Russos protestam contra presença da Otan na cidade natal de Lênin
Milhares de comunistas russos protestaram neste sábado pela presença da Otan em Ulianovsk, a cidade natal de Lênin e que abrigará um centro de passagem de mercadorias para a retirada das tropas aliadas do Afeganistão. “Consideramos o lugar de uma instalação da Otan no centro do país uma traição aos interesses nacionais”, afirmou o líder […]
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Milhares de comunistas russos protestaram neste sábado pela presença da Otan em Ulianovsk, a cidade natal de Lênin e que abrigará um centro de passagem de mercadorias para a retirada das tropas aliadas do Afeganistão.
“Consideramos o lugar de uma instalação da Otan no centro do país uma traição aos interesses nacionais”, afirmou o líder comunista russo, Gennady Ziuganov, durante um comício em Ulianovsk, que fica a cerca de 900 quilômetros a leste de Moscou.
Ziuganov falou para milhares de pessoas congregadas no centro da cidade, onde Vladimir Ilich Ulianov (depois Vladimir Ilitch Lenin) nasceu em 22 de abril de 1870 e que hoje possui diversos museus dedicados ao fundador do Estado soviético.
“As forças da Otan nunca e nem em nenhum lugar chegam só porque sim”, advertiu, em declaração reproduzida por agências russas. Os comunistas suspeitam que o ponto de passagem da Otan é o primeiro passo para a construção de bases militares aliadas em território russo, ao tempo que denunciam que as instalações poderiam servir para obter informação secreta e traficar drogas afegãs.
A este respeito, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, antecipou nesta semana que o aeroporto de Vostochni, um dos maiores do mundo e construído para receber até ônibus espaciais, começará a funcionar em breve, mas negou supostos planos sobre instalações militares da Otan em solo russo.
Além dos comunistas locais, chegaram também hoje a Ulianovsk representantes de grupos esquerdistas de Moscou e de outras cidades da Rússia, como o radical Frente de Esquerda, e generais da reserva do exército soviético.
Após o comício, milhares de pessoas que levaram cartazes com dizeres como “Não às botas da Otan em solo russo” ou “Otan, go home (vá para casa, em inglês” participaram de uma pacífica manifestação pela cidade.
“A Otan viola a soberania de nosso país. A Rússia sempre foi um Estado poderoso e respeitado. A nenhum dirigente russo tinha passado pela cabeça até agora, em mil anos de história, abrigar uma base militar inimiga”, disse hoje à Agência Efe Yevgueni Litiakov, um dos dirigentes comunistas na região de Ulianovsk.
Litiakov afirmou que muitos habitantes da cidade e não só os comunistas “estão indignados pelo comportamento cínico das autoridades, que tomaram a decisão às escondidas”.
O primeiro-ministro russo e presidente eleito, Vladimir Putin, “disse durante a campanha que é um patriota, mas não é verdade, já que não se importa com o que o povo pensa. Seu comportamento não foi honesto”, declarou Litiakov, coronel de contra-inteligência na reserva.
“É um plano criminoso. Se Putin permitir que a Aliança Atlântica tenha uma base em Ulianovsk, sua reputação ficará manchada para sempre. Ele quer humilhar as pessoas de esquerda e os veteranos”, acrescentou.
O comunista antecipou que os protestos contra o que ele chama de “base militar” prosseguirão até que o governo volte atrás em sua decisão. “Ulianovsk é a pátria de Lênin. Não aceitaremos o plano. Se o permitirmos, nos convenceríamos de que seria o primeiro passo para a construção de bases militares na Rússia. As potências ocidentais nunca saem voluntariamente de lugar algum”, acrescentou.
Litiakov ressaltou que “há muita gente disposta a deitar em ruas e estradas para evitar a chegada de mercadorias” à cidade, que é a ponte de comunicação aérea e terrestre que une a parte europeia da Rússia com a Sibéria e a Ásia Central.
Enquanto isso, o prefeito de Ulianovsk, Sergei Morozov, exigiu hoje dos comunistas desculpas por terem o acusado de defender os interesses da Otan, e os criticou por “manipular as pessoas simples” ao alertar sobre uma suposta ameaça de ocupação da Rússia pelos aliados.
Recentemente, Putin defendeu abertamente durante um discurso na Duma (Câmara dos Deputados) a abertura do centro de passagem da Otan. “É preciso ajudá-los a solucionar o problema da estabilização no Afeganistão ou nós é que teremos que fazê-lo. Nossos interesses nacionais consistem em manter a estabilidade do Afeganistão (…), por isso garantiremos o trânsito”, afirmou.
Além disso, Putin negou que o centro aliado encubra na realidade uma base militar. “Posso garantir aos senhores que lá não haverá nenhuma base. Isso é, como dizem os militares, um ‘ponto de apoio’ para o tráfego aéreo de cargas militares”, afirmou.
Representantes do partido liberal Yabloko em Ulianovsk reconheceram à Agência Efe que a maioria da população local é contra a base, mas não porque se trate da cidade natal de Lênin, e sim pela desconfiança de que continua existindo entre os russos quanto às intenções do Ocidente e de seu bloco militar.
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