Facebook é usado para pôr fogo em ônibus

No mundo do crime, aquele que falava demais era chamado pejorativamente de “guela” ou de “cagueta”, defeito considerado imperdoável entre quem circula em um ambiente onde discrição é sinônimo de sobrevivência. Só que, em tempos de Facebook, a lei do silêncio perdeu a força e os criminosos já combinam até incêndios em ônibus pela rede […]

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No mundo do crime, aquele que falava demais era chamado pejorativamente de “guela” ou de “cagueta”, defeito considerado imperdoável entre quem circula em um ambiente onde discrição é sinônimo de sobrevivência. Só que, em tempos de Facebook, a lei do silêncio perdeu a força e os criminosos já combinam até incêndios em ônibus pela rede social. Foi o que ocorreu no fim de semana passado, quando cinco ônibus foram incendiados e depredados na madrugada de domingo nas ruas do Jardim Robru, na zona leste. Nos debates do Facebook, todas as nuances da história ficaram mais claras.

Um jovem com mais de 500 amigos na rede, morador do bairro e apelidado de Robinwood, foi morto por policiais militares na madrugada de sábado, segundo os debatedores.

Apesar do apelido e de afirmar que trabalhava nas “faculdades criminosas”, Robinwood era um jovem bastante popular na rede. Vaidoso, vestia roupas de marcas caras e era bastante cobiçado pelas mulheres que o seguiam. Mesmo mantendo o estilo de “vida loka” nas redes sociais, combinava em sua página idas à igreja com os amigos. “Já fui ontem. Vamo ae, poow.”

Depois do entrevero com a PM, a agonia do jovem no hospital passou a ser relatada pelos amigos em tempo real durante o sábado. E a revolta veio à tona com a notícia de que Robinwood estava morto. Assim como os flashmobs dos jovens de classe média (os movimentos relâmpagos), a internet foi apenas uma ferramenta para combinar o local dos protestos e da ação. Que ocorreram na rua. “Queima buzão… Fogo na Penha… Destrói a Tiradentes… A Nazaré parou”, convoca uma dos amigos do morto. Um colega responde: “Já fizemos parça (parceiro) o Penha queimado e o Tiradentes destruído”. Até que, finalmente, um jovem com um pouco mais de bom senso chama a conversa para um chat privado.

A truculência policial passou a fazer parte do debate. “A quebrada tá moiada dos malditos. Que Deus nos proteja desses vermes”. Além de jovens que se dizem das “faculdades criminosas”, outro debatedor afirmava abertamente trabalhar como “157” (roubo) na empresa “profissão perigo”.

Mãe. A mãe de um dos garotos que liderava o movimento se intromete no debate, dando uma bronca nos jovens que falavam mal da polícia. “Filho, eu já te falei. Eles não são malditos. Estão fazendo o trabalho deles. Vocês jovens precisam parar com isso. E pensem que as pessoas procuram às vezes a própria situação por achar que se pode tudo. Gente, nossos jovens estão se matando mais cedo por não escutarem os conselhos dos pais. Eles acham que a gente fala demais. Não é isso. A gente não quer que nossos meninos partam cedo.”

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