Psicóloga fala sobre a ação de pedófilos e dá dicas de como se prevenir junto aos filhos

A psicóloga Ludmila de Moura conversou com o Midiamax sobre os recentes casos de violência sexual contra crianças. Na entrevista, a psicóloga avalia que a conscientização sobre o assunto pode contribuir na detecção de possíveis aliciadores e o auxílio psicológico para o tratamento de molestadores. Ludmila aborda também o tema da castração química e a […]

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A psicóloga Ludmila de Moura conversou com o Midiamax sobre os recentes casos de violência sexual contra crianças. Na entrevista, a psicóloga avalia que a conscientização sobre o assunto pode contribuir na detecção de possíveis aliciadores e o auxílio psicológico para o tratamento de molestadores.

Ludmila aborda também o tema da castração química e a recomendação que os pais devem ter para evitar situações dentro de sua própria casa.

Midiamax: Os recentes casos de violência sexual contra crianças demonstram um aumento no número de casos ou a conscientização das pessoas a cerca do tema?

Ludmila Moura: Uma conscientização de que isso não é certo. As pessoas estão denunciando mais, com os vizinhos ajudando. Há um maior número de pessoas sabendo que isso é errado. Nesse sentido acredito que está havendo mais denúncias.

Talvez a gente também possa ver que uma parte da sociedade está ficando mais doente, no sentido de as pessoas estarem mais insatisfeitas. Nesse caso há uma contradição social, já que existe muita exposição sexual… Uma falsa sensação de liberdade sexual. As pessoas estão tendo muito mais estimulação da sexualidade, muito mais propaganda.

Isto está fazendo com que as pessoas fiquem mais frustradas não sabendo muito bem como lidar com toda essa informação levando as pessoas a adoecer. A gente considera o pedófilo como um doente.

As frustrações do dia a dia leva a buscar a satisfação na sexualidade, porém de uma forma perversa.

O pedófilo possui algum tipo de pré-disposição?

Ele já te uma pré-disposição. Trinta por cento dos pedófilos já foram abusados na infância. É como se ele aprendesse que a forma de se ter prazer sexual somente é possível através de contato com uma criança e outros que não sofreram abuso. Por isso entendemos que são pessoas que não amadureceram.

O outro lado é que ele se sente com poder, porque se relacionando com outra pessoa da mesma faixa etária, com a mesma maturidade, ele se sentiria mais ameaçado, no sentido até da potencia sexual pensando no caso masculino que é a maioria dos pedófilos. Com alguém da mesma faixa etária ele pode se sentir ameaçado com o risco de não ser potente, então procura a criança, pois ali ele tem certeza que é o dominador.

Recentemente a mídia tem repercutido vários casos de professoras que seduzem alunos. Apesar disto também ser pedofilia a sociedade não se incomoda tanto com a situação. Por quê?

Culturalmente o menino era iniciado por uma prostituta, pelas mulheres mais velhas… Neste sentido você pode observar uma aceitação maior sobre isso. Talvez por isso também, você veja menos denúncias, mas legalmente não tem diferença no sexo entre diferentes idades.

É um crime de abuso tanto quanto a relação no caso do homem.

Como deve ser a relação dos pais com seus filhos para que a família se precavenha de casos como o da criança de 4 abusada pelo padrasto?

Acho que os pais devem ter uma proximidade maior com seus filhos, mais horas de lazer… Criar um vínculo de confiança em que os filhos possam se abrir. Outro aspecto é o da informação sobre isso. Saber que realmente a sexualidade está aí presente o tempo todo e é comum a nossa sociedade.

Não se pode ver a sexualidade só entre o adulto e o adolescente. Na verdade nós nascemos com a sexualidade à flor da pele, nós temos um lado biológico que justifica a busca da sexualidade pela procriação. Então a criança já se masturba desde pequena. Os pais devem ir ensinando aonde podem tocar, onde não pode, quem pode tocar… Ensinar que somente a mãe pode tocar em certos lugares durante o banho por exemplo.

Entre os 3 e 5 anos ela já tem que ter essa noção de quem pode tocá-la e aonde. Os próprios pais têm que ensinar e mesmo a mãe, tem que observar o como o pai se aproxima dessa filha ou até mesmo de um filho. É confiar desconfiando.

Temos que estar atentos e acreditar na criança quando ela contar, pois ela dá sinais de que alguma coisa está errada e ela vai perceber que está errado quando o adulto fala para ela que tem que ser um segredo, que não é pra contar a ninguém.

Os pais devem orientar a criança antes de acontecer, explicar: olha se alguém chegar perto de você e quiser tocar nessas partes você conta pra mamãe; Se alguém vier dizendo que você tem que guardar um segredo, também conta pra mamãe.

Explicar também no sentido de não aceitar favores de outras pessoas.

Como perceber sinais de alguém da própria família?

Você pode observar olhares que o adulto dirige à criança. Você deve evitar que a criança fique estimulante sexualmente, por exemplo, a gente vê mães que vestem suas filhas de tiazinha. As vezes o erro vem da parte dos pais de estar estimulando a sexualidade precocemente. Temos certa inocência, certa confiança e acaba resultando em casos como este.

