessante especulação quanto ao que poderia ter sido feito para chegar a um final diferente.

A NRA argumenta há muito tempo que educação é a chave para prevenir acidentes com armas. E menciona seu programa Eddie Eagle GunSafe, que ensina a crianças a partir dos três anos a “parar, não tocar nela, se afastar e avisar um adulto” quando virem uma arma.

“Gostaria que todas as crianças dos EUA seguissem essa mensagem”, diz Arthur Kellerman, coautor de um estudo publicado pela revista “Pediatrics”. “Mas sei que isso não vai acontecer.”.

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