Radioterapia do HU pode funcionar só meio período, apesar de excelente

Informações oficiosas indicam que direção do HU não prevê atendimento total. Apesar de especialista qualificar a unidade como excelente.

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Informações oficiosas indicam que direção do HU não prevê atendimento total. Apesar de especialista qualificar a unidade como excelente.

Apesar do serviço de radioterapia do Hospital Universitário da UFMS voltar a funcionar, precariamente, com atendimento de apenas dois pacientes que têm um tipo de câncer mais leve, o aumento da oferta de tratamento na unidade pode não ser o esperado.

Depois de denúncia que chegou ao Midiamax, sobre o funcionamento parcial da radioterapia do HR, a reportagem esteve no local às 14.30h de hoje e comprovou que a unidade estava fechada. O motivo são as férias dos funcionários, segundo a assessoria da universidade.

Mas pela denúncia, depois que a unidade estiver funcionando no começo de fevereiro, o que deve prevalecer é o meio período de atendimento – só pela manhã.

Até 2008, quando a unidade parou de funcionar, os funcionários contratados por meio período tinham contrato expandido para o dia todo. Agora, não houve essa comunicação ao setor.

Além disso, a única médica especialista também trabalha em outro local.

Levando-se em consideração a capacidade de atendimento/dia de cada um dos três equipamentos instalados no HU, o mais potente, que aplica radiação de cobalto em tratamentos mais complexos, deixará de fazer até 350 atendimentos em pouco mais de um mês.

Por dia, o equipamento pode atender 20 pacientes, que dependem de algo em torno de 30 a 35 sessões seguidas (em dias úteis) para completar o tratamento. Depois seriam mais 20 pacientes, e assim por diante. Com meio dia de atendimento, dez pacientes ficam de fora a cada período, só nesse equipamento.

Os outros dois aparelhos, para tipos de câncer mais leve, têm capacidade de atender 10 pacientes/dia cada um, num ciclo de tratamento mais curto, que varia de uma semana a dez dias, intercalados.

A sub-utilização do HU se dá no universo em que só 33,9% da demanda por radioterapia do SUS são realizados no MS, segundo levantamento do Tribunal de Contas da União. O fato coloca o MS acima, apenas, do Distrito Federal, Amapá e Roraima.

Santa Casa tem convênio com clínica privada desde agosto

Em contrapartida às dificuldades do setor público em realizar radioterapia no estado, já que o HR não terá o tratamento, segundo expressou a secretária de Saúde, Beatriz Dobashi, as empresas privadas de saúde, com fins lucrativos, avançam sobre os atendimentos do SUS.

A Clínica Neorad, de propriedade do médico Adalberto Siufi, que também preside o Hospital do Câncer, acaba de fechar contrato com a Santa Casa de Campo Grande para fazer o tratamento. Siufi, professor da UFMS e dirigia a radioterapia do HU até seu fechamento.

Procurada pela reportagem com insistência, a diretoria da Santa Casa não informou o valor do contrato, nem sua duração, mas adiantou que o hospital já repassa atendimentos para a Neorad desde agosto de 2011, através de parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande – SESAU.

O contrato se deve às decisões da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) estadual, expressa na ata 187ª reunião, de 16 de abril de 2010.

Naquela reunião, decidiu-se que o governo Puccinelli deveria “apoiar financeiramente o Hospital Universitário/UFMS para o funcionamento pleno da Radioterapia”, o que de fato ocorreu, mas na forma lenta atual.

E “discutir na CIB a forma de contratação da Neorad, se esta for necessária mesmo com o funcionamento pleno dos dois serviços já mencionados (HU e HC), o que poderá ocorrer de forma isolada com recursos próprios estaduais e municipais ou ligada a Santa Casa de Campo Grande”.

Da lá para cá, foi que ocorreu: enquanto a radioterapia do HU patina e o HR não fornecerá o atendimento, justificasse a contratação das empresas privadas, que ocupam espaço dentro do SUS.

Especialista defende qualidade da radioterapia do HU 

Indagado pela reportagem sobre porque a Santa Casa não ter parceria com o setor de radioterapia do HU, sub-utilizado (deveria ter sido inaugurado em maio de 2011), uma representante do Conselho Municipal de Saúde, Cleonice Albres, afirmou que nas reuniões difundiu-se a informação que o equipamento de cobalto do HU não atende a todos os tipos de câncer                      ( unidade de telecobaltoterapia).

De fato, o aparelho da Neorad, em parte viabilizado financeiramente graças à parceria com o SUS, é um moderno acelerador linear, e o do HU, mais antigo, funciona com cobalto. 

Mas para um dos maiores especialistas em radioterapia do país, o médico Miguel Guizzard, ex-diretor do setor no Instituto Nacional do Câncer, a afirmação não tem o menor fundamento.

Guizzardi desmistificou a afirmação há três meses, quando esteve em Campo Grande, visitando o HU, em palestra para todos os secretários de Saúde do estado e autoridades da área, inclusive o Ministério Público Federal, que não quis falar do tema com a reportagem.

Hoje, o especialista afirmou à reportagem que conhece bem o equipamento de cobalto do HU porque o testou pessoalmente: “O aparelho é excelente, estável, totalmente recondicionado, com todo o cabeamento trocado, altamente aferido, isocentro perfeito, tem tecnologia de 3D, que facilita localização do tumor e o planejamento computadorizado em três dimensões da radioterapia, que é o essencial”.

Segundo o especialista, “todos os equipamentos de radioterapia que atendem ao SUS no MS estão em boas condições de operação.

“O do HU é perfeito para tratamento em câncer da cabeça, pescoço mama membros, tórax e outros órgãos do organismo”, garante. Para o médico, a maior potência do acelerador linear da Neorad contribui resolver para determinados casos, como tratamentos de pessoas extremamente obesas, e com menos efeitos colaterais.

Guizzardi ainda diz que a radioterapia do HU ainda poderia ajudar na formação de novos profissionais entre os estudantes que estão dentro da UFMS.

Guizzardi que é membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia, da Sociedade Brasileira de Radioterapia, da Sociedade Brasileira de Ginecologia Oncológica e da American Society for Therapeutic Radiology Oncology.

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