‘Fomos surpreendidos por um grupo de criminosos’, diz coronel agredido

O coronel Reynaldo Rossi disse, em entrevista exclusiva ao Jornal Nacional na tarde deste sábado (26), que foi surpreendido por um “grupo de vândalos, de criminosos”, durante um tumulto na noite desta sexta-feira (25) no terminal de ônibus do Parque D. Pedro II, no Centro de São Paulo. Ele concedeu a entrevista depois de receber […]

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O coronel Reynaldo Rossi disse, em entrevista exclusiva ao Jornal Nacional na tarde deste sábado (26), que foi surpreendido por um “grupo de vândalos, de criminosos”, durante um tumulto na noite desta sexta-feira (25) no terminal de ônibus do Parque D. Pedro II, no Centro de São Paulo. Ele concedeu a entrevista depois de receber alta do Hospital das Clínicas, para onde foi levado após ser violentamente agredido por um grupo de manifestantes conhecidos como black blocs.

O oficial da Polícia Militar teve os dois omoplatas fraturados, um integralmente, outro parcialmente, teve lesões na perna, no abdome e duas na cabeça.

O coronel narrou o momento em que foi cercado pelos manifestantes. “Fomos surpreendidos por um grupo de vândalos, de criminosos. Eles passaram a agredir a mim e a meu policial. Me recordo que fui projetado ao solo a partir de uma pancada na cabeça que eu levei. Na segunda onda de agressões, eu já estava perdendo um pouco a lucidez”, declarou.

Apesar da violência com que atacado, ele afirmou que não chegou a temer pelo pior. “A Polícia Militar não teme pelo pior. Eu, assim como todos os meus 60 policiais feridos, a gente cumpre a nossa parte”, afirmou.

O coronel é conhecido por ser o negociador da Polícia Militar nas manifestações que acontecem na região central. Para ele, há uma minoria que não aceita negociar. “Eu presumo que existe uma minoria que não quer interlocução, não quer negociação. Mas existe, sim, uma maioria que em conjunto com a Polícia Militar poderia coibir a invasão desses criminosos nas manifestações legitimas”, disse.

O coronel afirmou que o sentimento é de dever cumprido, mas pede mudanças na legislação. “Estou me sentindo como todos os policiais que se feriram até hoje, sentimento de dever cumprido, mas com uma clareza muito grande que só uma mudança legislativa e um conjunto de ações que transcendam as ações de polícia vão poder resolver esse problema”, ressaltou.

Ele disse que foi atacado após tentar prender alguns vândalos que estavam depredando o patrimônio público. “Eu me dirigia para o Parque D. Pedro para tomar pé dos primeiros conflitos que foram gerados aí pelos criminosos. Nos deparamos com autores de danos de novos pontos de ônibus. Tentamos prendê-los. No momento que nós passávamos a conduzi-los, fomos surpreendidos por um grupo de vândalos, criminosos, que passaram a agredir a mim e a meu policial. Era uma moça que nos havíamos tentado prender”, recordou.

Mesmo ferido, ele procurou conter o ânimo dos seus comandados para preservar a integridade física das pessoas que transitavam pelo terminal de ônibus naquele momento. “Quando consegui chegar junto a policiais militares fardados, por cautela e formação profissional, pedi para alertar aos comandantes para continuar com a mesma estratégia operacional que havíamos adotado para aquela manifestação. Qual seja: garantir a ordem, preservar a integridade física das pessoas e que o fato de eu ter sido atingido nao deveria mudar essa orientação”, revelou.

Por ter sido atacado pelas costas, o coronel afirmou que não teve sequer chance de esboçar uma reação. “Não havia essa possibilidade. Primeiro porque fui atingido pelas costas. E segundo por minha intenção naquele momento de só manter a prisão daqueles indivíduos que tínhamos conseguido fazer. Apesar do porte da arma e, inclusive pelo meu policial, optamos por preservar terceiros e não efetuar disparos e, graças ao conjunto de ações, saí e permiti que as coisas continuassem a bom termo”, disse.

Para ele, a agressão sofrida foi um ataque ao estado democrático de direito. “Não é o homem que está send atingido ali, é o estado de direito. É o estado que está ali para inclusive garantir esse direito de livre manifestação”, destacou.

Suspeito

Um suspeito de participar da agressão ao coronel será transferido para o Centro de Detenção Provisória (CDP) do Belém, na Zona Leste de São Paulo, segundo o major Mauro Lopes, da sala de comunicação da PM. O comerciário Paulo Henrique Santiago dos Santos, de 22 anos, foi indiciado por tentativa de homicídio e associação criminosa.

