Caravanistas ganham até R$ 4.000 fornecendo “colegas” a programas de auditório

Às 8h de uma terça-feira, 200 mulheres já estão reunidas nos bastidores do estúdio três do Sistema Brasileiro de Televisão, em Osasco (SP), aguardando a gravação do “Programa Silvio Santos”. Em uma sala com diversas cadeiras, elas recebem lanches, broches com seus nomes, passam rapidamente pelas mãos dos cabeleireiros e maquiadores da emissora, fazem chapinha […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Às 8h de uma terça-feira, 200 mulheres já estão reunidas nos bastidores do estúdio três do Sistema Brasileiro de Televisão, em Osasco (SP), aguardando a gravação do “Programa Silvio Santos”. Em uma sala com diversas cadeiras, elas recebem lanches, broches com seus nomes, passam rapidamente pelas mãos dos cabeleireiros e maquiadores da emissora, fazem chapinha nos banheiros disponibilizados exclusivamente para elas e ouvem as dicas do diretor de auditório, o lendário Roque, que trabalha com Silvio há 52 anos, e sua equipe.”Nada de gritar ‘lindo’, ‘gostoso’, ‘tesão’ para o Silvio. Ele não gosta dessas coisas”, informa uma organizadora.

Ver um artista de perto sem ter que gastar muito, se divertir, desfilar sua melhor roupa ou até mesmo ganhar prêmios e dinheiro são alguns dos motivos que levam homens, mulheres, idosos e adolescentes a saírem de casa para acompanhar a gravação de um programa de TV.

A rotina dos caravanistas e das pessoas que acompanham cerca de 25 programas de auditório, no ar hoje na televisão brasileira, é puxada. É preciso ter disposição para ficar pelo menos oito horas dentro de um estúdio, sem almoço, em pé ou sentado por algumas horas, sem perder animação nos aplausos. Nas últimas semanas, o UOL acompanhou a ida de 20 grupos a programas televisivos e conta um pouco dos bastidores.

“Vocês ganharam lanches? Foram bem tratadas pela equipe do SBT?”, pergunta Roque à plateia. “Vocês precisam falar na vizinhança que o tratamento do SBT é o melhor do mundo”, completa o diretor, que com 58 anos de profissão, se considera o melhor animador de público do Brasil.

No ar desde a década de 1960, Silvio Santos tem ainda hoje o programa mais concorrido do SBT. Com cerca de mil mulheres na lista de espera e sem atrações musicais de peso, o próprio apresentador e seu dinheiro são os protagonistas de um show sem ensaio. Cerca de R$ 3.000 são distribuídos ao público durante as três horas e meia de gravação. “Vamos brincar com o auditório, improvisando, e o que for mais legal a gente coloca”, diz Silvio no ponto eletrônico para o diretor do programa, Fabiano Wicher.

Aos 82 anos, o dono do baú retribui o carinho dos fãs e faz questão de agradecer as caravanas, chamando cada uma pelo nome, perguntando se os banheiros estão bem cuidados, querendo saber quantos ônibus Roque enviou para cada bairro. “Vocês são muito gentis. Chamo de gentis porque deixaram outras diversões de lado para estarem aqui hoje, na televisão de vocês, que vocês ajudaram a construir”, diz ele antes de abrir sua atração com a clássica pergunta: “Quem quer dinheiro?”. Os aviõezinhos começam a voar e as mulheres se empolgam.

“O clima de alegria é sensacional, dá pra perceber que as pessoas se envolvem com tudo que acontece no palco. Ver o Silvio agradecendo a plateia, mostrando que você não é apenas um auditório, e sim, uma colega de trabalho, emociona. Ele conquista gerações e gerações. Minha avó era caravanista, minha mãe foi e eu frequento alguns programas”, conta a administradora de empresas, Mariana Gonçalves, 26, que aproveitou o período de férias no trabalho, para acompanhar uma gravação.

Silvio elogia a aparência, a roupa, o nome das convidadas, tira sarro, oferece aula de português quando “suas meninas” têm dificuldade para formar frases no “Jogo dos Pontinhos”. “Chapeuzinho vermelho”, “magrinha”, “gordinha”, são alguns dos adjetivos usados pelo apresentador. “Vem aqui, magrinha”, diz ele para uma mulher acima do peso. “Você está de congregação hoje?”, perguntou o apresentador, referindo-se ao vestido longo, tipicamente usado pelas fiéis da igreja protestante. Ela não se ofende, quer saber de brincar e ganhar dinheiro. Ri durante um certo minuto, emocionada por estar ali.

Semanalmente cerca de 2 mil pessoas passam pelos estúdios do SBT. Uma das recomendações das emissoras é que as convidadas estejam bem vestidas, maquiadas e tenham disposição para gritar.

“Nós que dependemos do público temos a obrigação de lhe darmos atenção”, afirma Roque. “O auditório é a alma do programa. É preciso deixar a plateia à vontade, para que ela se solte”, completou o animador de plateia da Record, Anderson Souza, de 26 anos.

Conteúdos relacionados