Lula diz em Corumbá que integração é “necessidade vital” para América Latina

O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou em Corumbá, na noite de ontem (12), que a integração entre os países latino-americanos não é opção dos governos, mas uma “necessidade de sobrevivência” para os povos desses países. De acordo com Lula, somente os países que formam o Mercosul, reúnem riquezas que tornam o […]

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O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou em Corumbá, na noite de ontem (12), que a integração entre os países latino-americanos não é opção dos governos, mas uma “necessidade de sobrevivência” para os povos desses países. De acordo com Lula, somente os países que formam o Mercosul, reúnem riquezas que tornam o bloco uma potência não apenas econômica, mas social e cultural.

Lula reforçou que unidos, esses países terão uma enorme força econômica. “O Mercosul tem 19,6% das reservas de petróleo do mundo, isso sem contar o pré-sal. Tem ainda 3,1% das reservas de gás natural, ainda sem a Bolívia”, detalhou durante a palestra para aproximadamente 1,5 mil pessoas no anfiteatro Salomão Baruki.

“Os países do Mercosul tem 12 milhões e 789 mil quilômetros quadrados, isso significa três vezes o território da União Europeia. Temos uma população conjunta de 275 milhões de habitantes e o PIB do Mercosul é de 3 trilhões e 500 bilhões de dólares e isso não é pouca coisa”, afirmou o ex-presidente ao justificar a necessidade de formação de um bloco que abranja todos os países da América Latina. “Não é possível querer ser grande, desenvolvido, se não elaborarmos políticas conjuntas com países da América do Sul e Latina”, afirmou.

Lula destacou que ao longo de seus oito anos no comando da Presidência da República trabalhou para fortalecer a América do Sul. “Trabalhei contra a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) porque as tratativas dos Estados Unidos não levavam em conta os países menores. Tentei ainda integrar com a África”, disse. A ALCA foi uma proposta feita pelos Estados Unidos, com o objetivo de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países americanos, exceto Cuba, formando assim uma área de livre comércio. A estratégia era de gradualmente suprimir as barreiras ao comércio entre os estados-membros, prevendo-se a isenção de tarifas alfandegárias para quase todos os itens de comércio entre os países associados.

Tem que ser cultural e social

Para o ex-presidente brasileiro, o caminho do desenvolvimento passa efetivamente pela união dos países. Essa aliança multilateral beneficiaria o povo de cada nação. “Integração é criar irmandade entre nós, não é usar a fronteira como um obstáculo. A integração deve ser feita por necessidade de sobrevivência do nosso povo e não por opção. Para mim, ela independe de mandato presidencial, é necessidade vital”, declarou ao afirmar que mesmo fora da Presidência da República, esse tema é defesa recorrente em suas viagens pelo Brasil e pelo mundo.

“A integração não é só fazer carreteras (estradas), pontes, hidrovias. Tem que ser cultural e social. O cidadão humilde tem que ser respeitado”, disse ao se referir ao projeto de criação da Universidade Federal do Pantanal (UFPAN) que foi entregue a ele pelo professor Edgar Aparecido da Costa, diretor do Campus do Pantanal, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). “A hora que a Dilma tomar conhecimento do desejo de fazer uma universidade aqui na fronteira que permita que mais bolivianos venham estudar no Brasil. (…) Por isso que tenho certeza que a hora que a presidenta conhecer essa ideia da universidade, ela está disposta a ajudar e contribuir”, enfatizou.

União dos países privilegia lado social, afirma ex-presidente

Ao destacar o papel do Brasil em liderar esse processo de integração, Lula justificou que o país precisa olhar para seu interior, para suas fronteiras e consequentemente para os países que o circundam na América do Sul. “Temos mais de 15 mil quilômetros de fronteiras, que em 500 anos foram tratadas de forma secundária. É mais que o dobro dos nossos 8 mil quilômetros de costa”, argumentou ao explicar a importância de contato mais intenso com países vizinhos. “Fomos educados para não dar importância aos países da América do Sul porque eram países pobres”.

Governando o Brasil entre 2003 e 2010, Lula observou que nesse período o país avançou bastante na interação com os países vizinhos, mas ainda falta muito para caminhar rumo ao pleno desenvolvimento. A burocracia emperra as ações, seja em qual país for. “Os polos gás-químico e minero-siderúrgico aqui em Corumbá não fizemos. Os presidentes [do Brasil e da Bolívia] desejavam, mas as coisas demoram mais que a gente imagina. Precisamos de um mecanismo entre países que façam tratados e acordos serem votados. Tem acordo de quando eu era presidente que não foi votado, tem do Fernando Henrique que até hoje não foi votado”, afirmou o ex-presidente numa referência ao trabalho do Congresso Nacional.

Num processo de formação de blocos entre países o lado social deve ser cuidado. “O povo, independente de governo, ele transita de um país para outro. O povo quer trabalhar num país e no outro. Temos que continuar trabalhando com as pessoas sobre a necessidade da integração. Por isso, que depois que deixei a Presidência, viajei para quase todos os países da América Latina e do Sul para não deixar apagar a chama da integração. É uma necessidade de fazer com que os pobres sejam menos pobres. É uma teoria simples, não há saída individual para nenhum país”, finalizou Lula na rápida declaração à imprensa, após o término da palestra.

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