Sindicato denuncia JBS e apela por operário que teve perna esmagada no frigorífico
Com lágrimas, Luiz Henrique relembra acidente que sofreu dentro de uma unidade do frigorífico em Campo Grande. Ele pede ajuda para alimentação e também, para a esposa que está grávida de oito meses
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Com lágrimas, Luiz Henrique relembra acidente que sofreu dentro de uma unidade do frigorífico em Campo Grande. Ele pede ajuda para alimentação e também, para a esposa que está grávida de oito meses
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Campo Grande denuncia que a unidade II do Frigorífico JBS está sendo negligente ao manter em funcionamento um equipamento onde o operário Luiz Henrique Anunciação Ribeiro, 30 anos, sofreu acidente e posteriormente teve que amputar uma das pernas. O presidente da instituição, Vilson Gimenes pede que autoridades fiscalizem a unidade o mais rápido possível.
Luiz Henrique era um dos responsáveis pela amarração para elevação mecânica dos bois que chegavam numa esteira para retirada do couro e vísceras, na unidade II do Frigorífico JBS, em Campo Grande. O 13 de fevereiro de 2012 ficou marcado na vida do rapaz por um acidente de trabalho que resultou na amputação de uma das pernas e quase dois meses de internação na Santa Casa.
O rapaz enumera uma série de ações que em sua opinião pioraram a situação no acidente e ainda diz estar abandonado pela empresa. Ele conta que os responsáveis pelo setor de segurança do frigorífico foram avisados oficialmente sobre o risco de acidente de trabalho na esteira, mas, segundo ele, nada foi feito. “A gente avisou que a canela de um boi ficou presa no vão aberto com a colocação de um ferro para dar mais tração na hora de levar o boi até aonde é amarrado, mas ninguém deu bola”, conta afirmando que os trabalhadores orientaram que o mais seguro seria colocar dois motores para ajudar na tração.
Luiz Henrique afirma que os amarradores, num total de quatro, precisavam pular sobre a esteira para dar mais tração e, assim, os bois chegarem até próximo das correntes para serem erguidos. Por minuto, aproximadamente cinco animais chegam para amarração. No momento que ele pulou acabou se desequilibrando e prendendo as pernas no vão aberto pela gambiarra.
“Na hora que eu vi minha perna presa já percebi que ia perdê-la. A dor foi tanta e horrível que depois de certo tempo fiquei amortecido. Não sentia mais nada. Minha sorte foi que um companheiro percebeu que eu caí e desligou a esteira bem rápido”, conta Luiz Henrique que atualmente faz uso de uma cadeira de rodas para se locomover enquanto permanece em internação domiciliar.
O trabalhador disse que mecânicos da unidade frigorífica foram acionados para desmontar o equipamento para retirada das suas pernas que estavam prensadas. A esquerda ficou moída e depois amputada no hospital. “Me colocaram numa ambulância da empresa e me trouxeram para um posto de saúde”, lembra.
Uma das maiores mágoas de Luiz Henrique é porque o pessoal que o transportou na ambulância do JBS disse que ele seria levado para a Santa Casa, mas levaram ao posto de saúde e depois foram embora sem esperar por notícias sobre seu estado de saúde. “Ainda pra completar, nem avisaram minha mãe que eu tinha sofrido o acidente. “Eu mesmo tive que ligar e avisar”, queixa-se.
Quando foi recebido pela equipe do posto de saúde foi percebida a gravidade do acidente e Luiz Henrique foi levado às pressas pelo Serviço Móvel de Urgência (Samu) para a Santa Casa. Dois dias depois sua perna esquerda foi amputada e retirado enxerto da direita para colocar nela. Foram cinco cirurgias, perda de aproximadamente 20 quilos e rotina de curativos três vezes por semana. Além disso, não conseguiu ainda autorização médica para voltar para casa em Terenos. Ele está com internação domiciliar na casa de parentes, na Vila Nasser.
