EUA têm registro de casamento gay de 1971

A Suprema Corte americana derrubou no final de junho a legislação que proibia o governo federal de reconhecer os matrimônios entre pessoas do mesmo sexo realizados nos Estados em que o casamento gay é permitido. Mas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é possível em alguns Estados americanos desde 2004 e, num caso ainda […]

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A Suprema Corte americana derrubou no final de junho a legislação que proibia o governo federal de reconhecer os matrimônios entre pessoas do mesmo sexo realizados nos Estados em que o casamento gay é permitido.

Mas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é possível em alguns Estados americanos desde 2004 e, num caso ainda mais inusitado, um casal gay conseguiu registrar o casamento há mais de 40 anos.

Em 1973, o ativista pelos direitos dos homossexuais Jack Baker contou em um programa de TV americano que era só uma questão de tempo para que o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse legalizado.

“Nós vamos ganhar essa batalha algum dia, se não agora, numa próxima vez”, disse.

Ele falava no influente programa de David Susskind, transmitido para todo o país, depois que ele e seu parceiro, Michael McConnell, conseguiram garantir o registro da própria união utilizando uma brecha na lei.

Para Baker, o casamento já era uma questão de direitos civis.

“Isso vai ao centro da discriminação, você não pode deixar pessoas que não são gays tratá-lo de uma forma diferente… você tem que dizer ‘eu pago impostos para apoiar este governo e ele tem que me me reconhecer como um cidadão”, afirmou.

Estereótipo e manobra

A imagem predominante dos homossexuais no início dos anos de 1970 era uma caricatura: homens de visual extravagante em bares gays, com um estilo de vida de intensa promiscuidade.

Ir a público para falar da própria sexualidade poderia custar a casa, o emprego e até mesmo a família.

Mas Baker e McConnell não se encaixavam nesse estereótipo. Os dois, na época com mais de 20 anos, tinham cabelos curtos e bem aparados, eram respectivamente um estudante de direito e um bibliotecário.

Eles estavam juntos há quatro anos quando fizeram o primeiro pedido por uma autorização de casamento, em 1970. O pedido foi rejeitado sob o argumento de que ambos eram homens.

Mas o casal decidiu lutar. Entraram com recursos até que o caso chegou à Suprema Corte. Pela primeira vez, a mais alta instância do Judiciário foi chamada a dar um parecer sobre o casamento gay, mas recusou o caso alegando “ausência de uma questão substancialmente federal”.

Eles tentaram de novo, mas com uma nova tática: Baker mudou seu nome para “Pat Lyn”, que serve para os gêneros feminino e masculino.

A manobra deu certo. A autorização foi emitida, e o casal começou a planejar o casamento.

Mas, a apenas 24 horas da cerimônia, o pastor convidado para celebrá-la mudou de idéia.

Eles precisaram de um outro para ajudá-los, que já atuava em um centro de apoio e aconselhamento para gays em Minneapolis, a maior cidade do estado de Minnesota.

“Não foi apenas um casamento… foi um evento social da comunidade gay”, relembra o pastor da Igreja Metodista Roger Lynn, que celebrou a cerimônia em Minneapolis.

‘A coisa certa’

O casal tinha planos de filmar o casamento, para levar o caso ao conhecimento da imprensa nacional.

O pastor Lynn afirma ter abraçado a causa para conduzir o casamento. Naquele tempo, sua igreja não tinha regras contrárias ao casamento de pessoas do mesmo sexo.

“A Igreja Metodista sempre esteve à frente em questões sociais importantes… Eu esperava que o lado progressista da igreja me apoiasse”, disse.

A cerimônia aconteceu em uma antiga casa de arquitetura vitoriana, perto de um lago de Minneapolis.

“Tinha até mesmo um bolo, mas em vez da noiva e do noivo em cima, estavam os dois noivos”, conta Lynn.

Ele lembra ter chamado o casal de “marido e marido”.

Lynn afirmou que foi um momento emocionante, “particularmente quando eles se beijaram”.

Mesmo em seu trabalho no centro de aconselhamento gay ele nunca tinha visto dois homens se beijarem, o que lhe causou uma “reação visceral” durante a cerimônia.

“Foi assustador. Me obrigou a resolver a questão da minha própria homofobia”, disse.

No final da cerimônia, quando muitas pessoas da congregação vieram até o pastor chorando, ele disse que sabia ter feito a coisa certa.

Depois de celebrar o casamento de Baker and McConnell, o pastor Lynn viveu problemas no seu próprio casamento e dentro da igreja.

Sua esposa não gostou nada do fato dele ter realizado uma cerimônia gay e quando participaram de uma missa no domingo seguinte o pastor que celebrava disse ser contra o ato de Lynn.

Reação

Além da desaprovação de membros da própria Igreja Metodista, o pastor Lynn começou a receber cartas com mensagens de ódio e foi afastado da própria função.

Ele acabou conseguindo voltar a atuar como pastor depois de entrar com um recurso, mas seu casamento acabou.

O casal Jack Baker and Mike McConnell, ao contrário, recebeu diversas cartas de apoio de vários lugares do mundo, incluindo Brasil e Índia.

Baker e McConnell continuam juntos e morando em Minneapolis.

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