Um vídeo veiculado no YouTube mostra a agressão sofrida pelo coronel. Intitulado “Coronel Da Policia Militar é Agredido em São Paulo 25/10/13”, é possível ver o coronel sendo cercado por um grupo. O comandante tenta se desvencilhar dos agressores e corre. Não é possível identificar o nome do autor da postagem no YouTube. O vídeo pode ser visto na íntegra ao lado.

O indiciamento do comerciário ocorreu no 1º Distrito Policial, na Sé. Um segundo suspeito de participar da agressão ao coronel prestou depoimento no 2º Distrito Policial, no Bom Retiro, mas acabou liberado porque a polícia considerou que não havia provas contra ele. O coronel Benedito Roberto Meira, comandante-geral da PM, havia informado nesta manhã que duas pessoas, entre elas Paulo, tinham sido presas em flagrante e indiciadas pela agressão.Não possível localizar o advogado do comerciário para comentar as acusações.

A Secretaria de Segurança Pública convocou neste sábado uma coletiva de imprensa com a presença de delegados de diferentes setores da Polícia Civil e com o representante da Polícia Militar para falar sobre o tumulto no Centro. “A polícia, a sociedade paulista, está cansada de ser prejudicada por uma minoria inconsequente”, afirmou o delegado Domingos de Paulo Neto, diretor da Delegacia da Capital (Decap).

No total, 92 pessoas foram detidas na região central de São Paulo, sendo que 69 delas foram encaminhadas ao 1º DP, seis para o 2º DP, 10 para o 8º DP, e outras sete para o 78º DP. Sete pessoas foram indiciadas por dano qualificado, formação de quadrilha e arremesso ou porte de material explosivo no 8º Distrito Policial, no Belém. Junto com eles, foram apreendidos outros três menores, que foram levados à Fundação Casa.

Todos os esforços dos mais diversos setores das polícias estão sendo no sentido de individualizar as condutas e criminalizar os responsáveis, segundo o delegado. “Além de criminalizados, eles têm de pagar pelos prejuízos, eles têm de restituir esse patrimônio”, completou. A maior dificuldade para a individualização, no entanto, é relacionada à identificação dos envolvidos em atos de vandalismos e agressões. “As prisões estão sendo efetuadas, mas o fato de estarem mascarados sempre dificulta esse reconhecimento.”

Desde o início das manifestações, em junho deste ano, ao menos 142 procedimentos investigativos foram abertos contra envolvidos em 10 atos realizados na capital, informou Domingos de Paulo. “Foram 36 prisões em flagrante, 26 termos circunstanciados de ocorrência e 80 boletins de ocorrência registrados”, disse o diretor do Decap.

A PM, por sua vez, prometeu uma “resposta muito forte” contra os grupos violentos. “Vamos imprimir uma energia muito forte, vamos dar uma resposta muito forte a esse bando de delinquente. A Polícia Militar tem o firme propósito de não ceder um milímetro”, declarou o major Mauro Lopes, da comunicação da PM.

Tumulto

O tumulto começou no início da noite, após uma passeata pacífica convocada pelo Movimento Passe Livre (MPL) que percorreu ruas da região central de São Paulo. Mascarados danificaram 15 caixas eletrônicos, colocaram fogo em um ônibus e destruíram os vidros de outro. Vários coletivos foram pichados e grades e bilheterias, quebradas. O terminal precisou ser fechado por causa da confusão.

A PM divulgou nota neste sábado para informar que foram quebrados: orelhões, extintores, catracas, 15 caixas eletrônicos, bilheterias, banheiros e quiosques. Mascarados roubaram cerca de R$ 1,5 mil de uma cabine do terminal.

Na região da Rua 25 de Março, portas de todas as lojas foram amassadas na Ladeira General Carneiro com a Praça Manoel da Nóbrega. Na loja Ibis, os vidros quebrados e paredes pichadas. Agências bancárias, como Santander, HSBC, Bradesco, Itaú e Safra, além da Defensoria Pública e Edifício Cidades também tiveram os vidros quebrados.

Na Rua Álvares Penteado, foram quebrados os vidros da Subprefeitura Sé e do Magazine Luiza. Na Rua Rangel Pestana, o banco Santander também teve os vidros quebrados. A AES Eletropaulo, na Rua Tabatinguera, foi pichada. Diversas lixeiras e orelhões foram destruídos.

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