Outra queixa de Luiz Henrique é que representantes do frigorífico não procuraram por ele pessoalmente ou ligaram. Inicialmente dois encarregados foram até a Santa Casa e conversaram com a mãe dele, Izabel Anunciação. A esposa do trabalhador, que está grávida de oito meses, nunca mais teve contato com ele porque além da gestação, precisa cuidar dos filhos do casal e enteados.
“Me sinto abandonado por eles (empresa). Nem sei como está minha família em Terenos. Acredito que meus companheiros estejam ajudando, mas não tenho certeza de nada”, diz o trabalhador com lágrimas no rosto. O único benefício, segundo a mãe de Luiz Henrique, que a empresa mantém é um sacolão antes dado como prêmio por assiduidade.
Dificuldades
Luiz Henrique e a mãe fazem um apelo por ajuda. Na casa de parentes, o rapaz precisa de uma alimentação diferenciada para ajudar em sua recuperação. A dieta que inclui carne em abundância, gelatina, frutas e legumes não está sendo cumprida por falta de recursos financeiros. “É difícil ficar na casa dos outros e não poder ajudar, ainda mais que minha refeição precisa ser rica em alimentos caros”, diz. Quem puder ajudá-lo pode entrar em contato com a redação do Midiamax: 3324-0082.
Sonho
O trabalhador, que já entendeu que de agora em diante vai conviver com limitações físicas, sonha, em breve, andar de muletas, as quais ele ainda não tem. Futuramente quer colocar perna mecânica. “Meu filho sempre foi muito bom. Como montador de móveis, sempre fez trabalhos gratuitos e achava bonito ganhar apenas o sorriso ou um convite pra tomar tereré depois.
Luiz Henrique foi periciado por médicos do INSS no dia 3 de abril, período que ainda estava internado na Santa Casa. A indicação é que receba benefício retroativo a 28 de fevereiro deste ano, já que os primeiros 15 dias é de responsabilidade da empresa. A indicação é que o benefício deva ser pago até 31 de março de 2013.
Denúncia grave
O mesmo equipamento do Frigorífico JBS II que resultou no acidente com o operário continua com o mesmo defeito, podendo fazer novas vítimas a qualquer momento, apesar das denúncias e reclamações dos funcionários do setor. Eles estão sendo obrigados a trabalhar na máquina que não foi consertada pela empresa, denuncia Vilson Gimenes Gregório, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins de Mato Grosso do Sul – FTIAA/MS e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Campo Grande – Stic/cg.
O sindicalista disse que recebeu há aproximadamente duas semanas inúmeras denúncias de operários do frigorífico denunciando o problema do equipamento que teria sofrido reparos impróprios, “do tipo gambiarra”, e que mesmo assim o equipamento não ficou seguro, podendo provocar novos acidentes a qualquer momento. “Não podemos permitir isso. Chamamos a atenção das autoridades constituídas, especialmente o Ministério Público do Trabalho e a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego para que efetuem as devidas fiscalizações ao frigorífico que deveria operar com maior segurança a seus funcionários. O que não está acontecendo”, criticou Gimenes Gregório.
Resposta do JBS
Por meio da assessoria de imprensa, que fica em São Paulo, o frigorífico se manifestou em relação caso de Luiz Henrique. Respondendo a questionamentos feitos pela reportagem, o JBS afirma que” a máquina onde ocorreu o acidente passou por vistorias, tanto por parte da equipe técnica da JBS quanto da pericial civil após o ocorrido e não foi identificado nenhum ponto fora do normal. Ela passou por manutenção de rotina e segue em operação sem qualquer tipo de problema.
Sobre o abandono por parte da empresa dito por Luiz Henrique, O JBS afirma que “Após o acidente a companhia prestou todo o acompanhamento e atendimento necessário. Durante os dias que se seguiram representantes da JBS estiveram quase que diariamente no hospital acompanhando o caso e prestando atendimento aos familiares do colaborador que o estavam acompanhando. Todos os procedimentos para acidentes como esse foram cumpridos e todas as medidas de apoio para ele e para a família foram prestadas.”
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