Sequência de trapalhadas marca sequestro de irmã de jogador Hulk

Um dia após o desfecho feliz do sequestro da irmã do jogador Hulk, Angélica Aparecida Vieira de Sousa, 22 anos, detalhes que surgem do caso indicam que o episódio em Campina Grande (Paraíba) foi marcado por várias trapalhadas por parte dos sequestradores, “apenas amadores”, segundo a polícia.

Angélica está bem e se recupera em sua casa. O atacante do Zenit teria conversado com ela por telefone – ele está na Rússia – após sua libertação. Dos quatro envolvidos, três estão presos e vão responder pelos crimes de formação de quadrilha e extorsão mediante sequestro. Um está foragido, o ex-candidato a vereador Rodolfo Bruno que concorreu com o nome de Rodolfo Sinfrônio (PSD), sem se eleger.

Segundo o delegado André Rabelo, da Polícia Civil responsável pelo caso, os dois amigos, Rodolfo e Élio Pereira da Silva – dono do restaurante onde Angélica estagiava como nutricionista – tramaram o crime motivados por dívidas. “Cada um devia mais de R$ 100 mil. Hélio porque o restaurante estava quebrado e Rodolfo por dívidas de campanha. Élio confessou que os dois, há um mês, discutiam o problema e brincaram que deviam roubar um banco. Justo nessa hora a vítima, Angélica, entrou no restaurante e um disse para o outro: ‘olha nosso banco aí’.”

O sequestro aconteceu por volta das 14 horas de segunda-feira. “Angélica já estava achando o comportamento de Élio esquisito, pedindo que ela o acompanhasse de carro sem explicar direito o que fariam. E depois a deixou sozinha”, disse Rabelo. Justamente nessa hora, ela foi capturada. A partir daí, os erros dos criminosos foram se acumulando. Élio comunicou o desaparecimento de Angélica, mas não esperava que fosse retido por tanto tempo pela polícia, para esclarecimentos, o que atrasou o plano dos sequestradores de pedirem o resgate de R$ 300 mil.

“Logo Angélica percebeu que a comida que estava recebendo era do restaurante que trabalhava, já que ela mesmo que havia criado o cardápio”, disse o delegado. Na noite de segunda-feira, Élio percebendo que a polícia não estava totalmente convencida de sua inocência, mandou um de seus cúmplices não fazer o contato com a família. “Ele mesmo Élio diria para a polícia que os criminosos haviam se comunicado com ele, o que pareceu mais suspeito”, disse o delegado.

“Nessa altura, Angélica estava começando a desenvolver a síndrome de Estocolmo – quando a vítima desenvolve simpatia por seus captores – e convenceu o criminoso que guardava seu cativeiro que ela poderia pagar os R$ 10 mil que ele ganharia pelo sequestro se ele a libertasse” – conta Rabelo. “E assim, na manhã de terça-feira, José Eliton de Melo Santos de 28 anos, a libertou. Eles combinaram que ele fingiria ser vigia de rua e havia descoberto o cativeiro.”

“Uma vez na rua, pegaram carona com um padre que passava de carro na hora. Desconfiamos quando ouvimos que o suposto vigia também havia pegado a carona e, pressionando um pouco Angélica, ela revelou que tentava proteger o sequestrador. Pouco depois, quando ele ligou, se passando por ‘vigia’ para cobrar os R$ 10 mil, um policial foi encontra-lo e o prendeu. Todo o plano foi então revelado”, conta o delegado.

Rabelo conta que o que espantou foi a frieza do dono do restaurante quando percebeu que fora descoberto. “Ele não se alterou. Disse apenas que não concordava com a atitude do cúmplice que libertou a vítima, a quem se referiu como c****.”

Segundo familiares, Angélica está se recuperando do episódio e evita falar à imprensa. O cunhado Charles da Silva disse que a família agora “vai tomar mais cuidado”, mas não chegaram a discutir medidas concretas, como contratar mais seguranças ou mesmo mudarem-se de Campina Grande . Ele disse que Hulk conversou na terça-feira pelo telefone com a irmã e se emocionou bastante.