Moradores da região metropolitana do Rio denunciam problemas de saúde pública causados por novo aterro sanitário

Rinite, bronquite, asma, irritação nos olhos e na garganta, além de enjoos diários são os sintomas relatados por vários moradores do bairro de Chaperó, na divisa dos municípios de Seropédica e Itaguaí, na região metropolitana do Rio. De uma hora para outra, eles viram o bucólico lugarejo ao pé da serra, antes rodeado por campos […]

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Rinite, bronquite, asma, irritação nos olhos e na garganta, além de enjoos diários são os sintomas relatados por vários moradores do bairro de Chaperó, na divisa dos municípios de Seropédica e Itaguaí, na região metropolitana do Rio. De uma hora para outra, eles viram o bucólico lugarejo ao pé da serra, antes rodeado por campos e bosques, tomado por centenas de caminhões de lixo, que levam os detritos para o Centro de Tratamento de Resíduos (CTR) da empresa Ciclus, responsável por processar toneladas de detritos provenientes do Rio de Janeiro e de outros municípios próximos.

A dona de casa Adriana dos Santos da Silva mora com os três filhos – de 7, 10 e 14 anos – próximo do novo aterro e viu a saúde das crianças piorar desde o início dos trabalhos, há pouco mais de seis meses. “Nós queremos que interditem isso aqui, porque está afetando a saúde dos moradores, principalmente das crianças e das pessoas idosas. Meus filhos estão com problemas de saúde, com bronquite e sinusite e às vezes tenho de levá-los para o hospital. Eu mesma tenho tido crises constantes de bronquite e falta de ar.”

A vizinha Solange de Oliveira, mesmo morando a cerca de 100 metros do aterro, diz que não consegue evitar o fedor das piscinas de chorume, o que provoca mal estar. “O cheiro é intolerável. Invade nossas casas. Não adianta fechar portas e janelas. Na hora do almoço nem dá para comer, de tanto enjoo. Eu tenho estômago fraco e sei o que passo ”, disse. Ela se diz frustrada porque nem mais visitas pode receber em casa. “A gente fica com vergonha. A minha casa é limpa, mas o cheiro ninguém aguenta.”

Para o ajudante de caminhão Marco Antônio Patrocínio, a preocupação é com a infestação de moscas, que aumentaram de número desde o início do aterro. “As moscas pousam no chorume e depois vêm infectar as crianças.” A proliferação de insetos também incomoda Sonia Regina, que há 25 anos mora em Chaperó, mas agora tem dúvidas se vai continuar morando no local. “Depois que esse lixão veio, perdi o gosto de morar aqui. Era um bairro tranquilo, um paraíso. Não tenho mais vontade de ficar. Não dá para botar uma mesa no almoço de tanta mosca.”

O aposentado Guilherme Zanini escolheu Chaperó em busca de sossego, mas agora não sabe se vai permanecer no bairro. “Passei do paraíso para o inferno. Agora não sei o que fazer, se saio ou se fico. A gente não tem mais paz nem sossego. Vai deitar com o mau cheiro e levanta com dor de cabeça. Dependendo do vento, não consegue nem dormir”, disse Zanini, que construiu uma casa de dois andares, que antes tinha como vista verdes campos e agora fica a menos de 50 metros dos reservatórios de chorume do CTR.

Até para vender os imóveis ficou difícil, pois o bairro todo sofreu desvalorização, segundo o militar reformado José Reinaldo Evangelista. “Os imóveis estão desvalorizados. A gente bota placa e ninguém quer comprar. Em compensação, nosso IPTU [Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana] é altíssimo, porque consideram como área industrial. Paguei mais de R$ 1 mil para a prefeitura de Itaguaí este ano.”

De acordo com o líder comunitário Everaldo Eufrásio Francisco, mais de 10 mil pessoas estão sendo atingidas pela poluição. “A implantação desse lixão vem causando prejuízo para a nossa comunidade. Já é caso de saúde pública. Minha esposa é um exemplo, pois está sofrendo de bronquite asmática e constantemente vem apresentando dificuldades de respiração. O cheiro é insuportável e mesmo durante a madrugada impede o sono. Fora o barulho dos caminhões, durante toda a noite.”

Segundo Everaldo, o problema se agravou com as fortes chuvas que atingiram a região no início do ano. “Tivemos uma chuva forte que inundou parte dessa fazenda [onde está o CTR] e deve ter vazado esse chorume das piscinas para a rede pluvial. Nós queremos que esse lixão seja interditado. Sabemos que é uma luta grande, mas não é impossível.”

A empresa Ciclus foi procurada para comentar as denúncias dos moradores. Enviou uma nota, admitindo que as fortes chuvas podem ter elevado o odor: “A CTR Rio é a mais moderna Central de Tratamento de Resíduos da América Latina. Inaugurada em 2011, a unidade foi desenvolvida com a mais alta tecnologia em um processo de implantação gradativa, que segue o cronograma previsto. A empresa está sempre atenta a melhorias operacionais e está estudando alternativas para controlar ainda mais o odor provocado pelas fortes chuvas que vêm assolando a região neste início do ano”.

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