Qual a melhor forma de se dirigir a criança para que ela conte quando foi aliciada?

Criando um vínculo maior, um vínculo de confiança porque pode ser tanto alguém da família como um amigo. Você tem que ver bem onde vai deixar essa criança.

Sempre digo que preferia deixar meus filhos em uma escola, com muita gente olhando, do que deixar com uma babá sozinha. Esse tipo de aspecto de segurança é que se deve buscar. A gente como pai também deve perder essa inocência em achar que a criança não tem uma sexualidade neste sentido.

A relação afetiva entre a mãe e o violentador pode ser um problema para perceber a presença de um pedófilo dentro da própria casa?

Tem que ver primeiro a questão social. Se o homem cuida dos filhos em casa. Hoje em dia é comum o homem passar mais tempo em casa que a mulher dependendo do trabalho que faz. Tem que olhar e observar se a criança tem medo daquele adulto, não gostando de ficar sozinha com ele, por exemplo. E orientar, pois mesmo pequena a criança dá alguns sinais sobre mudanças no comportamento e a gente não quer ver porque faz a gente sofrer muito.

Como deve agir a família quando o pedófilo está dentro de casa?

A primeira coisa é proteger a criança. Em situação de dúvida, afasta a criança desse adulto e denuncia ao Conselho Tutelar.

É possível a criança se recuperar do trauma?

O trauma é relativo no seguinte sentido: se a gente ficar na cabeça dessa criança dizendo que ela nunca vai se recuperar, nunca vai ter sua sexualidade perfeita, a criança vai ter problema pelo resto da vida, pois vai crescer acreditando nisso. Agora, se a gente tornar a situação como uma coisa pontual… É uma dor, mas não vamos fazer disso um sofrimento. Tem a terapia, o tratamento.

Precisa ser trabalhado para que a criança possa ter a sua sexualidade normal. Outras pessoas que não passaram por isso têm problemas com a sua sexualidade, então não é isso que determina. Depende mais de como os adultos vão reagir do que tornar isso um trauma para o resto da vida.

É importante que a mãe passe pelo tratamento junto com a criança… ela se sente culpada de não ter acreditado ou de como não evitou, se sente responsável… até porque a justiça demora então é importante uma abordagem familiar.

A castração química seria uma saída viável?

Alguns estudos mostram que o adulto pedófilo não tem noção de que está fazendo mal pra criança. Ele acha que é um bem. Tanto que existem alguns países que já tratam da questão do controle químico, fazendo uso de medicação para diminuir o desejo sexual desses homens, porque nos casos dos pedófilos característicos, eles só vão sentir prazer com crianças.

Nesse caso ele não tem desejo por nada. Ele perde a libido. Porém esse assunto é polêmico no Brasil ainda a discussão está sendo iniciada.

A castração química no Brasil é permitida, mas alguns psiquiatras são a favor e outros não. Em alguns países você tem, além da prisão, a castração química. No Brasil alguns médicos podem estar prescrevendo. Nesse caso, o pedófilo recebe um tratamento medicamentoso além do psicológico.

A meu ver o pedófilo é alguém que não amadureceu. Tem que ver as causas que o levam a isso porque é um sofrimento para ele também. Às vezes ele resiste, ele tenta fugir disso, mas realmente não consegue, então em seu desenvolvimento ele teve alguma coisa que o levou ao problema.

Ele precisa de um acompanhamento psicológico para que aja um controle maior dos impulsos.

Então apenas a prisão não vai resolver o problema?

Infelizmente a prisão não vai resolver. A gente está tentando mudar o pensamento no sentindo de que essas pessoas também precisam de tratamento. Sempre se ouve: bota lá na prisão que ele vai ser estuprado, castigado, mas na verdade isso não previne. Então é preciso mudar essa postura e ver que essa pessoa é doente e que precisa de tratamento. Que ele tenha recursos, que tenha locais para ser tratado, até para que não faça pela primeira vez.

É possível que ele se reconheça um pedófilo antes de praticar o ato?

A pessoa pensa como uma fantasia e como não temos locais para que a população receba esclarecimentos sobre como procurar um tratamento, teremos muito menos essa prevenção.

É importante que aja essas denúncias e que os jornais noticiem, mas que realmente se olhe o pedófilo como uma vítima, porque a gente precisa ter mais profissionais em postos de saúde para prestar atendimento.

A estrutura atual é muito precária para essa área. Realmente não existe prevenção. A pessoa pode procurar uma terapia na rede pública, mas temos um número muito pequeno de profissionais atendendo.

O Capes Infantil, por exemplo, possui três ou quatro psicólogos para atender 400 alunos, é um número muito pequeno para necessidade de se trabalhar com a prevenção.

Com um monte de mulheres frutas é uma hipocrisia da nossa sociedade, acreditar que a sexualidade seja tratada desta forma. Você estimula um visual da sexualidade desde a criança assistindo novela em horários inadequados.

É uma incoerência, pois a sociedade está criando esses pedófilos e não dá assistência à doença.

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