Novo salário diminuirá inadimplência, mas há riscos de mais endividamento, alertam especialistas

O aumento de R$ 77 no salário mínimo (ganho real de 9,2%) deve levar muitos trabalhadores a colocar em dia as prestações, zerar empréstimos e recuperar o crédito. “Vou usar o aumento para pagar as contas, dívidas, é o que dá para fazer”, avalia a auxiliar administrativa Suziane da Silva, 23 anos, que no próximo […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

O aumento de R$ 77 no salário mínimo (ganho real de 9,2%) deve levar muitos trabalhadores a colocar em dia as prestações, zerar empréstimos e recuperar o crédito. “Vou usar o aumento para pagar as contas, dívidas, é o que dá para fazer”, avalia a auxiliar administrativa Suziane da Silva, 23 anos, que no próximo pagamento receberá R$ 622.

“Esse dinheiro só vai servir para uma coisa: pagar as contas que sempre ficam por ser quitadas no final do mês”, concorda a panfleteira Fabiana Aguiar, de 29 anos. “Vou usar esse dinheiro a mais para quitar as contas de casa e, se sobrar algum [dinheiro], vou tentar encher a geladeira”, confirma o ajudante Luís Carlos Pereira da Silva, 29 anos.

As decisões de Suziane, Fabiana e Luiz Carlos em pagar suas dívidas deverão favorecer a diminuição geral da inadimplência que em 2011 alcançou 7,3% dos empréstimos. Se o comportamento dos três for generalizado, haverá um grande benefício para a economia: cairão os juros ao consumidor, destacam especialistas.

De acordo com o economista Carlos Henrique de Almeida, da Serasa Experian, um terço do spread bancário é determinado pela inadimplência. Ele avalia que, com o pagamento das dívidas, haverá uma diminuição da pressão sobre os juros e em abril, um ambiente de taxas menores para o consumidor. “A visão do mercado é que a inadimplência já está chegando no topo”, pondera.

Ele não descarta, entretanto, a possibilidade do alto endividamento se perpetuar junto a consumidores de baixa renda. A preocupação é que “embora a inadimplência aconteça em todas as classes de renda, a classe mais baixa, que tomou mais crédito, é a que acaba tendo mais dificuldades para honrar suas dívidas”. Se o padrão for mantido, o mercado financeiro tende a cobrar “prêmio maior” (juros mais altos) em função de riscos maiores.

Para o especialista em educação financeira Álvaro Modernell, o aumento do mínimo deveria ser aproveitado para quitar dívidas e fazer poupança. Em sua opinião, falta orientação do governo nesse sentido e as pessoas deveriam ser estimuladas a poupar seis a dez meses por ano e, assim, “criar vacinas ao endividamento”. Ele avalia que a oferta de crédito dá poder de barganha, mas o dinheiro poupado favorece o consumidor na negociação. “Além das condições de pagamento, ele negocia preço”, salienta.

Na opinião do presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Jr., “quase 100% do aumento vai para o consumo”. Segundo ele, os consumidores de baixa renda “vão pagar uma continha que ficou para trás”, mas irão gastar o aumento no comércio – especialmente com alimentos, roupas, calçados e com bens duráveis (eletrodomésticos como geladeiras e móveis). Pellizzaro Jr. prevê que, no próximo mês, o consumo no varejo cresça entre 4% e 4,5%, incluindo os gastos com papelarias por causa do retorno às aulas, devido ao novo mínimo.

De acordo com dado divulgado hoje (3) pela Serasa Experian, jovens adultos das periferias e moradores da zona rural foram os segmentos da população cujas consultas ao sistema financeiro para tomada de empréstimo em 2011 mais cresceram (incremento de 3,3% e 3,1%, respectivamente). De cada 100 consultas sobre cadastro financeiro, cerca de 18 foram para jovens da periferia e cerca de 15 para pessoas da zona rural.

 

Conteúdos relacionados