Tatuadores se organizam, investem em segurança e vão buscar regulamentação da atividade
“Um pacto com o próprio corpo”. É assim que Ronaldo Sampaio, um dos fundadores da Associação dos Tatuadores e Perfuradores do Brasil (ATPB) define a relação de quem fez tatuagem ou colocou um piercing no corpo. Ele foi um dos presentes no 2º Brasília Art Tatto, evento que termina neste domingo (16) e que, de […]
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“Um pacto com o próprio corpo”. É assim que Ronaldo Sampaio, um dos fundadores da Associação dos Tatuadores e Perfuradores do Brasil (ATPB) define a relação de quem fez tatuagem ou colocou um piercing no corpo. Ele foi um dos presentes no 2º Brasília Art Tatto, evento que termina neste domingo (16) e que, de acordo com a organização, reuniu, desde sexta-feira cerca mais de 10 mil pessoas no Centro de Convenções Ulisses Guimarães.
Em sua segunda edição, o Brasília Art Tatoo reúne amantes e profissionais de tatuagem e piercing de diversos cantos do pais para trocar experiências e apresentar as novidades do segmento. De acordo com Roberto Quindere, conhecido como Gibi, e um dos organizadores do evento, 50 expositores de diversas cidades do país, apresentaram seus trabalhos. Foram também realizados workshops e apresentados os mais recentes equipamentos usados no setor.
“Nosso objetivo é mostrar que os profissionais que trabalham neste ramo estão investindo muito em segurança. Queremos mais tranquilidade para as pessoas que querem fazer uma tatuagem ou colocar um piercing”, disse Gibi, que aplica piercings em Brasília há quase dez anos
De acordo com Gibi, os profissionais do ramo estão se organizando e investindo mais na qualidade dos equipamentos e nos procedimentos de aplicação. “A feira está apresentando a terceira tinta homologada pelo Ministério da Saúde para ser usada pelos profissionais de tatuagem. Assim, as pessoas saberão exatamente que tipo de produto estão usando”. O Ministério da Saúde reconhece apenas três tipos de tintas para o uso em tatuagens. A mais recente foi liberada no final do primeiro semestre.
Além das tintas, outro destaque da feira é o uso de biqueiras descartáveis. Biqueira é o equipamento ao qual se acopla uma agulha e que conduz a tinta até a pele. Até pouco tempo, o aço era o material mais usado. Após cada uso, o tatuador tinha que esterilizar o equipamento. “Agora existe uma biqueira descartável, que vem lacrada, o que dá mais segurança para o tatuador e para o cliente”, afirma João Bosco, representante de uma loja de materiais para tatuagem.
Ele revela também que o segmento já dispõe de cosméticos específicos para facilitar a cicatrização após o procedimento. “Antes, os profissionais indicavam pomadas de farmácia. O problema é que elas não foram feitas necessariamente para a cicatrização de tatuagens. Agora dispomos de cosméticos desenvolvidos para este fim, aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Outro ponto levantado pelos participantes da feira é a necessidade de organização dos tatuadores. Ronaldo Sampaio, da ATPB, diz que os profissionais do setor estão se organizando mais, inclusive para conseguir a regulamentação da atividade. Ele fala do
Projeto de Lei 2104/2007, que trata da regulamentação da atividade de dermopigmentação artística (tatuagem e perfuração corporal – piercing) e das condições de funcionamento dos estúdios para o exercício da tividade.
Com mais de 15 no ramo, Sampaio é um profissional reconhecido e respeitado pelo trabalho de organização da categoria. Ao falar sobre os passos que vêm sendo dados para a organização dos profissionais e melhorar as condições de saúde na atividade, ele destaca a parceria com o Ministério da Saúde, que lançou em agosto o concurso cultural Arte, Prevenção e Hepatites Virais para Tatuadores e Manicures. As inscrições podem ser feitas até o dia 20 de setembro.
“Tatuadores e manicures trabalham com instrumentos cortantes e acabam se submetendo a muitos riscos, inclusive a doenças como a hepatite. O concurso é uma forma de conscientizar mais as pessoas para a importância dos cuidados com a saúde, tanto do tatuador quanto do cliente”, afirma Sampaio. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 33 mil pessoas são infectadas anualmente no Brasil por hepatites virais.
Sobre a polêmica na abertura do evento, na qual a Vigilância Sanitária flagrou um profissional fazendo uma tatuagem sem os devidos procedimentos de segurança, a organização informou que foi uma conduta isolada e que não pode ser generalizada para os demais expositores. “Infelizmente tivemos entre os expositores uma pessoa sem profissionalismo e que não estava usando todos os equipamentos de segurança. A Vigilância Sanitária notificou o evento e o profissional foi retirado. A própria Vigilância [Sanitária] reconheceu que foi um caso isolado”, informou Gibi, pela organização do evento.
Prática cada vez mais comum, sobretudo entre jovens, a aplicação de piercings e tatuagens requer atenção devido à possibilidade de se contrair doenças, como difteria, aids e hepatites de A a G. Por isso, é necessário procurar um profissional capacitado e que siga os procedimentos sanitários.
Tatuagens em adolescentes também geram polêmica. No Brasil, não há única legislação que discipline as atividades de tatuador e body piercing. Cada estado define os procedimentos necessários e disciplina inclusive a idade mínima para fazer o procedimento.
No Distrito Federal, a Lei 4.398, de 2009, institui normas para instalação e funcionamento de estabelecimentos que executam procedimentos inerentes à pratica de tatuagem e body piercing. Contudo, a lei não aborda a questão da idade. Em São Paulo, uma lei estadual de 1997 proíbe a tatuagem em menores de 18 anos, mesmo com a autorização dos pais.
Perguntados a este respeito, diversos tatuadores que participaram da feita em Brasília responderam que só fazem tatuagem em adolescentes com apresentação de autorização dos pais registrada em cartório.
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