A médica Virgínia Soares de Souza, presa desde terça-feira pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), no Centro de Triagem, em Curitiba, protestou por meio de uma carta contra a forma como as investigações policiais estão sendo feitas.

O texto foi divulgado nesta sexta-feira pelo advogado de defesa Elias Mattar Assad. Virgínia era chefe da UTI do Hospital Evangélico, na capital paranaense, havia sete anos e está sendo investigada por homicídio qualificado, por supostamente ordenar a pessoas de sua equipe que desligassem os aparelhos de pacientes terminais.

Desde que o caso veio à tona no início desta semana, cerca de 50 denúncias contra a médica foram realizadas na Nucrisa, feitas por ex-companheiros de trabalho e familiares de antigos pacientes.

“O livre exercício da medicina está em risco no Brasil”, diz a médica na carta, sugerindo que, se os métodos usados pela polícia durante a investigação obtiverem sucesso, todas as mortes em UTI's podem gerar acusações de homicídio contra os médicos. No documento, ela alega e afirma que se trata do maior erro investigativo da história do Brasil.

“Da leitura atenta dos autos do inquérito, com meu advogado, não está provada sequer a existência do fato, quanto mais a materialidade de qualquer crime”.

O advogado ainda apresentou dois enfermeiros que trabalhavam com a médica. Segundo o Jornal Nacional, eles negaram que ela desse ordens para desligar aparelhos e provocar a morte de pacientes. O advogado deve entrar com um pedido de liberdade de Virgínia na segunda-feira, além de pedir a quebra do sigilo de justiça do processo, o que tem provocado o silêncio da polícia sobre as investigações.

Investigação — A denúncia que culminou com a prisão de Virgínia teve início no ano passado, conforme a queixa de uma pessoa que conhecia o trâmite na UTI. “A pessoa entrou em contato com a Ouvidoria, que nos repassou a denúncia e iniciamos a investigação”, disse a delegada Paula Brisola.

Nos últimos dias, vieram à tona depoimentos com acusações gravíssimas contra a médica. Na última quinta-feira, a família de uma ex-paciente que passou pela UTI do hospital em dezembro contou que ela escreveu um bilhete para a filha pedindo que a retirassem dali.

“Eu preciso sair daqui, pois tentaram hoje me matar desligando os aparelhos”, diz trecho do bilhete. A paciente estava entubada quando teria escutado alguém mandar desligar o aparelho.

O Hospital Evangélico confirmou a troca de 34 enfermeiros e 13 médicos do setor de UTI. Segundo o diretor-clínico Gilberto Pascolat, o objetivo da troca, que atende a um pedido da Secretaria Municipal de Saúde, é o de evitar pânico entre os familiares de pacientes. “É uma forma de dar mais tranquilidade às famílias”, disse.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) se manifestou por meio de nota e não descartou a cassação do exercício profissional da médica. “Se for confirmado o delito, o CRM-PR proporá a abertura de processo contra a médica denunciada, que ficará passível de receber penas que vão até a cassação do exercício profissional”, diz a nota.

(Com Estadão Conteúdo)