Frigoríficos de MS não têm segurança contra vazamento de amônia, denuncia sindicato

Diversos “pequenos” acidentes ocorrem durante o expediente, mas seriam encobertos pelas empresas. Receio é que ocorra um vazamento de gás tóxico de grandes proporções

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Diversos “pequenos” acidentes ocorrem durante o expediente, mas seriam encobertos pelas empresas. Receio é que ocorra um vazamento de gás tóxico de grandes proporções

Os frigoríficos de Mato Grosso do Sul não estão cumprindo as regras de segurança contra vazamento de amônia, ou outros gases tóxicos. Segundo denúncia do sindicato dos trabalhadores do setor e de médico do trabalho, faltam equipamentos e treinamento nas indústrias regionais de carne.

Dois fatos são ressaltados por quem atua no setor: a falta de treinamento prático dos funcionários para o caso de evacuação em emergências, e a ausência de equipamentos apropriados para tentar conter um possível vazamento de amônia.

“Quem trabalha com gases tóxicos, como é o caso de frigoríficos, tem que seguir uma série de normas, reguladas por diversos órgãos, como a ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas)”, explicou Ronaldo de Souza, médico do trabalho, que atuou durante cinco anos no Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas do Rio de Janeiro.

Segundo Souza, dentre diversas regras, os frigoríficos devem realizar periodicamente uma simulação de emergência, para ensinar os trabalhadores o que fazer no caso de emergência.
“Trabalho há cinco anos em frigoríficos, sem contar outro ano aqui no sindicato, e só participei de uma simulação, que foi feita a pedido dos Bombeiros”, afirmou Mauro Silva Gotardo, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Indústria de Carnes e Derivados de Campo Grande, que representa aproximadamente quatro mil trabalhadores.

Para se ter uma ideia, apenas nas duas unidades do JBS na Capital, onde atuam cerca de 2,5 mil pessoas, são armazenados aproximadamente 60 mil litros de amônia.

Outros pontos de segurança são destacados pelo médico Ronaldo Souza, como a necessidade de equipamentos especiais, inclusive com máscaras de gás, para, no caso de vazamento, um profissional treinado possa fechar o registro do equipamento, contendo o vazamento.

“Mas não é só isso, também deve haver equipamentos especiais no transporte desses gases, com plataformas especiais de recebimento, além de uma série de normas. Mas não observo essas situações sendo cumpridas”, afirmou Souza.

A reportagem tentou contato, via telefone, com o Sicadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados), porém sem sucesso.

Não existe preparação

Para Rinaldo Salomão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos e Campo Grande, o maior problema é o preparo da mão de obra. “Em muitas indústrias equipamento até tem, o problema é o treinamento. Vemos um despreparo total das empresas nesse sentido”, comentou ele, que também é assessor sindical em nível estadual.

Rinaldo, que trabalha em um frigorífico, afirma que, na prática, também não existe roupas especiais para muitos trabalhos, como o manuseio de gases. “É assim, infelizmente”.

O receio da classe é que possa ocorrer um acidente de grandes proporções, como no caso do vazamento de um gás tóxico, conhecido como Cloramin, que intoxicou cerca de 50 pessoas e matou quatro no curtume do Frigorífico Marfrig, em Bataguassu, no início do ano passado.
“Sabemos de diversos pequenos acidentes que ocorrem, mas as empresas se negam a se posicionar sobre eles”, lamentou Mauro Gotardo, do Sindicato dos Trabalhadores em Indústria de Carnes e Derivados de Campo Grande.

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