Cão de guarda do Palácio do Planalto, o relator da CPI do Cachoeira, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), cumpriu à risca a missão de blindador oficial, ontem, durante reunião administrativa. A comissão aprovou a convocação de 51 pessoas, grande parte integrante da organização criminosa, e 36 quebras de sigilos fiscais, bancários e telefônicos. “Só pegou […]
Cão de guarda do Palácio do Planalto, o relator da CPI do Cachoeira, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), cumpriu à risca a missão de blindador oficial, ontem, durante reunião administrativa. A comissão aprovou a convocação de 51 pessoas, grande parte integrante da organização criminosa, e 36 quebras de sigilos fiscais, bancários e telefônicos. “Só pegou os bagres”, resumiu a senadora Kátia Abreu (PSD-TO).
Numa manobra visível para blindar o governo federal, que mantém contratos bilionários com a Delta em todo o Brasil, costurada por parlamentares do PT e do PMDB com votos de oposicionistas, o relator conseguiu, como queria desde a apresentação do plano de trabalho, restringir a investigação da construtora Delta apenas à Região Centro-Oeste. Mais: a comissão não convocou nem quebrou o sigilo do dono da empresa, Fernando Cavendish, flagrado numa das escutas telefônicas dizendo que compra um senador por R$ 6 milhões.
Num grande acordão partidário, também foram poupados os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz
(PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), além do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot. Todos esses requerimentos, considerados polêmicos, só vão ser apreciados na próxima reunião administrativa, marcada para 5 de junho. Mesmo assim, conforme o deputado Odair Cunha, as convocações podem mais uma vez não serem votadas.
A CPI aprovou apenas a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos últimos 10 anos das filiais da Delta em cinco unidades da Federação: Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. Em relação aos executivos da construtora, a comissão se restringiu a quebrar o sigilo do ex-diretor do Centro-Oeste Cláudio Abreu.
O argumento, bastante frágil e repetido inúmeras vezes pelo relator, era de que “ainda não há indícios que justifiquem a convocação ou a quebra de sigilo da Delta no país inteiro”. Ao fim da sessão, o senador Pedro Taques (PDT-MT) definiu o encontro: “Nós amarelamos”. O deputado pernambucano Sílvio Costa (PDT-PE) foi mais além e ironizou. “Vossa excelência não consegue convencer uma criança de 3 anos que essa Delta não tem que ter seu sigilo aberto em todo o país.”
Ex-mulher
Durante a sessão, os requerimentos foram votados em bloco. Odair Cunha defendeu, sob protestos, que a votação dos requerimentos relativos à quebra do sigilo da Delta em nível nacional e à convocação dos governadores seria adiada. Pela primeira vez, o relator deixou o estilo mineirinho de lado e falou alto. “Aqui existe um foco. Quem quer investigar tudo não quer investigar nada.”
Dentre os requerimentos de convocação aprovados estão o da ex-mulher do contraventor Andrea Aprígio; do ex-cunhado Adriano Aprígio; do sobrinho Leonardo de Almeida Ramos; do pai, Sebastião de Almeida Ramos; e do irmão Marcos Antônio de Almeida Ramos. Os integrantes aprovaram ainda as oitivas do procurador Benedito Torres, irmão do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), dos delegados da Polícia Federal Fernando Byron e Deuselino Valadares e do ex-chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro.
As 13 empresas listadas pela Polícia Federal como integrantes do esquema Cachoeira tiveram os sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados. Foi aprovado requerimento pedindo ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça que negocie acordos, com ajuda da Interpol, para viabilizar a identificação de contas bancárias e bens móveis e imóveis no exterior de propriedade de Cachoeira, Demóstenes Torres e outros integrantes do grupo.
De Vaccarezza para Cabral
Enquanto os parlamentares discutiam se iriam convocar os governadores, o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo no Congresso, mandou uma mensagem pelo celular ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. “A relação com o PMDB vai azedar na CPI, mas não se preocupe, você é ‘nosso’ e nós somos ‘teu’ (sic).” O flagrante foi registrado pela equipe de reportagem do Jornal do SBT.
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