Diretora de escola de balé premiada trabalhava duro para pagar aulas quando criança

A diretora é dessas pessoas que não se entregam na primeira dificuldade. Mesmo se a vida lhe desse um não, ela dava um jeito de buscar o sim

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A diretora é dessas pessoas que não se entregam na primeira dificuldade. Mesmo se a vida lhe desse um não, ela dava um jeito de buscar o sim

A diretora da escola de balé Nossa Senhora Auxiliadora e Dom Bosco, Suzana Leite Dolabani Leite, é dessas pessoas que não se entrega na primeira dificuldade. A personalidade inquieta se manifestou desde cedo e mesmo menina se a vida lhe dissesse não, ela dava um jeito de falar sim. Com um problema no joelho, a corumbaense usava botas com hastes de ferro no meio do calor do pantanal. O calçado que servia como correção era motivo de piadas e perseguição na escola e a vontade de não usá-lo nunca mais era enorme.

Mas não tinha jeito, precisava das botas. Até que um dia um médico da Marinha disse que ela poderia sim abandonar os calçados incômodos desde que fizesse aulas de balé. A solução veio junto com um problema: falta de dinheiro. Filha de uma costureira com um trabalhador de fazenda, a família não tinha como gastar com as aulas de balé. Mas, Suzana deu um jeito.

Com apenas 9 anos ela foi até a escola de balé de Corumbá, a única que havia na cidade e se ofereceu para trabalhar para poder pagar a liberdade de tirar as botas. “Eu fui lá e me ofereci para trabalhar e pagar pelas aulas, a diretora ficou tão impressionada que não teve reação, ela deixou. Então, eu comecei a trabalhar com 9 anos e fazer o balé clássico. Eu lavava o banheiro, eu limpava os espelhos, eu recebia as crianças. Ai eu tinha minhas aulas gratuitas assim”, conta.

O início do fim das botas foi o começo de uma carreira sólida e premiada para ela. A dedicação às aulas logo teve reconhecimento, e aos 12 anos quando a professora titular da escola foi morar em Paris e deixou outras duas como responsáveis ela se tornou auxiliar de dança. De lá para cá não parou mais e se tornou uma das dançarinas mais influentes de Mato Grosso do Sul.

Ela conta com orgulho que do balé que ela comanda a cerca de 20 anos, o da Escola Auxiliadora, é o mais premiado do estado. “Nós começamos a competir desde 1992 e não paramos mais. Nunca ficamos sem premiação. Já fomos competir na Bolívia, no Paraguai, na Argentina, na Itália, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Goiás, em diversos lugares”, diz.

Muitas alunas dela foram fazer carreira fora, de cabeça lembra que têm bailarinas que iniciaram com aqui dançando no Bolshoi, no Japão, no teatro Colón na Argentina, na Ópera de Baden na Áustria, e outros lugares que não lhe vem à mente no momento.

Sobre o orgulho de ter alunas com tanto sucesso, diz: em qualquer lugar que você colocar uma escola e der uma abertura e tiver uma visão, mas não do empresário, mas uma visão humana você descobre talentos. Eu creio que só consegue ter essa visão se tiver um Deus, um alicerce cristão. Porque muitas vezes, as pessoas dizem eu acredito em Deus, mas não dão espaço para as pessoas carentes.

Por isso, conta que em seu balé tem várias alunas bolsistas, homem não paga, e até as internas do presídio feminino, onde ela faz trabalho voluntário, tem livre acesso à escola quando terminam de cumprir sua pena. “Faço trabalho voluntário no Irmã Irma Zorza e no Centro Social Dom Bosco, tem meninas do centro que já são profissionais. que dão aulas. Levei para minha academia e hoje já são profissionais”, finaliza, mostrando que todos precisam é de uma chance para crescer.

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